tag:blogger.com,1999:blog-262555222024-03-14T04:24:45.635-11:00Alcobaça: Ecos e Comentáriosum espaço aberto para comentar a Arte, a Cultura e o Património da Região de Alcobaça: tanto no passado como no presente e actualidades .ANTONIO DELGADOhttp://www.blogger.com/profile/03040014273135959079noreply@blogger.comBlogger219125tag:blogger.com,1999:blog-26255522.post-84022869471061525132010-10-17T13:17:00.011-11:002010-10-19T06:37:56.510-11:00Duas Inglesas em Alcobaça: Ann Bridge e Susan Lowndes<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg56cJATjl2ArMPAOjMTKJGkEeF5xts5VtdHlm8u5fDPii-1VrtHESL9r0ltfqmS_bynwLiQnGQ8SqpeYJZ8aYTCTDfLmQ7MXjtTrwoqp7YkNNJ849na6Z0aHv9nSz8yzkIRVsWVw/s1600/3617115594_db85c13404%5B1%5D.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 258px; DISPLAY: block; HEIGHT: 400px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5529186624084456402" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg56cJATjl2ArMPAOjMTKJGkEeF5xts5VtdHlm8u5fDPii-1VrtHESL9r0ltfqmS_bynwLiQnGQ8SqpeYJZ8aYTCTDfLmQ7MXjtTrwoqp7YkNNJ849na6Z0aHv9nSz8yzkIRVsWVw/s400/3617115594_db85c13404%5B1%5D.jpg" /></a><br /><br /><div align="justify">Ann Bridge e Susan Lowndes foram duas inglesas que nos anos 40 do século passado viveram em Portugal. A primeira era esposa do embaixador da Grã – Bretanha em Portugal por essa altura. Dotada para a escrita, esta embaixatriz era ainda arqueólogo e botânica amadora. Ao chegar a Portugal na missão diplomática do seu marido, foi incumbida de criar uma guia de Portugal, na qual se empenhou com sua amiga Susan Lowdes, que viria a casar mais tarde com um Português (Luis Marques), jornalista de educação anglófona.<br />As duas escreveram a famosa guia com o título original de “ A Selective traveller in Portugal” , que em Português recebeu o nome de “ Duas inglesas em Portugal”.<br />Para escrever esta guia, quase em jeito das heroínas do filme Telma e Louisa, percorreram o país num pequeno carro "em busca de locais raramente visitados pelos estrangeiros, tomando notas, tirando fotografias, analisando e verificando o que outros antes delas já haviam escrito (…)". No capítulo referente à Estremadura, hoje supostamente região do Oeste, incluíram páginas com as suas impressões em Alcobaça mas sobretudo sobre Mosteiro. Impressões essas não muito diferentes daquelas que tem qualquer turista que visite o mosteiro ainda hoje.<br />A povoação, parece que nem a viram, porque pouco ou nada dizem dela.<br />Seria isso um reflexo da falta de atracção pelo lugar, que tal como hoje não cativa o forasteiro a ficar?<br />Ali não se encontra vida nem alegria, mas um grupo de casas abandonadas e outras muitas em ruina e um comércio reduzido à venda de miudezas e peças de cerâmica a retalho, e a meia dúzia de cafés que servem para as coscuvilhices entre vizinhos, coisa que já não se vê nas mais pacatas aldeias. </div><br /><br /><br /><div align="center"><strong><span style="font-size:180%;">Ann Bridge e Susan Lowndes em Alcobaça<br /></span></strong><br /><br /></div><div align="center"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 381px; DISPLAY: block; HEIGHT: 239px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5529180856661623890" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhe8i1RcLhK_yBEvOWVdCvV7CtdegPN67H5rNBJtj7kfakgK3wjlKqsjmx9sEhssvCBlqQ3dbmDSz5jbGfMY8aK8vPw8MCqJ8LBs5azrJXiiphLLjwEkh_KxFrdtzTuFCLAXQFJFQ/s400/capela.jpg" /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg29ta5yzVoUrB8l8dgOOcGaOm8NTRB2BqLiK4lD0i2BCmzhcIVj8DZ4FehwS4XmTi8XgIb4UHQpkMhxPOsnitLIbEk6iBaHt0F1aZKcUVijwZxPx4OePdAym0THbgilzjvH6blgA/s1600/3617115594_db85c13404%5B1%5D.jpg"></a><span style="font-size:85%;"> Capela do Desterro e o cemitério referido no livro. Postal de 1930<br /><br /><br /></span><div align="justify">O Mosteiro de Santa Maria, em Alcobaça (Hotel Bau), foi originalmente fundado por D. Afonso Henriques, em 1152, em agradecimento pela reconquista de Santarém aos muçulmanos. Foi uma fundação cisterciense e o plano é praticamente idéntico ao do Mosteiro de Clairvaux. Toda a igreja tem a mesma altura e é a maior do país. O interior é fabuloso, com duas longas linhas de colunas brancas agrupadas e imensamente altas, que se estendem na distancia; toda a talha rococó e estuque colocados sobre as colunas em 1770 por William Elsden, o arquitecto inglês que trabalhou para Pombal, foram retirados num restauro recente, pelo que, embora a beleza original do edifício tenha sido recuperada, a igreja parece ter perdido a sua vida. No transepto direito situa-se a famosa capela construída por D. Pedro I para o seu próprio túmulo gótico, esplendidamente decorado, e para o da sua amada, Inês de Castro. Em frente a esta capela, no mesmo transepto, pode ver-se um grupo extraordinariamente bonito, em terra­cota pintada, do século XVIII, sobre a morte de São Bernardo, ainda que tenha sido terrivelmente danificado pelos soldados de Napoleão. A maior parte dos monges em tamanho real que rodeiam o santo moribundo perderam as respecti­vas cabeças, mas os seus corpos são muito belos no pesar abatido que demonstram, e vários querubins com instrumentos musicais mantém os pequenos rostos gordos e tristes.<br />A abadia demonstra, tal como quase todas as igrejas exageradamente restau­radas, a extrema dificuldade em voltar a preencher os altares vazios. O altar-mor de Alcobaça possui um crucifixo muito bonito, mas ridículos candelabros moder­nos em ferro de cada lado, e o pequeno púlpito de madeira é ao mesmo tempo feio e miserável. Por trás do altar-mor existem varias capelas completamente isoladas, como as da Sé de Lisboa, e a Capela do Sagrado Sacramento fica escondida perto da sacristia, que foi construída por João de Castilho em 1519, recuperada após o terramoto de 1755, e que está agora a ser novamente restaurada. A esquerda da nave, urna porta conduz a um claustro no qual existe urna capela com urna requintada estatua policromática em pedra, do século XV, da Virgem com o Menino. Urna porta e escadaria conduzem até ao vasto dormitório, que tem urna grande quantidade de telas encostadas as paredes. Fora dos claustros há ainda um esplêndido refeitório com um púlpito para leitura e a grande cozinha que tanto impressionou Beckford, não muito diferente da cozinha de Sintra, com as pare­des revestidas de azulejos azul-claros que proporcionam um curioso efeito subaquático, ampliado pelo som da agua corrente que passa pelo tanque com peixes numa das extremidades. Ao centro, a grande lareira tem por cima urna enorme chaminé aberta que se ergue a toda a altura do edifício. A bonita sala do capítulo está agora rodeada por enormes estatuas coloridas em terracota de anjos e santos feitas pelos monges dos séculos XVII e XVIII e que costumavam estar nas capelas do transepto da Abadia. É de realçar um par de bonitos e jovens anjos assexua dos, curiosamente trajando saia franzida, com cabelos enfunados pelo vento e expressões muito doces.<br />A Sala dos Reis, á esquerda da entrada principal da igreja, é deveras curiosa, com as suas grandes estatuas em barro de reis portugueses vestidos com trajes do século XVIII. Em redor da sala, que, por ter sido toda caiada de branco, chega a ferir a vista, existe um friso de azulejos da fábrica do Juncal, do século XVIII, descrevendo a fundação do mosteiro, e um painel de azulejos manuscrito com a sua historia. Existe ainda uma enorme panela de sopa em bronze, de dimensões heróicas, que se diz ter sido levada pelos portugueses para a batalha de Aljubarrota, em 1385, quando a sopa dos soldados era feita nesta panela!