segunda-feira, janeiro 05, 2009

SOBRE GUERRA




"A guerra é uma massacre entre gente que não se conhnece para proveito de gente que sim se conhecem mas não se massacram”. Paul Valéry

Para o Ocidental, a guerra converteu-se num fenómeno ambivalente, como indicou Freud em 1920 na obra “Além do princípio do prazer”. Introduzindo o conceito de instinto de morte, por analise das matanças nas lutas de gladiadores no Coliseu de Roma (cimeira da cultura ocidental) até às mortes pela Inquisição. Entretenimentos que, na actualidade, se prolongam no cinema e em filmes como : “Apocalipse Now” , “Day After” , “Independece Day”, e jogos de guerra de consolas.Em qualquer destas realidades lúdicas a guerra, a destruição, a violência e, a morte, estão sempre presentes. Levando-me a pensar na forma como tudo isto se consome, ser indicador de uma espécie de regresso simbólico à antiga violência circense.Na humanidade há uma produtiva cultura de terror desde Caim, e uma das teorias comuns sobre a aderência espontânea à violência, e aos espectáculos que cria, sugere que permite descarregar, de modo imaginário, as pulsações agressivas do indivíduo, provocando descargas libertadoras de adrenalina sem consequências negativas directas em terceiros, oferecendo até virtudes terapêuticas a pessoas com marcadas tendências agressivas (Stanley Milgram).Obviamente que, nem toda a gente partilha desta ideia e, mentes subversivas ou corrosivas como a minha dirão que as imagens da guerra, na televisão, são a forma actual de ensinar a geografia. Quem não sabe agora onde se situa o Iraque, o Ruanda, Mogadíscio ou a Tetchenia?Como espectáculo, a guerra provoca desesperos, dores, angústias, medos e mortes mas umas são as mortes autênticas e outras as de ficção. E há diferenças em ambas e realidades psicológicas distintas. Um espectador não se impressiona do mesmo modo frente ao “Apocalyps Now” que perante um documentário sobre atrocidades na Somália. E foi a presença reiterada da morte na televisão a cores que permitiu distinguir o sangue do barro. Uma particularidade que provocou o desassossego colectivo nos EU obrigando a retirada das tropas americanas do Vietname.A guerra do golfo, a primeira guerra da história a ser televisionada, foi asséptica pela censura militar contrastando com a hiper inflação mediática, porque foi extirpada do seu cenário o dramatismo da morte.Veja-se como nas imagens acima, mostram a suposta precisão cirúrgica das bombas inteligentes realçada em planos gerais afastados, pontos de vista aéreos, sem nunca descer ao terreno das vítimas ou mostrando os bombardeamentos nocturnos como velas acesas numa árvore de natal . Deste modo, as bombas podiam ser destrutivas, mas nunca assassinas.Este tipo de censura converteu a guerra em mais um espectáculo televisivo de efeitos visuais ao gosto dos que deliram com pirotecnia e efeitos das novas realidades virtuais, como as crianças. Infelizmente uma coisa é a realidade, outra muito distinta, a sua representação mediática. E no caso da visão electrónica como na escrita, ambas são oriundas de um centro difusor de imagens obediente a uma estratégia racional e esteticamente elaborada, com um sentido subjectivamente pré - determinado, ao contrário da visão naturalista que é subsidiária do real empírico.Este ardil está a moldar a espécie humana em dóceis e amestrados telespectadores, obedientes a um poder concentrado em círculos informativos cada vez mais restritos e com capacidade de configurar o real à medida dos seus interesses comunicacionais . É por isso que humanidade está a converter-se em espectáculo de si mesma. E a sua auto - alienação está a alcançar um ponto que lhe permite viver a sua própria destruição como gozo estético…será essa a finalidade?

8 comentários:

A. João Soares disse...

Caro António,
Pode não ser essa a intenção, mas o resultado será dramático. É uma pescadinha de rabo na boca. A humanidade está a avançar em espiral difícil de controlar. A ausência de valores está a envenenar os espíritos que, sob os efeitos da droga do espectáculo, em que a assistência também é actriz e se aplaude a si própria, e do culto ao dinheiro fácil e rápido, actua como uma droga sem antídoto.
Os dinossauros foram eliminados por um meteoro, mas a humanidade não espera por isso.
Abraço
João

Pata Negra disse...

Existe um certo magnetismo que seduz o mirone que enquanto exterioriza o lamento, orgulha-se de ser testemunho. Belo texto. Talvez acrescente que, aquém da guerra, existe a ideia que alguém tem o direito de tirar a vida seja a quem fôr e muito menos a desconhecidos.
Um abraço em tempo de guerra

São disse...

"Só os mortos conhecem o fim da guerra" - Platão.


Doces romãs neste Dia de REis.

Blas Jesús Sánchez González disse...

Ambas partes são responsáveis. Um terrorista não pode exiger responsabilidades a Israel. Mas o Estado d'Israel tampouco pode justificar a súa intervenção.

Salutacions des de Tarragona e obrigado por o teu comentário no meu blog.

Pastora disse...

Desde criança que me interrogo porque é que os homens aceitam a servidão de ser soldados da guerra. São eles quase sempre os primeiros a sofrer as suas consequências e, embora vulneráveis e mortais, continuam tão distraídos, tão absortos com o consumo que, como diz no seu artigo, já chegam a permitir ser consumo, do espectáculo de si próprios. Tal como se habituou a usar os objectos de consumo como descartáveis, parece que a humanidade (tenho esperança que não o seja para a maioria) se considera ela mesmo como descartável.
Não podemos fazer muito mais do que ir repetindo isto e este seu artigo muito faz por uma Humanidade mais humana e menos alienada.
Obrigada

Maria Celeste

Pastora disse...

Precisamos de estrelas para nos iluminar o caminho. Continue a ser estrela para os que estão na sombra e precisam de luz.

Um abraço

Pastora disse...

Uma achega já antiga para este seu artigo :
-“O que parece estar em jogo é uma redefinição da esfera pública como um palco em que dramas privados são encenados, publicamente expostos e publicamente assistidos” (BAUMAN, Z. Modernidade líquida.Trad. Plínio Dentzien. Rio de Janeiro:Jorge Zahar, 2001. p.83)

C Valente disse...

muito bem
Saudações amigas