sexta-feira, maio 22, 2009

ADVOGADOS E POLITICA II


À continuação, publico um extracto da entrevista do Dr. Marinho Pino, bastonário da ordem dos advogados, publicada no Jornal 24 horas do dia 18/5/2009


“ Um advogado não deve de ser deputado, porque quem faz as leis não deve estar a aplica-las no tribunal. Estão a fazer leis a favor de clientes meus? Pode haver a suspeita de haver leis feitas a favor dos meus clientes e não dos interesses do estado. (…)
São advogados que entram e saem do governo. Um escritório de advogados em Lisboa, por exemplo, tinha quatro membros no governo anterior a este e, pelo menos um deles, numa posição de ser a segunda ou a terceira figura. Tem de haver alguma moderação! Eu defendo as regras da sã concorrência entre sociedade de advogados, não é conseguir-se contratos através de tráfico de influencias entre sociedades de advogados, não é conseguir-se contratos através de tráfico de influencias subterrâneas, ocultas ou através de manobrismos na Assembleia da República feitos por deputados que são advogados. Sou abertamente contra isso. E isso incomoda muita gente cujos escritórios lucram com essa situação. Por isso estão contra mim.
(…) . É o novo estatuto que os preocupa e é por isso que me fazem esta guerra toda. Então quem está a aplicar leis nos tribunais e é pago por grupos económicos, às vezes poderosíssimos, deve estar a fazê-las no Parlamento em nome do Povo? Isto é elementar Sempre fui abertamente contra isso Os advogados não votaram na cor dos meus olhos, mas no programa que apresentei e estão lá estas coisas. (…) Não tenho medo de eleições. Fazem-me esta guerra toda por estar a tocar em interesses promíscuos, intocáveis até aqui. (…)
As situações estão aí toda a gente as vê fazem-se fortunas no exercício de funções publicas sem qualquer escrutínio por parte da opinião publica. Enriquece-se no parlamento e depois é tudo justificado com honorários de advogado! Estão praticamente a tempo inteiro no Parlamento e ao mesmo tempo a exercer a advocacia. Sejamos claros isto não está correcto.
(…) O dr. José Miguel Júdice pode dizer e pode acusar-me do que quiser. De uma coisa ele não me pode acusar: é de eu, como bastonário da ordem e advogado, ao mesmo tempo, andar a vender a querer vender submarinos ao governo. Sou bastonário e suspendi as minhas funções de advogado, e não estou a querer vender submarinos ou a fazer contratos com o governo em nome de interesses privados. Disso não me pode acusar. (…)
Fiz abertamente politica antes do 25 de Abril e por isso passei pelas cadeias. Não tenho feitio político. Uma pessoa que fala verdade não pode ser político de sucesso em Portugal. E Portugal, para se ter sucesso na política, tem de se mentir, ser actor, fazer encenações ter, uma agência que escolha a camisa, as gravatas e o pó de arroz… eu não tenho feitio para isso mas não abdico de intervir como cidadão”.


Hoje ningém parece ter dúvidas sobre a promiscuidade entre a política e o exercício da advocacia : ela é mais que evidente. Num momento em que a justiça portuguesa é apontada por todos, à excepção de certos interessados, como um dos problemas graves que a democracia portuguesa enferma, não seria de evitar advogados em eleição? Que buscam e que vêm trazer à democracia senão aquilo que toda a gente sabe e desconfia e o bastonário aponta ?

Sendo a justiça um dos pilares senão mesmo o garante da democracia a entrevista torna-se pertinente pela forma directa como o Dr. Marinho Pinho fala dos interesses instalados neste país, (designado por Ribeiro Sanches de “cavernoso” precisamente por casos de justiça) por esta corporação de profissionais que são os advogados. Nesta mesma entrevista o bastonários faz referências curiosas a José Miguel Júdice um advogado que hoje mesmo escreve um artigo no jornal Público, intitulado “O bastonário: ruído e falta de eco”…é de ler !

Não há muito, a OCDE publicou um relatório sobre profissões e nele informava que os advogados e a advogacia eram em conjunto, as profissões e profissionais mais mal considerados, seguidos de economistas, gestores e outros que não recordo. No grupo contrário, no das mais consideradas estavam médicos, professores, artistas, cientistas …

14 comentários:

a d´almeida nunes disse...