<br />Urna das coisas que muitas pessoas acabam por não conhecer em Alcobaça e o pequeno cemitério no exterior da porta do vestíbulo que conduz da sacristia ao santuário. Neste jardim deserto ergue-se a graciosa e peculiarmente estilizada capela de Nossa Senhora do Desterro, do século XVIII, fastidiosamente atravancada no exterior com casas ou capelas funerárias; o muro do terraço sobre o qual. esta capela se ergue é decorado com alguns azulejos muito divertidos e muito pouco religiosos, de cenas de caça, inclusive urna de veados apanhados com lagos, e urna outra de um cavalheiro que foi obrigado a refugiar-se numa árvore por causa de um urso! Todo o local é extremamente silencioso e calmo: as rosas florescem, um ribeiro corre num canal de pedra debaixo do parapeito, e os habitan­tes de Alcobaça que vivem por trás do Mosteiro, para evitarem dar a volta ao enorme edifício e passar pela praça arborizada do mercado, no lado norte. Metem-se pelo jardim e seguem por um atalho através do vestíbulo e da nave, emergindo nos degraus abaixo da grande fachada rococó, no centro da qual se insere a entrada cisterciense de sete fiadas de pedra, como se fosse uma jóia arcaica no meio de uma massa rica.</div></div>ANTONIO DELGADOhttp://www.blogger.com/profile/03040014273135959079noreply@blogger.com10tag:blogger.com,1999:blog-26255522.post-9830629595882868002010-10-12T06:41:00.020-11:002010-10-12T09:11:45.220-11:00James Murphy e uma visita a Alcobaça.<div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgJ7DvnZy-dkN9hfMJBf42UiMgpZx6c8O1ifPTYQHvlwnwzVw2bdKaqkgiIPkwUF0teQ8gVvBbywWNODajA4mur2NbCXMlfhqnPzYkz-gDAIdNrCxRGpxAzig2eZ5QLVMjhDXTnpA/s1600/Murphy.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 351px; DISPLAY: block; HEIGHT: 450px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5527252172691289842" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgJ7DvnZy-dkN9hfMJBf42UiMgpZx6c8O1ifPTYQHvlwnwzVw2bdKaqkgiIPkwUF0teQ8gVvBbywWNODajA4mur2NbCXMlfhqnPzYkz-gDAIdNrCxRGpxAzig2eZ5QLVMjhDXTnpA/s400/Murphy.jpg" /></a> <div align="center"><div align="center"></div><span style="font-size:130%;">James Murphy </span></div><div align="center"><span style="font-size:85%;">Gravura feita a partir de uma pintura de <a href="http://www.tate.org.uk/servlet/ArtistWorks?cgroupid=999999961&artistid=490&page=1">Sir Martin Archer Shee</a>, </span><br /></div><div align="center"><span style="font-size:85%;">famoso pintor de retratos da aristocracia inglesa. </span><br /></div><br /><div align="justify">Como todos os estrangeiros que passaram por Alcobaça e escreveram as suas impressões do que viram, o arquitecto Murphy não foi excepção.<br />O interessante das descrições destes viajantes é a variedade de interesses que focam, bem como os pontos de vista onde centram os olhares.<br />No caso de Murphy é curioso ver como ele relata as práticas historiográficas portuguesas, que dá mostras conhecer, e que constata estruturarem-se em milagres para explicarem o real.<br />É o discurso religioso a contaminar o discurso histórico. Um discurso que em alguns meios académicos ainda subsiste.<br />Por graça, e com um british humor, contrapõe aquilo que é um facto: os nossos principais monumentos não surgiram de práticas devotas, mas de práticas comemorativos. Isto é: Os grandes monumentos portugueses ergueram-se exclusivamente para agradecimento e paga de promessas por benefícios recebidos ou solicitados ao divino.<br />Aconteceu com os mosteiros de Alcobaça, da Batalha, dos Jerónimos, o convento de Mafra, …<br /><br />Isto é curioso em termos de como se vive o catolicismo, e é de perguntar se a religião católica em Portugal, como fenómeno estruturante da espiritualidade Portuguesa, está assenta na devoção ou no interesse.<br />Como arquitecto, Murphy admirou-se com a grandeza do mosteiro de Alcobaça em termos de conjunto edificado, por contraste com outros monumentos portugueses. Mas não deixa de fazer reparos ao monumento, alguns até bem interessantes sobre erros técnicos e de interpretação em relação ao estilo em que o catalogavam. Chega a referir a não existência de elementos que possam estabelecer uma relação com o estilo gótico e recorre até à ideia da proporção das estruturas…<br />Sobre o interior relata-nos as suas apreciações estéticas e descreve algumas obras existentes. Estas apreciações são feitas em tom de reprovação, outras de forma mais neutral e outras com satisfação. Mas por elas sabemos terem existido pinturas de um tal Vasques, Josefa de Óbidos, um suposto quadro de Ticiano e retratos dos monarcas portugueses, desde a fundação de Portugal até ao período em que ele visitou o complexo monacal, executados por um tal Antino Amaral.<br />Desde a saída dos monges de Alcobaça até à actualidade, diversas são as obras literárias, algumas escritas de forma ligeira e outras por pessoas sem autoridade, que testemunham um espólio artístico que o mosteiro possuía, e das quais não tenho razão para duvidar. Mas em rigor não se sabe quantitativa e qualitativamente qual era. Nem mesmo se sabe o nome dos artistas com trabalhos representados. Apesar disto, creio haver relações dos bens de várias épocas e das encomendas de trabalhos a artistas, mas suponho que nada está estudado.<br />Proporcionalmente à falta de estudo, cresceram mitos que nunca foram destruídos sobre o edifício, os monges, a agricultura e a arte existente no mosteiro. Um desses mitos é o dos “Monges Barristas”, no entanto ninguém conhece o nome de algum deles. O mito dos “Monges Barristas” é uma ideia carente de fundamento, mas que deleita os rabiscadores de histórias do Mosteiro sobre os monges e a suposta agricultura monástica.<br />Impressiona o esforço com que impingem essa ideia delirante até à exaustão nos jornais locais, mas que em boa verdade só existe na fantasia deles. Esta fantasia já se transformou em patologia, e a patologia em sinónimo de aridez intelectual. Infelizmente é também com ela que se nutre a falta de “massa crítica” de que Alcobaça tanto carece, como alguém já afirmou… e tanta falta faz.<br />O relato de Murphy sobre Alcobaça tem cerca de 20 páginas. Fiz delas uma selecção, para dar continuidade aos textos de estrangeiros sobre o mosteiro e a terra… </div><div align="justify"></div><br /><br /><div align="center"><a href="http://www.archive.org/stream/travelsinportuga00murp#page/88/mode/2up"><span style="font-size:180%;">Real Mosteiro de Alcobaça</span></a> </div><div align="center">por James Murphy<br /></div></div><div align="center"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 509px; DISPLAY: block; HEIGHT: 342px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5527250991470130178" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj6_kzq26TiK9hyEzKr_n45ElbsTAUbwWbsZwVBkE2-FaZtDHF7PeGliGVjZFhfCog-pem5w5NqecOLKb8gW-BTUu86WLXh4-4mQkO29rR0Xebcf6oQEAoM15w36ztvMf4NU9kj-A/s400/alcobaca+Murphy.jpg" /> <span style="font-size:85%;">Vista de Alcobaça, inicio do século XIX</span></div><div align="center"><span style="font-size:85%;"><br /></span> </div><div align="justify">"Ergue-se o Real Mosteiro de Alcobaça numa bonita vila do mesmo nome, cerca de 15 léguas ao norte de Lisboa.<br />Está bem abrigada, especialmente para oeste, por terrenos elevados e que gradualmente vão subindo a urna altura considerável. Toda a região vizinha está bem cultivada e produz trigo e frutas de várias espécies.<br />Ao examinar a origem das edificações religiosas do século XII, ob­servamos que a maior parte delas provém da gratidão por diversos fa­vores recebidos nos campos de batalha ou ainda tendo em vista o resgate dos pecados do primeiro homem. Não é pois impropriamente que são chamados templos de gratidão e penitencia. Este magnífico monumento tem, indubitavelmente, a sua origem na primeira causa.<br />Foi fundado em 1170 por D. Afonso71 o primeiro rei de Portugal, depois da conquista de Santarém aos Mouros, no cumprimento do voto que fizera de perpetuar a memoria do feito com a fundação de um mosteiro72.<br />Faria73 relata que S. Bernardo (residente, nesse tempo, em Claraval, na França) sendo inspirado pelo piedoso desígnio do rei, enviou dois monges para principiar o mosteiro no próprio dia em que fora feito o voto.<br />Adiante observamos que o local originariamente escolhido não foi aquele em que esta construído. O plano tinha sido trabado para os alicerces serem abertos junto a estrada, mas um anjo veio uma noite afastá-los alguns pés para trás, para mais adequada situação. Este notável acontecimento está representado num grande painel que podemos admirar na galeria do Hospicio75.<br />O mesmo anjo teria feito uma louvável acção tornando extensiva a igreja paroquial a sua delicada emenda. Esta ergue-se no lado oposto ao mosteiro, a meio da estrada principal, numa situação mais indicada para um arco triunfal do que para um edifício de devoção.<br />Milagres deste calibre, tão raramente ocorridos em nossos dias, não eram, ao que parece, invulgares nestes tempos primitivos. Escritores idóneos afirmam-nos que quando Constantino-o-grande intentou trans­ferir a sede do Império para este, escolheu Calcedónia para capital. Quando os cabouqueiros começaram a abrir os alicerces, algumas águias, as antigás mensageiras de Júpiter, transportaram esses alicerces e deixaram-nos cair sobre Bizáncio. Perante isto o Imperador determinou que se construísse a nova cidade onde ela se encontra actualmente.<br />E muito lamentável que estes guardiões da arquitectura não tenham feito uma visita a Londres. Seriam poucos os londrinos que teriam pena de ouvir dizer que a igreja de S. Clemente, na Strand, havia sido con­templada com um desses milagres.<br />Mas voltando ao ponto: este mosteiro pode considerar-se como co-memorando três acontecimentos notáveis - a origem da monarquia por­tuguesa, a fundação da Ordem de S. Bernardo e a introdução de uma nova arquitectura no reino, a qual é chamada pelos nossos antiquários o "Moderno Gótico Normando".<br />A igreja é inteiramente construída neste estilo, excepto a frontaria de oeste, que é mais moderna que o restante e exibe como que urna selecção dos defeitos dos estilos Toscano e Gótico.<br />Ao entrar na igreja, pelo lado oeste, surpreende-nos a grandiosidade do efeito geral, peculiar aos interiores das igrejas góticas. Muito poucas, porém, a possuem em tão alto grau como esta. A perspectiva do limite este termina numa magnificente gloria colocada sobre o altar a urna distancia de 300 pés da entrada. Na aparência esta distancia figura como mais considerável pela pouca largura da nave e pela sucessão regular dos pilares, em número de 26, isto é: 13 de cada lado. Cada pilar dista do outro 17 pés e 3 polegadas, mas segundo as regras obser­vadas nos mais proporcionados edifícios góticos, esta distancia é um terço menor do que deveria ser.<br />A prolongação dos pilares está portanto defeituosa. As suas dimensões são maiores do que o arco requer. Sem dúvida, o arquitecto desconhecia a lei dos mínimos em construção, que a experiencia ou a ciência ensinaram aos seus sucessores nesta arte.<br />No conjunto existe urna diferença muito pequena entre a arquitectura desta construção e a chamada Normando Antigo ou Saxão, em que os arcos são pontiagudos em vez de semicirculares, como neste último estilo. Em muitos outros aspectos observamos as proporções defeituosas e as rudes esculturas das igrejas saxónicas. Os capitéis, principal­mente, são blocos quase lisos e as bases dos pilares têm poucos ornatos. Os flancos dos arcos e arquitraves das janelas precisavam daquela profundidade e agudeza para darem um aspecto delicado.<br />O limite este ou coro é de forma semicircular, a maneira das antigás igrejas, ou basílicas, as quais o abade Fleury supõe terem sido feitas desta forma, pelos cristãos, para imitarem, em parte, os tempos judai­cos onde o Sinedrim reunia.<br />O trabalho gótico, que primeiramente decorava o coro, está agora revestido de colunas gregas com todos os seus acessórios. Esta modificação foi feita há cerca de 18 anos por um escultor inglés chamado William Elsden, a pedido dos frades. Nada pode haver de mais desagradável para qualquer amador de antiguidades, ou mesmo para qualquer pessoa de menor gosto, do que este remendo em estilo grego na parte mais vistosa do monumento construído no simples estilo gótico.<br />Como a igreja de Alcobaça é, na Europa, um dos primeiros espécimes do Moderno Gótico Normando e talvez o mais magnífico do período longínquo em que foi fundada, muito nos aprazaria, se não fosse estranho ao nosso assunto, dar mais pormenorizados informes da sua arquitectura, ilustrando-os com gravuras. Poderíamos assim demonstrar que as conjecturas respeitantes a origem do estilo gótico não estão confirmadas neste edifício, porque nada encontramos, nem de longe, que possa ter semelhança com as âncoras ou ramagens da arquitectura Mourisca ou Sarracena, em que se supõe terem sido inspirados os arcos pontiagudos.<br />A frontaria oeste do mosteiro, incluindo a igreja, que se encontra ao centro, tem o comprimento de 620 pés, sendo a profundidade de 750. O espaço aqui compreendido é ocupado por dormitórios, galerias, claus­tros, etc. Um escritor português, falando da magnificência deste mos­teiro, diz que os seus claustros são cidades, a sua sacristia uma igreja e a igreja uma basílica.<br />Para melhor se conceber a ideia do que dizemos, vamos dar as dimensões dalguns compartimentos. A cozinha, por exemplo, tem o com­primento de cerca de 100 pés por 22 de largura e 63 de altura, desde o chão até á abobada. O fogão tem 28 pés de comprimento por 11 de largura e está colocado ao centro da casa, em vez de estar, como habitualmente incrustado na parede, tendo assim acesso por todos os lados. A chaminé forma uma pirâmide que se apoia sobre 8 colunas de ferro fundido. Uma corrente de agua, subterrânea, passa por entre o solo, inundando o pavimento quando se pretende lavá-lo.<br />Apesar das suas grandes dimensões, este compartimento nunca tem sequer, uma polegada desocupada, desde manhã até á noite, porque toda a industria do convento ali está concentrada. Os trabalhos são feitos sob a vigilância de um dos irmãos leigos.<br />O refeitório tem o comprimento de 92 pés por 68 de largura. Esta largura está dividida em três pórticos com duas series de colunas de pedra. As mesas estão colocadas nos dois extremos da parede. No topo, onde o prior toma o seu lugar, existem 2 grandes quadros: um repre­senta a última Ceia e o outro Cristo e os dois Discípulos de Emauz.<br />Não podemos deixar de mencionar a adega, por ser um dos mais valiosos compartimentos pertencentes ao mosteiro. Tem 40 grandes cas­cos que se calcula conterem perto de 700 pipas de vinho.<br />E digno de nota o facto de estes frades que se congregaram no pro­pósito manifesto de estudar tanto como de orar não possuírem uma biblioteca a não ser que mereça este nome o que não passa de um gabi­nete que escassamente contem tantos livros quantas são as pipas de vinho que existem na adega.<br /></div><div align="justify"></div><div align="justify">A ala noroeste do mosteiro está destinada 3. recepção dos visitantes e daí a designação de Hospício.<br />Toda a sua extensão, que é de 230 pés, está dividida em cómodos e magníficos aposentos. As antecâmaras têm boas pinturas sendo de men­cionar especialmente o Julgamento de Salomão e muitos retratos de papas e cardeais, muito bem executados por um artista português chamado Vasques. Entre estes últimos retratos encontrei um de S. Tomás de Cantuária.<br />Os aposentos reais estão decorados com os retratos dos soberanos de Portugal, desde a fundação da Monarquia até aos nossos dias. Ultimamente têm sido pintados por um português, chamado Antino Amaral. Lamento que o amor a verdade me não deixe dizer que estão bem feitos.<br />O pintor mostra ter um completo desconhecimento do valor da luz e das sombras e uma ideia imperfeita do que é desenho. Existe aqui um retrato pintado por uma senhora portuguesa chamada Josefa que vale toda a colecção.<br /></div><div align="justify"><br /></div><div align="justify">A serie de retratos mencionados está disposta pela seguinte sucessão cronológica: No compartimento a que chamam Sala do Trono, encontram-se va­rias estatuas dos reis de Portugal, feitas por um escultor de Paris, algumas colocadas em nichos e outras sobre pedestais com a altura de 8 a 9 pés. Não me lembro do nome do artista, nem nunca, talvez, ele tivesse sido incluído na lista dos verdadeiros imitadores da Natureza.