Caro amigo

Estou em palpos de aranha a contas com prazos inadiáveis para enviar declarações electrónicas a ver se o Estado arrecada mais alguma receita.
Não me parece que o vá conseguir, relativamente a 2008, pelo que me é dado analisar com os meus próprios olhos. Basta olhar para um mero Balancete do razão, como o meu amigo bem sabe.
O actual bastonário da Ordem dos Advogados, temos que admitir que é muito frontal. Demasiado frontal, dirão alguns.
De qualquer modo, parece que ninguém pode por em dúvida que o Poder Judicial não se deveria acumular com o Poder Legislativo.
É o País que temos...

Um abraço

Ema Pires disse...

Querido António,
A Justiça em Portugal é discutida ultimamentde na UE. Nao se pode entender como um país que faz parte da Uniao Europeia tem uma justiça digna de países ditos "bananeiros", onde nem se pode criticar o governo e os que governam (mal). Os portugueses nao merecem ter os governantes que têm.
Beijinhos

Beezzblogger disse...

Isto está tudo mal amigo António, e o Dr. Marinho Pinto, é um homem que sabe do que fala. No outro dia, a propósito deste crescendo de contestação a ele, um amigo meu dizia-me:
- Este gajo anda-se a armar aos cucos, ainda lhe tiram a tosse, mas também quem lhe manda falar assim? Eu acho que é mais uma maneira de se auto-promover...

E eu respondi-lhe:

- Achas que ganhas o suficiente para pagar um advogado, para te defender num processo qualquer? Tens a Justiça do lado dos mais desprotegidos? Tens um acesso fácil a ela? Consegues ver um destes fulanos granjolas qualquer a ir dentro, ou a provarem em tribunal a sua culpa?

E ele, atónito, diz:

- Não!?! Mas...

E eu, acabando a conversa, digo:

- É disso, em linhas gerais que fala o Dr. Marinho Pinto.

Abraços Amigo António.

Beezz

José Lopes disse...

O Marinho é um bocado desbocado, mas lá vai dizendo umas quantas verdades incómodas, que o diga o Júdice que vai dando umas voltas pelo poder judicial e pelo poder político, conforme lhe dá jeito, ainda que alguns digam que também terá proveito.
Cumps

Unknown disse...

Segundo Mariano Pinto numa entrevista à TSF (publicada no jornal Público de 23.05.09) afirmou que “alguns advogados ou alguns escritórios são quase especialistas em ajudar certos clientes a praticar determinado tipo de delitos, sobretudo na área do delito económico”
Em 2008, foram apresentadas 2744 queixas contra advogados dos quais resultaram 359 processos disciplinares traduzindo-se na aplicação de pequenas e desajustadas penas, que se podem traduzir numa frase “O crime compensa”.
Conheço bons e maus advogados assim como conheço bons e maus professores, médicos e por aí fora… As profissões que lidam directamente com assuntos de poder e sobre o poder são mais vulneráveis a situações de corrupção porque é disto que se trata, basta referir que a maioria das queixas apresentadas é na área do delito económico.
O problema não reside nos advogados, eles são um mero instrumento.
Em tempos passados matava-se o mensageiro quando trazia más notícias, será que hoje devemos matar uma classe?

António Vaz

Unknown disse...

Boa tarde,
Estou a ficar confuso…
Será que os advogados só têm a 4ª classe?
Será que os autores do crime de “colarinho branco” são analfabetos?
Conheço imensa gente sem a escolaridade obrigatória, em que um contrato para eles é a “palavra” e é assinado com um aperto de mão.
Ora esta escola, a da vida não pode ser confundida com índices de corrupção.
O saber é transversal. Há quem diga que também é preciso saber e poder para corromper, há até quem diga que as prisões são uma boa escola para o crime.
Poderíamos falar de cidadania que também se ensina.
Poderíamos falar sobre o saber, mas isto trata-se é de poder ou da falta dele, não porque tenhamos falta de saber, mas para disfarçar a nossa falta poder.