<br />No terceiro dia da minha chegada aqui, fui conduzido por dois frades aos aposentos dos noviças.<br />Logo na galeria de entrada, encontrei urna quantidade deles, entre os 14 e os 18 anos de idade, alinhados como soldados. Conservavam-se numa atitude respeitosa, de olhos fixos no chão, enquanto o superior, designado por Padre-Mestre, eslava em frente deles, com um livro nas mãos. Não me surpreendeu verificar que a presença de um estranho os fizesse levantar a cabeça.<br />Na Capela dos Noviços existe uma das mais apreciáveis colecções de pintura do reino. Para não abusar da paciência dos frades apenas tive tempo para examinar algumas delas.<br />Representa um dos quadros uma pequena figura da Madona, que se supõe ter sido pintada por Ticiano e que é bem do seu estilo. O colorido é delicado e ainda que de urna leve pintura, tem um efeito grandioso e forte, pela maneira artística como são contrastadas as cores.<br />Os estranhos, segundo ouvi, são raramente autorizados a visitar os aposentos dos noviços; se não fosse isso teria feito o catálogo desta valiosíssima colecção.<br />Daí passei ao lado oposto, por um corredor, onde havia de cada lado uma ala de celas pertencentes aos noviços, que, de momento, estavam ausentes. As dimensões de cada uma não deviam ir além de 14 por 9 pés.<br />Quereria tê-las visitado, mas era o Superior que tinha as chaves. Em cada urna das portas havia urna abertura por onde pude observar numa das celas, um airoso moço de aspecto macerado e pálido, de uns 16 anos, que usava vestes longas e negras, em atitude de oração, com o rosário nas mãos e os olhos fixados num crucifixo. As paredes em redor estavam despidas de pinturas ou quaisquer outros ornamentos, pelo que a sua meditação não poderia ser distraída.</div><div align="justify"></div><div align="justify">A luz do dia entrava por uma pequena abertura situada junto ao tecto. Esta luz, coando-se apenas por um buraco, deixava cair do Sol poente os raios que incidiam sobre a sua tonsura, fazendo-a brilhar, enquanto tudo em redor mergulhava na sombra. Se Rafael tivesse desejado inspirar-se ali para a sua tela a "Súplica", não poderia ter encontrado melhor luz para tão belo efeito.<br />Sem intuito de me meter a apreciar a doutrina da Igreja no que se relaciona com a extinção ou regularização das paixões; observarei, no entanto, que, se a obediência e a solidão são das principais virtudes, grande deve ser a recompensa por estas provações.<br />Para que os frades nada mais tenham a desejar para o seu bem-estar, ou felicidade na vida monástica, estão dotados com um grande jardim, nas traseiras da igreja, plantado de árvores e arbustos e onde eles podem fazer agradáveis passeios. Ai se recreiam todas as tardes. A intervalos, existem caramanchões feitos entre o arvoredo, com bancos, onde os padres se abrigam do calor do Sol, a estudar ou a meditar. Ao centro deste jardim há um bonito lago oval, de 130 pés de diâmetro, com um obelisco ao centro.<br />Há vários ciprestes, ao fundo do jardim, cuja ramagem é engenhosamente trabalhada, representando figuras de homens, alguns caçando outros rezando. Usam umas largas tranças, outras cabeleiras. Esta espécie de estatuária, ainda que não classificada entre as belas-artes, aproxima-se mais da Natureza do que qualquer outra, porque estas figuras silvestres crescem na realidade, e são diariamente alimentadas pelo produto do solo. Têm o seu Inverno, Primavera e Outono e vivem e morrem como qualquer outro ser animado.<br />Contíguo ao jardim que venho mencionando, encontra-se uma coelheira pertencente ao Mosteiro e construída por forma que nunca havia visto.<br /></div><div align="justify">Tem 200 pés de comprimento, por 125 de largura. Cercada de pare­des com 16 pés de altura. O chão é pavimentado com grandes ladrilhos quadrados cujas juntas estão ligadas com cimento.<br />Há pequenos abrigos ao longo do muro, onde estão colocados potes de barro ovais, com 11 polegadas de altura e 9 de profundidade. Cada um destes potes tem na parte da frente urna espécie de tubo arredon­dado, por onde a coelha aqui gera e cria os seus filhos. Dentro da área da coelheira há também varias filas de potes colocados visivelmente a parte, para os machos. Estão calculados, ao todo, em 5 ou 6.000 os coelhos que ali vivem alimentados pelas plantas dos jardins vizinhos juntamente com as sobras do convento.<br />Os frades deste convento bem como os do Porto, de que já falámos, não devem andar a pé fora dos domínios do mosteiro. Quando têm de viajar, são transportados em carruagens ou em mulas. Tinham grande número destes animais nas cavalariças, parecendo preferi-los aos cavalos, talvez por humildade, porque Guevara diz-nos que até ao seu tempo era um desprestigio para um cavalheiro, em Espanha, cavalgar uma mula.<br />D. João II, tendo noticia que estava quase extinta a criação de cavalos em Portugal, tentou incrementá-la proibindo o uso das mulas, mas o clero recusou-se a cumprir estas ordens e apelou para a Justiça do papa.<br />Não querendo o rei entrar em pleito por tal motivo, emendou a ordenação e inseriu-lhe urna cláusula onde se permitia a todo o clero continuar a servir-se de mulas, mas proibiu, sob pena de morte, que fossem ferradas. Assim calou as objecções, e venceu o rei o seu propósito.<br />O leitor facilmente poderá conceber o grande rendimento que é preciso para conservar esta instituirão, onde há cerca de 300 pessoas, incluindo criados, vivendo esplendidamente.<br />Mas o régio fundador teve o cuidado de prever todas as contingências. No momento em que fez a promessa da sua construção, dotou-o com todas as terras e mar que se divisam do cume da montanha vizinha e que atinge um largo horizonte. O rendimento tirado desta vasta área de terreno torna Alcobaça uma das mais ricas é mais magníficas instituições do género, não somente em Portugal, mas em toda a Europa.<br />Muitos dos seus privilégios têm sido ultimamente restringidos; no entanto, é opinião de muita gente que ainda possuem muitos. Julga-se também que o rendimento é demasiado grande, partindo do princípio de que a riqueza incita mais a recreios do que a oração.<br />Devo dizer que a estadia aqui, de 3 semanas, pode mostrar-me que estas acusações não têm base; pelo contrario observei a maior temperança e decoro, ao mesmo tempo que a hospitalidade e o conforto espi­ritual prevalecia em tudo.<br /></div><div align="center"><br /></div><div align="justify">Cada frade conserva a sua categoria, de acordo com a prioridade ou eleição. Os frades mais novos são muito submissos aos superiores e to­dos devem obediência ao Abade-Geral, que tudo dirige como chefe. Este prelado só tem como superior o cardeal. Tem a categoria de bispo, é esmoler do rei e chefe de todos os mosteiros e conventos beneditinos em Portugal. E eleito por 3 anos. Esta é a segunda vez que o actual Geral está desempenhando este cargo.<br />Qualquer estranho que visite este convento pode estar certo de en­contrar urna recepção hospitaleira.<br />Muitos jovens desta província são mantidos e educados pelos frades.<br />As sobras do refeitório são distribuídas pelos pobres, além de que há refeições propositadamente preparadas para eles, 2 vezes por semana. Assim, centenas de indigentes são constantemente alimentados aos portões do convento e os seus rendeiros vivem, pelo que se vê, mais confortavelmente que os de qualquer outro reino.<br />Os que protestam contra a opulência destes monges fariam bem em indagar se entre nobres e plebeus de toda a Europa, possuindo rendimento igual ao deste mosteiro, há alguém que espalhe tantos benefícios sobre os seus semelhantes como os padres de Alcobaça.<br />Nos arquivos do mosteiro está guardado, entre os muitos utensílios do culto, um cálice de ouro, trabalho delicado e que tem excitado a curiosidade de muitos sábios e letrados.<br />Está cravejado de muitas pedras preciosas, de cores diversas e orna­mentado com vários grupos de lindas figuras em baixo-relevo, repre­sentando a Paixão de Cristo.<br />Os frades não estão satisfatoriamente informados acerca dele, nem os arquivos fazem menção da época em que foi feito, nem por quem. Na opinião de alguns, é atribuído ao rei D. Manuel, outros supõem que foi adquirido com as jóias de D. Inês de Castro, aqui sepultada; outros ainda calculam que foi comprado com o tesouro de diamantes e anéis que D. Afonso I legou ao mosteiro, por sua morte. </div><div align="justify"><br />....................................................... corte no texto......................................................................</div><div align="justify"><br /></div><div align="justify">Como era considerado um autor de apreciável mérito no seu tempo, talvez possa desculpar-se a forma como trata o assunto e quanto se alargou nas suas considerações.<br />"Vendo, pois, que uns hospedes olhavam com atenção para as letras do Cálice, perguntei aos Padres se se sabia a significação delas; responderam! que muitos especulativos e homens doutos haviam trabalhado para as explicar, mas que até aquele dia ninguém se arrojara a interpretação do literário enigma. Levado de curiosidade trasladei os misterio­sos caracteres, não com presunção de os decifrar, mas com atenção de ocupar no exame deles algumas horas que o ócio poderia usurpar na tranquilidade do meu retiro.<br />"Por urna parte se me afigurava que toda aquela metálica literatura poderia ser fantasia do artífice para dar tratos a engenhos curiosos. Por outra parte parecia-me injustiça cruel letras tão formosas sem alma e, no meio de tanto oiro, sem valor. Mas todas as vezes que me convidava o génio para a interpretado delas via-me mais embaraçado que os argonautas na conquista do Velo de Oiro, o qual (segundo a opinião de alguns químicos) também era enigma de letras de oiro... Nesta perplexidade, não tendo eu, como Jason, uma Medeia para condutora na empresa, entendi que so a arte cabalística me daria o fio preciso para me tirar deste labirinto.<br />"Cabala ou Kabbala, é palavra hebraica que significa Recepção; deriva--se da raiz Kibbel, que vale o mesmo que Entregou ou Ensinou. Da Cabala se verificam estas duas etimologias de Recepção e Entrega; porque como antigamente Cabala era ciência que se ensinava sem livros e sem escritos e só por secreta locução se comunicava ... Entre a Cabala dos antigos e moder­nos Hebreus vai grande diferencia. A Cabala dos antigos Hebreus era a soberana e misteriosa doutrina que Lhes fora comunicada por Moisés. Em confirmação desta verdade, diz Célio Rodigínio que no monte recebera Moisés duas leis, urna literal, que ele por mandado de Deus escrevera e fizera patente aos olhos do Povo; outra espiritual, que ele revelara a setenta dos anciãos e sábios daquela nação e sucessivamente a alguns outros, para que de pais para filhos se fossem com discreta suavidade propagando os mistérios daquela sublime doutrina, a qual se chamava Mercava, que quer dizer Ciência do Carro, cujo objecto era o mundo intelectual.</div><div align="center"><br /></div><div align="justify">"Com esta secreta comunicarão, foram os filhos herdando de seus pais os inestimáveis tesoiros de urna divina ciência; e não só os Hebreus mas também entre Caldeus, Petagóricos e Druidas (antigos filósofos da Gália) pelo espaço de muitos séculos sem escritos nem livros, se foram ocultamente insinuando nos ânimos humanos umas notícias que com vocábulo grego foram chamadas Agrafa e ainda hoje com sua noção originária conservam! o nome de Cabala; mas como com o tempo se perverte e deprava tudo, no entendimento dos doutores hebreus insensivelmente se foram apagando as luzes daquela tão misteriosa como oculta ciência e assim como a curiosidade intemperadas e mal regulada faz degenerar teólogos em heresiarcas, astrónomos em astrólogos judiciários, dialécticos em sofistas, filósofos naturais em alquimistas, etc., assim com o curioso excesso de licenciosas especulações se foram os doutores hebreus desfazendo em pomposas futilidades, a que eles chamam Alegorías, donde Lhes veio a eles o nome de Cabalistas Alegóricos ou Alegorizantes.<br />"Para estes Cabalistas acreditarem o inutilíssimo estudo de suas can­sadas alegorias, deram a entender aos seus sequazes que o sentido Ale­górico das Escrituras é muito superior ao literal; porquanto este é prático, está embarazado com circunstancias do lugar e do tempo; mas o sen­tido Alegórico (como especulativo) levanta a alma das matérias tempe­ráis e celestes, e eternos objectos, que como tais são imagens e espelhos da Divina imutabilidade. Finalmente, das Alegorias declinou a Cabala para a observação das letras, na qual depois de muito trabalho, entre muitos nadas, apenas se achara alguma substancia ou noticia digna de estudiosa curiosidade.<br />"Divide-se esta última Cabala em três. Gametria, Notárica e Ternura; a Cabala Gametria declara as palavras pelas transposições das letras; a Cabala Notárica, de cada letra faz urna palavra inteira, ou explica urna palavra por outra que contém o mesmo número; e Cabala Ternura, a que outros chamam Ziruph, consiste na troca das letras, que em certas combinações se fazem equivalentes a outras.<br />"Para o meu intento não podiam servir as duas últimas Cabalas, Notárica e Ternura, porque as letras do Cálice são muitas e ordinaria­mente as ditas duas Cabalas só se usam para encobrir o sentido de poucas letras, como constará dos exemplos que se seguem.</div><div align="center"><br /></div><div align="justify">Do segundo verso do salmo terceiro, aonde lemos Multi insurgunt adversum me escolhe a Cabala Notárica esta primeira palavra Multi, e adiando que na língua hebraica está escrita com R, B, I e M, depois de varias especulações assenta que os ditos quatro caracteres sao as letras iniciais dos nomes de quatro nações; de sorte que R, significa Romanos, B, Babilonios, I,Jonios id est Gregos, e M, Medos. Em poucas letras poderá esta Cabala Notárica ter algum uso; e achamos que dela se valeram os Romanos em epitáfios e outras inscrições; tanto assim que ainda hoje são célebres no Mundo as quatro letras S.PQ.R., cujo sentido (como todos sabem) era Senatus Populusque Romanus ... Pelas regras desta própria Cabala achou um curioso nas quatro letras do nome Adam as qua­tro letras iniciais das quatro partes do Mundo, na letra A, Anatoli, que em grego quer dizer Oriente; na letra D. Dysis, que quer dizer Ocidente; no segundo A, Arctos, que vale o mesmo que Norte; e na letra M, Mesembria, que vale como Sul ou Meio Dia; e assim com misteriosa brevidade o nome do primeiro monarca é urna cabalística indicação das quatro partes do seu Império.<br />"A esta Cabala Notárica se pode reduzir outro significado de letras, segundo o valor que elas têm nos outros alfabetos de diferentes idio­mas, particularmente naqueles em que cada letra é dicção inteira, como no alfabeto hebraico Aleph, Beth, Dalet, Ghimel, etc., como também no alfabeto grego, Alpha,, Vita, Gamma, Delta, em muitos outros idiomas se podem formar orações inteiras com duas ou três letras do seu alfabeto ... os Caldeus chamara ao^4, Elpha, os Siriacos, Olaph ouAlyn; os Árabes, Turcos e Persas dizem Aliph; os Egipcios Athomus; os Etíopes Alph; os Armenios, Aip; os Esclavões, Alemoxi, e assim sucessivamente ... Aluph v.g. ou Aleph, que é o A dos Hebreus, quer dizer príncipe, e por isso a escolheram para cabera do seu alfabeto e como princesa das suas letras ... o Alpha dos gregos, na linguagem dos Tísios, é o mesmo que Boi e como no tempo que lançava Cadmo os fundamentos de urna cidade na Beócia topou com boi, quis o dito Cadmo que o nome deste animal precedesse todas as demais letras, chamando ao Alpha, quanto mais que na estimação daqueles Povos pelas grandes utilidades da agricultura era o boi o príncipe dos animais do campo ...