António Vaz

A. João Soares disse...

Caro António Delgado,
Portugal precisa de homens sem papas na língua, como este e como Medina Carreira. Os politicamente correctos amordaçados pelo Poder, acomodados e bem-dizentes não contribuem para as reformas indispensáveis para um Portugal digno dos nossos antepassados.
É preciso abanar os adormecidos para raciocinarem e procurarem as soluções que se impõem e não tenhamos receio de isto piorar com a mudança, porque já não é provável piorar.
Um abraço
João

Jorge Casal disse...

O Bastonário tem razão nas acusações que faz aos advogados da sua Ordem. Ele conhece-os melhor do que ninguém. A maioria é uma cáfila de vigaristas. Mas não está ele agora também a bater-se pelos favores de Sócrates? Concorreer com o Júdice em bajolar o Governo? Manuela Moura Guedes é dos poucos jornalistas que denuncia o caso Freeport. E não vai, agora, o bastonário dos advogados meter-se com ela? Que autoridade tem ele para se arvorar em campião da ética jornalistica? Os jornalistas têm o direito de opinião e de orientar as entrevistas para a sua opinião. Não são robôs de notícias. Quem não gostar mude de canal e veja a TV1 que não larga o Socrates e pandilha. O Bastonário está a tentar apoiar-se no Sócrates e nos traficantes do Governo. Os advogados são assim: com Deus ou com o Diabo (e como advogados do Diabo) conforme as fontes donde vem o dinheiro. Deve haver advogados honestos. Haverá muitos que defendem causas justas, como voluntários, dos sem-dinheiro, dos pobres, como antigamente? Penso que não são muitos.

ANTONIO DELGADO disse...

CAro As_Nunes,

Pois não mas a verdade é que acumula. sobre afrimasr é o "Pais que temos2, permita-me acrescentar o seguinte:

O Engº.José Ribeiro Vieira, no seu artigo desta semana no Jornal de Leiria intitulado "Porquê", aponta aspectos que nos podem ajudar a entender o modo de viver deste país onde a justiça também está englobada. Na minha óptica tudo se associa à educação e sobre ela o eng. José Ribeiro afirma no seu texto o seguinte: " há ainda em Portugal 60% de cidadãos com menos do 6º. ano de escolaridade e 42% de abandono escolar a partir do 9º.ano. E apenas 13% dos portugueses têm formação superior.
Dados estatísticos que revelam bem a nossa debilidade social e que traduzem a incapacidade consequente de não nos sabermos governar. E de nos deixarmos enganar e manipular pelos que mais dizem saber. Não somos nunca ricos por possuirmos carros, casas ou outros bem. A maior riqueza é o saber, (…) é esse saber que falta a um Portugal melhor." Em minha opinião devemos de considerar que nenhum diploma dá inteligência a quem quer que seja porque “ quem é estúpido e tira um curso superior fica superiormente estúpido e quem é inteligente e tira um curso superior fica superiormente inteligente e quem não é corrupto fica superiormente corrupto e por ai fora… Esta questão da seriedade, onde parece que “todos” ou quase todos, andam á procura de subsistência por vias menos sérias é um problema de mentalidades, e depois por simpatia um problema de educação em os graus académicos entram.
Um abraço
António Delgado

ANTONIO DELGADO disse...

Olá Ema,

Tenho acompanhado algumas noticias no estrangeiro sobre Portugal e não são nada animadoras como não é a imagem que têm do Durão Barroso por muito que isso custe a alguns, por serem verdadeiros portugueses e ficarem tristes em tudo o que possa não abonar o bom nome de Portugal e por consequencia os portugueses. Mas sei que há alguns para quem isto não interessa e não critiques muito este luso modo de estar senão ainda te sai alguma senhora desarranjada da cabeça, possivelmente a viver dos impostos de todos nós ou de outras coisas menos licitas e dizer-te que não vives em Portugal nem pagas os impostos cá, logo não podes opinar. Tem cuidado por este modo de pensar que supunha banido de Portugal à anos de luz, vai surgindo de forma residual e para pena minha em pessoas que suponha já terem deixado de ser boçalmente interesseiras e andarem ao fanico.