<br />"Na segunda Cabala, a que chamara Ternura ou Ziruph achei ainda menos de que aproveitar-me do que na primeira ... A Cabala a que os Hebreus chamam Gametria é uma transposição de letras da qual nascem palavras distintas e significativas ou palavras que, unidas em oração, fazem sentido, v.g. no Cap. 20 do Éxodo, vers. 23, aonde diz a vulgata Praecedet que te Ángelus meus em lugar de Anjelus, diz a versão hebraica, Malaché e na transposição anagramática das letras deste nome acharam os Cabalistas que Malaché faz Michael; com este fundamento pretendem que o Anjo em que fala a Escritura, no dito lulgar, seja S. Miguel".<br />Mostra-nos depois o nosso autor numerosas interpretares que têm sido dadas as letras do Cális.<br />"O Padre Malebranche, varão doutíssimo da Congregarão do Oratório de París, no seu livro de Álgebra mostra que das vinte e quatro letras do alfabeto se pode fazer um milhão trezentas noventa e uma mil setecentas e vinte e duas centenas de centenas de milhão, cento e duas mil e mais combinações<br />I 391. 721. 658. 311. 264. 960. 263. 919. 898. 102. 100*<br />"Na minha opinião, ninguém até agora soube quantas línguas há no Mundo; nem creio que daqui em diante se saberá o número delas, prin­cipalmente depois que, pelas notícias do Brasil, dadas a luz pelo padre Simão de Vasconcelos, da Companhia de Jesus, sabemos que só nas praias do rio das Amazonas se falam mais de cento e cinquenta diferen­tes linguagens, e essas (segundo afirma o padre António Vieira) tão diversas entre si como a nossa da grega. Com estas cento e cinquenta linguagens ajunta a nossa imaginado outras muitas centenas de línguas, espalhadas por todas as nações do Mundo, e com admiração perguntaremos qual é o fundamental e construtivo principio de tantas falas?<br />"Sim, em que oficina se lavraram tantas imagens e retratos do conceito, tantos liames de oração e sonoros vínculos do discurso? De que guarda-roupa saíram tantas alfaias da retórica, tantos enfeites e preciosos adornos da eloquência? Qual foi a mina das riquezas e qual foi o jardim das flores do hebraico, do grego e do latino idioma? A que ar­quitecto deve o italiano a traga das suas cortesãs e políticas expressões?<br />Qual Ninfa ou Musa inspirou ao francês a suavidade da sua locução? Qual foi o severo e duro guerreiro que armou na Germânia marciais e medonhos vocábulos? Que príncipe, que potentado entronizou em Portugal e Gástela os termos de uma grave e majestosa facúndia? Final­mente, que materiais tomaram os Chins, os Japóes, os Árabes, Turcos, Persas, Mogores, Armenios, Malabares, Chingalés, Malagates, Negros de África, gentíos de América e todas mais nações da progénie humana para a fábrica de termos significativos de suas práticas, negociações, comércios, ofícios, guerras, batalhas, artes, ciências, ritos, cerimónias, idolatrias e sacrifícios?<br />"Neste vastíssimo oceano literário de palavras emanadas de diferen­tes combinações literárias, entram como rios no mar outros inumeráveis vocábulos dos nomes das pessoas e sobrenomes ou apelidos das famílias, como também as vozes dos dialectos de todas as línguas, os quais são modos de falar da língua principal do reino ou estado, como na língua grega os dialectos Ato, Eólico, Dórico, Corintio e Comum ; na língua italiana o Genovés, o Bergamasso, o Veneziano, o Napolitano, o Siciliano, etc.; na língua francesa o falar Picardo, Gascáo, Provencal, Normando, etc., e em Portugal as palavras particulares e próprias da Beira, Minho, Alentejo e Algarve, etc., nestes e noutros inumeráveis dialectos formam as letras do alfabeto outra classe de vozes diversas daquelas línguas matrizes e todas juntas formam urna inefável variedade de vocábulos".<br />O nosso autor, depois de divagar, afastando-se do assunto, volta a ele e conclui que a significação das letras do Calis é esta: "Hic est Calix sanguinis mei, novi, et aeterni testamenti, qui pro vobis et pro multis effundetur Joakim Kludphik fudi, Bolduk A. Dom. Mil CLXXXVII».</div><div align="center"><br /></div><div align="justify">Das pessoas sepultadas neste mosteiro, pode dizer-se que só pude colher informes interessantes sobre D. Pedro e D. Inês de Castro. Vamos tentar dar um resumo da história deste para tão celebrizado, e depois despedir-se-mos de Alcobaça<br /><br />Contíguo ao transepto da igreja pertencente a este convento, existe um mausoléu gótico, em pedra talhada, ao centro do qual estão dois sepulcros magníficos, em mármore branco, contendo os restos mortais de D. Pedro I, rei de Portugal, e de D. Inês de Castro, sua mulher85.<br />A respectiva figura em tamanho natural, está colocada sobre cada sepultura: Ele, representado com longas barbas, aspecto severo e em atitude de desembainhar a espada. Ela, com um aspecto de tocante inocência, veste trajos reais e está adornada com um diadema.<br />Poucas são as figuras históricas mais celebradas pelos escritores dra­máticos do que esta princesa. Existem cinco tragédias inspiradas na sua infeliz historia: 2 em inglés86, 1 em francés87, 1 em espanhol88 e 1 em portugués89. A última é, por certo, a que mais se assemelha a verdadeira historia e não é inferior em mérito poético. O seu autor, Nicolau Luís, não precisou de recorrer a fantasia para emocionar o público90.<br />Os factos reais são suficientes para provocar a piedade e o terror e mostrar até que ponto o amor pode influir na alma humana.<br />O caso conta-se assim: D. Pedro, filho de D. Afonso IV, rei de Portugal, e herdeiro da coroa, apaixonou-se por urna dama da Corte, D. Inês de Castro, pensando que seria ela a adorável pessoa que poderia partilhar com ele a coroa que o esperava. Possuía ela todos os encantos de beleza e as maneiras mais graciosas e delicadas. O príncipe desprezando todos os preconceitos de nascimento e fortuna, foi casado com ela pelo bispo da Guarda.<br />Apesar de todo o segredo de que foi rodeada a celebrado do matrimónio, a noticia chegou aos ouvidos do rei, que já tinha premeditado casar D. Pedro com a filha do rei de Castela.<br />Quando D. Afonso quis certificar-se do que Ihe constava, D. Pedro conhecendo as intenções do pai, entendeu ser mais prudente ocultar-lhe a verdade.<br />A nobreza, conhecedora do casamento e invejando D. Inés, pela preferência que Ihe concederá D. Pedro, aproveitou todas as oportunida­des para a apresentar como uma mulher vulgar e ambiciosa pressagiando as mais funestas consequências a advir desta aliança. Condenaram também o príncipe, como filho desobediente e irreflectido.<br />O rei, homem de fraco entendimento, deu ouvidos a calúnia e deixou influenciar-se a tal ponto que resolveu assassinar a desditosa prin­cesa. No propósito de perpetrar tão horroroso gesto, fez-se acompanhar de três dos seus cortesãos e de um numeroso grupo de homens arma­dos.<br />Residia D. Inês, nessa época, em Coimbra, no palácio de Santa Clara, onde passava urna vida recolhida educando os filhos e cumprindo os seus deveres de esposa.<br />O príncipe infelizmente estava ausente, numa caçada, quando che­gou o rei e a sua comitiva. A encantadora vítima saiu ao seu encontro com os seus dois filhos, que se Lhe não desprendiam dos joelhos e choravam em altos gritos.<br />Ela prostrou-se aos pés do monarca e, banhada em lágrimas, pedia--Ihe misericórdia e piedade para os seus filhos, aceitando que a exilasse para o mais remoto deserto onde ela pudesse viver para a educação daquelas crianças.<br />O instinto da Natureza travou-lhe o braço já erguido para Ihe mergulhar o punhal no peito; mas os conselheiros não o deixaram fraquejar no seu intento, e censurando-lhe o desprezo pelos interesses da Nação e convencendo-o da necessidade da morte de D. Inês, fizeram-no voltar a sua primeira resolução, ordenando-lhes que a matassem. A esta ordem, sem atenderem as lágrimas da inocência e da formosura, mataram-na instantaneamente.<br />Pouco tempo após este episodio, chegou o príncipe, mas ai! encontram, já fechados pela morte, esses olhos que sempre o esperavam im­pacientes. O espectáculo da sua amada Inês banhada em sangue encheu-lhe a alma de desesperada loucura e acordou nela todos os sentimentos de vingança. Na angústia da sua dor, pedia a Deus, em altos gritos, que castigasse os monstros que Lhe haviam roubado quanto de mais caro tinha sobre a terra.<br />Logo que o corpo de Inês foi sepultado, chefiando um exército de homens que o apoiavam, atravessou as províncias mais próximas, destruindo a ferro e fogo os bens dos assassinos. As tropas reais não se Lhe puderam opor e fugiam em debandada perante os vingadores da inocência.<br />Só o rei, desgraçado homem!, não podia fugir de si próprio. Os gri­tos dos netos não deixavam de Lhe ecoar nos ouvidos, e a imagem ensanguentada da desditosa mãe apresentava-se-lhe constantemente diante dos olhos. Por fim apiedou-se dele a Morte. Expirou mergulhado no arrependimento dos seus crimes. Fora um filho desobediente, um mau irmão e um pai cruel.<br />D. Pedro subiu ao trono com 37 anos de idade. Logo que obteve o poder, o seu primeiro pensamento foi vingar a morte da sua adorada Inês. Os três principais assassinos, Pero Coelho, Lopes Pacheco e Álvaro Gonçalves, tinham fugido para Castela, antes ainda da morte do rei.O príncipe ordenou que fossem processados por alta traição e, tendo sido provada a culpabilidade, confiscou-lhes os bens. Depois conseguiu a sua captura, em virtude de acordo com o rei de Castela, em que ambos se comprometiam a fazer entrega de fugitivos portugueses e castelhanos que tivessem procurado asilo nos seus respectivos domínios. Gonçalves e Coelho foram algemados e enviados para Portugal, enquanto que Pacheco fugiu para França.</div><div align="center"><br /></div><div align="justify">Encontrava-se o rei em Santarém, quando Lhe apresentaram os cri­minosos. Ordenou que preparassem um banquete e, junto do local onde este se deveria realizar, mandou acender urna fogueira. Quando os assassinos já agonizavam no meio das maiores torturas, e antes de serem lançados as chamas, foram-lhes arrancados os corações, a um pelo peito, e a outro pelas costas. Foram por fim lançados as chamas, que reduziram os seus corpos a cinzas, e foi perante este espectáculo que D. Pedro se banqueteou.<br />Apaziguada assim a sua sede de vingança, ordenou que por todo o reino fosse anunciado o seu casamento com D. Inés.<br />Foi retirado o seu corpo da sepultura, coberto com as vestes reais, e colocado num sumptuoso trono, em volta do qual se reuniram os mi­nistros rendendo homenagem a sua verdadeira rainha.<br />Depois desta cerimónia, fez-se a trasladação do corpo, de Coimbra para Alcobaça, com uma pompa até ai jamais vista no reino. A distância que separa estas duas terras é de 52 milhas e, no entanto, durante todo o trajecto a estrada foi ladeada de povo, empunhando tochas acesas. Ao funeral assistiram todos os nobres cavaleiros de Portugal, trajando luto, acompanhados pelas esposas, também de negro e com longos véus brancos.<br />A nuvem que esta tragédia trouxe ao espírito de D. Pedro nunca se dissipou totalmente, e como viveu sempre em celibato o resto da vida, nada o fez esquecer o destino da sua amada esposa. A impressão que a sua morte Ihe causou ficou bem caracterizada, não só pela tortura que infligiu aos seus assassinos, mas em todos os actos da sua administração. A sua severidade induziu alguns a cognominá-lo de Pedro, o Cruel. Outros cognominaram-no de Justo. E, vendo bem, parece ser este último o mais apropriado.<br />Temos, no entanto, de convir que castigava alguns erros com dema­siada severidade, principalmente os casos de adultério. Em todas as transgressões desta natureza as suas leis eram mais severas que as de Solón, como se pode verificar por estes exemplos: mandou enforcar um homem que tivera relações com uma mulher antes de casar com ela e um outro foi lançado á fogueira por ter sido apanhado em flagrante adultério com a sua amante. Também um frade que se descobriu ser o pai de um rapaz que ferira o homem que o adoptara, foi metido numa caixa de madeira e serrado ao meio.<br />O que mais surpreende é ter sido D. Pedro culpado do mesmo crime pelo qual sentenciava tão ignominiosas mortes como castigo. E é isto um facto: provam-no os seus amores com D. Teresa Lourenço, de quem teve um ilustre filho, D. João o fundador da Batalha.<br />No entanto, a sua forma de punir outros crimes era menos condenável. Por exemplo: um cavaleiro, tendo pedido emprestados alguns utensílios de prata recusou-se depois a entregá-los ao dono. Este, vendo que todos os meios de que dispunha eram ineficazes, apelou para o rei, que obrigou o cavaleiro a entregar tudo, ficando a responder pela vida do queixoso.<br />O clero, que até então só podia ser processado pelos tribunais eclesiás­ticos, passou a ser julgado pelos tribunais de Justiça e punidos os réus com a morte, quando os seus crimes fossem grandes. Tendo-lhe sido solicitada uma vez a revisão da sentença de um desses criminosos e a permissão de ser enviado a um tribunal superior (o do Papa), respondeu calmamente: "Sim, enviá-lo-ei ao mais alto de todos os tribunais, ao de Deus".<br />Para evitar litígios fastidiosos e suas funestas consequências, desembargou a Nação de advogados, limitando a sua acção de tal modo, que em poucos dias ficava resolvido um processo.<br />Quando o juiz era culpado de suborno, como uma vez aconteceu, mandava-o enforcar imediatamente.<br />Em resumo: a implacável justiça e o zelo infatigável em combater os vícios atingiram um tal ponto, que nem consideração por hierarquias, fortuna ou privilégios particulares defendiam o criminoso da espada da justiça. Os enormes serviços que prestou ao País durante 10 anos que reinou, deixaram um vínculo do espírito dos portugueses. Costumam até dizer: que “ D. Pedro ou nunca devia ter nascido ou não devia de ter morrido.” </div>ANTONIO DELGADOhttp://www.blogger.com/profile/03040014273135959079noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-26255522.post-3258090733969501282010-09-28T13:22:00.010-11:002010-09-29T06:13:59.178-11:001873: Alcobaça e Alcobacenses vistos por um autóctone<div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjOJVqVcnkkC9sZFqlaxPXoGzGKkpOYowxmDINapL5X4rFmx9YWVfX7eZhgHnrfXqH6OL_PbeKLx7AKVFRvBFj9o4dsVjciAMcygS1z_6V2wGfg0n7g3rCd4_1yo07l8T83VEtuFw/s1600/zagalo+I.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 241px; DISPLAY: block; HEIGHT: 400px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5522128571001547122" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjOJVqVcnkkC9sZFqlaxPXoGzGKkpOYowxmDINapL5X4rFmx9YWVfX7eZhgHnrfXqH6OL_PbeKLx7AKVFRvBFj9o4dsVjciAMcygS1z_6V2wGfg0n7g3rCd4_1yo07l8T83VEtuFw/s400/zagalo+I.jpg" /></a><span style="font-size:85%;">Foto de Francisco Zagalo<br /></span><br /><div align="center"><div align="justify"></div><br /><br /><div align="justify">O texto que abaixo publico é um extracto de um livro singular, que considero dos mais interessantes que se escreveram sobre Alcobaça após a saída dos monges, e que é pouco conhecido pela maioria das pessoas da terra.<br />Na sequência dos Olhares de Estrangeiros em tempos idos sobre Alcobaça, que venho publicando conforme a minha disponibilidade, decidi incluir a visão de um nosso conterrâneo, por ser actual em alguns aspectos e demonstrar como Alcobaça se mantém parada no tempo. É um olhar cirúrgico que deveria fazer reflectir.<br />O conterrâneo em causa é Bernardino Lopes de Oliveira. Um nome conhecido, mas que poucos saberão quem foi ou o que fez.<br />Antes de prosseguir esta introdução do meu comentário, devo dizer que o extracto é retirado do livro a “ História da Misericórdia de Alcobaça”, publicado em Alcobaça em 1918, oito anos após a morte do autor, Francisco Zagalo. Um destacado médico proeminente da vida social e cultural de Alcobaça no virar do S. XIX para o S. XX, cuja memória foi perpetuada na toponímia da povoação. Precisamente numa artéria que nunca mais tem os melhoramentos anunciados vezes sem fim pelo elenco camarário, como remate que falta na configuração do terreiro que foi feito em frente ao mosteiro.