ANTONIO DELGADO disse...

amigo BEEZZ
pego nesta sua afirmação

"- Este gajo anda-se a armar aos cucos, ainda lhe tiram a tosse, mas também quem lhe manda falar assim? Eu acho que é mais uma maneira de se auto-promover..."
é muito provável que haja as duas coisa que refere, no entanto sei que em Portugal quem fala verdade desde logo chama a atenção e o Dr. Marinho Pinho tem esse estatuto. entre ter os focos da ribabalta porque diz verdades e promover-se poderá haver uma diferença muito grande.
No nosso país a corrupção não é só coisa de juízes ou advogados, parece que está na essência de cada português. Lembra-se há anos a bronca para os lados de Guimarães que atingia médicos pais e escola, devido a uns exames? Certos pais tinham pedido a médicos para passarem baixas aos seus filhos a fim de sabotarem uma escola em que os filhos andavam e tinham de fazer exames. Repare o exemplo dos pais dos médicos à sociedade e a aprendizagem que deram com tudo isto aos filhos...que se pode chamar a isto? alguém foi castigado? é assim que se constroi uma sociedade justa?
Infelizmente em todas as áreas é assim e se alguém ousa ser contra corrente obviamente que provoca angustias aqueles que se sentem atingidos pelas verdades: A reacção é manifestarem-se evidenciando aquilo que querem esconder.
Este espírito faz-me lembrar uma calhandra/calhandreira da minha terra que diz mal de tudo e de todos, leva daqui conta de acolá, mente e a todos engana. Não se sabe do que vive mas vai criando um certo ambiente de mal estar em relação a algumas pessoas menos avisados...são estas pessoas que vivem do imediato e sem projectos de vida que gangrenam a sociedade.

Um abraço

Pastora disse...

Este artigo faz todo o sentido, particularmente neste momento em que as ameaças chovem para calarem mais este homem. É por isso que é difícil conseguir um país melhor !

Pastora

west disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
west disse...

O Dr. Marinho Pinto pode ser um bocado desbocado (como alguém aqui diz) mas, é-o com toda a razão. É a sua muito peculiar maneira de se fazer ouvir. Até aqui se alguém politicamente correcto falasse, era de imediato abafado, quanto mais não fosse por ameaças. E foi o que tentaram fazer a este grande senhor que luta pela verdade. Só que desta vez não conseguiram. O Homem vale pelo que faz, pelo que diz e, nem jornalistas de meia tigela o intimidam – porque alguns destes, também são corruptos e com interesses, quanto mais não seja por pura amizade e oportunismo, tanto de promoções, como essencialmente de tachos a que ambicionam sem dúvida alguma. Não é só no patamar do direito, da bivalência desregrada que se sobe ao poder legislativo, no patamar informativo, o tal da má e tendenciosa desinformação, mais parecendo opinião que outra coisa, também ambiciona o poder. E desde ontem que não são só os tais quatro ou cinco advogados com outras ambições que lideram um suposto abaixo assinado para que o Dr. Marinho Pinto seja "empurrado" do cargo de bastonário, para o qual foi eleito democraticamente entre os seus pares, é também uma parte do jornalismo, afecto a uma tal Dr.ª da opinião e informação tendenciosa, que o vai tentar fazer ou pelo menos tentar ajudando quem com má intenção, a intenção do oportunismo, a intenção da ambição desmedida, onde o vale tudo porque "nós é que sabemos como se faz" as maroscas todas, por meios da difamação, da contra-informação e sei lá mais o quê, o vão tentar atirar dali para fora. Com homens como o Dr. Marinho Pinto, isto talvez um dia endireitasse, não fossem os outros quatro ou cinco ranhosos. Lembram-se como nasceu o caso freeport? Até pode existir um ou dois, ou três, quatro casos, mas nunca se pode partir da base anónima incentivada pela própria judiciária, políticos e jornalistas à mistura. Foi ele que teve a coragem de denunciar essas coisas todas, lembram-se? Eventualmente outros saberiam… mas, ninguém os tem no lugar quanto o Dr. Marinho Pinto.