<br />Bernardino Lopes de Oliveira tem também o seu nome na toponímia de Alcobaça, e como outros alcobacenses abastados do século XIX, deixou-nos uma enorme casa, que é em termos arquitectónicos uma das mais significativas da povoação no panorama da arquitectura da terra. De linhas sóbrias e estilo neoclássico tardio, está longe do género abrasileirado e neocolonialista, tão típico e adoptado por alguns novos-ricos de então, como se podem ver exemplos na povoação. Bernardino Lopes, não optou pela ostentação, apesar de ter sido emigrante de sucesso no Brasil, onde amealhou uma fortuna considerável.<br />Pela sua experiência vivida no estrangeiro e por um cosmopolitismo que demonstrou em atitudes políticas posteriores, quis dotar Alcobaça de um ar moderno, longe daquele que o chocara numa viagem para matar saudades da terra e que era do mais atrasado. Custou-lhe ver o aspecto das pessoas e das casas da povoação, que eram da “mais repugnante decadência” e o “estado intelectual e moral dos moradores (…) em geral ignorantes e grosseiros”. Mais tarde, quando decidiu voltar para Alcobaça, insere-se na vida social, cultural e política da terra, promovendo actos e associações, onde se destacam a antiga “Associação Recreativa Clube Alcobacense” e o “Clube de leitura” anexo a ela. Promoveu o teatro, foi provedor da Misericórdia, vereador da Câmara e seu presidente em 1873. A ele se deve, enquanto provedor da Misericórdia, a iniciativa da construção do Hospital que tem o seu nome. Esta é uma das maiores infra-estruturas sociais de que alguma vez se dotou a terra após a saída dos monges.<br />Na vida política cedo se empenhou em resolver os problemas que impediam a povoação ter uma imagem condigna com os seus pergaminhos. Entre esses problemas, ele considerava ser a pouca urbanidade dos seus habitantes, a sujidade que se via a cada passo pelas ruas, a maledicência, os vícios da influência na politica, o interesse mesquinho e o amiguismo, que deturpavam a coisa pública, já que uns quantos beneficiavam do município em detrimento dos demais.<br />Apesar dos anos decorridos, esta última realidade ainda não foi banida da terra, e o aspecto de povoação abandonada e decadente continua. São bem visíveis por todo o lado, nos imóveis e lojas, tabuletas e cartazes a anunciar “trespassa-se”, “vende-se” ou “aluga-se”, como se não se quisesse viver por aqui ou quisessem abandonar o lugar. As tabuletas que adornam janelas, portas, varandas , montras… dão um ar pitoresco à terra e os mesmos dizeres quando são pintados directamente nas paredes dos próprios edifícios, à mão livre, tornam-se mesmo patuscos. Suponho até que a Câmara irá brevemente promover um concurso sobre “ o slogan mais bem pintado” ou “ o lugar mais imaginoso para se expor uma tabuleta". Tudo com direito a um subsídio e um júri composto pelo PS e a CDU, as associações de defesa do património e os “defensores do mantenham isto assim”. A esta imagem da vitalidade local, <a href="http://ecosecomentarios.blogspot.com/2007/03/check-out-my-slide-show_8902.html#links">juntam-se ainda as muitas casas e paredes em ruínas e leprosas, escaqueiradas, que se vêem a cada passo na povoação e que servem, nalguns casos, de mictórios e outros propósitos afins, e onde abundam dejectos, lixo, maus cheiros, ratazanas e bicharada rastejante que promovem uma vida salubre e atraente para quem vive nas imediações ou passa por lá, especialmente crianças e idosos</a>.<br /><br /><br /></div><div align="center"><embed style="WIDTH: 426px; HEIGHT: 320px" name="flashticker" type="application/x-shockwave-flash" align="middle" src="http://widget-53.slide.com/widgets/slideticker.swf" flashvars="cy=lt&il=1&channel=360287970210558803&site=widget-53.slide.com" wmode="transparent" salign="l" scale="noscale" quality="high"></embed></div><br /><br /><br /><br /><div align="justify">Mas como no presente, a vida política em Alcobaça no tempo de Bernardino Lopes de Oliveira, não seria o melhor meio para alguém de bem ajudar uma terra a prosperar e a elevar o sentido crítico dos seus conterrâneos. Bernardino Lopes de Oliveira, além de dotar o governo da edilidade de um pragmatismo, até então inexistente, e que muniu as contas públicas de racionalidade, como atestam as actas da câmara no período em que a presidiu, tomou ainda decisões importantes, mas não corrigiu os vícios existentes numa cultura politica , que por simpatia não é muito semelhante à de hoje.<br />Por isso, apesar do enorme prestígio que desfrutou na condução da coisa pública, não foi o suficiente para ser eleito num segundo mandato, ficando impossibilitado de continuar projectos já delineados que dotariam Alcobaça de outro Glamour que continua a não possuir.<br />Quem sucedeu a Bernardino Lopes de Oliveira, fez precisamente o contrário, como é costume à boa maneira das oposições TUGAS, paralisou projectos e montaram-se clientelas “ com favores concedidos à custa do cofre municipal”, como chegou a afirmar.<br />Alcobaça parece dar-se mal com gente séria, altruísta e de visão, onde se favorece politicamente, a manha e o interesse opaco.<br />Quanto à falta da crítica avisada, a tanto almejava Bernardino Lopes, ela continua a não existir, senão não teríamos ouvido quase 150 anos depois, Augusto Mateus afirmar: “Alcobaça não tem massa crítica necessária” (in RC 27/9/2007).</div><div align="justify"><br /><br /></div><div align="center"><span style="font-size:180%;">1873: Alcobaça e alcobacenses vistos por um autóctone</span></div><br /><br /><br /><br /><div align="center"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 330px; DISPLAY: block; HEIGHT: 237px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5522124558236331682" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgsJ6Pg74u3aBXNVbsRTT-u2nYlHE1m6FonY2oEcmzkfjBDEMC9z54BtBfr8tx1dGMzsxYbtVcoSKlKMbD-uGr0jVolNL6XaLyj48Gq-4a-psQC8tYRbXF5E_5XzHskLXJ-G7DAPw/s400/alcoba%C3%A7a+I+.jpg" /><br /><div align="justify"></div><span style="font-size:85%;">Rossio de Alcobaça no tempo de Bernardino Lopes de Oliveira<br /></span><span style="font-size:85%;">Igreja Nova ao fundo, desmantelada em 1915</span></div><span style="font-size:85%;">No seu lugar existem os actuais CTT. </span><br /><br /><div align="center"><div align="justify">"De há muito que se vinha reconhecendo a insuficiente capacidade do hospital, e nos últimos anos os progressos nosocomiais o haviam condenado sob o ponto de vista higiénico.<br />Foi o que determinou a comissão administrativa da Misericórdia em 6 de Janeiro de 1875 a deliberar pedir ao Governo a concessão da parte norte-nascente do Mosteiro junto da livraria, para ai se instalar o hospital, e no dia 1 de Fevereiro do mesmo ano pedir antes para o mesmo fim a livraria e suas dependências.<br />Foi pelo mesmo motivo que a comissão administrativa da Misericórdia em 23 de Novembro de 1883 deliberou mandar proceder a estudos para se fazer mais urna enfermaria no celeiro.<br />Nem a livraria foi concedida, nem a enfermaria foi feita.<br />Em 1884 foi criado e colocado em Alcobaça o regimento de cavalaria nº. 9 e isso determina uma tal afluência de doentes que, apesar dos doentes civis não serem recolhidos no hos­pital e serem tratados no domicilio, estava o hospital sempre pejado e por vezes tão acumulado com adicionamento de leitos suplementares nas enfermarias e ocupados todos os seus compartimentos, inclusive a capela, que foi profanada, que as suas condições higiénicas se tornaram péssimas e ameaçavam determinar dum momento para o outro alguma catástrofe pa­vorosa.<br />Ponderado isto pelos médicos e reconhecido pelos irmãos de cápela no seu exercício de enfermeiros-móres, a comissão administrativa, não podendo aproveitar o antigo celeiro, já transformado cm habitação dos enfermeiros, resolve na sua sessão de 2 de Janeiro de 1886 adquirir os materiais necessários para a construção duma enfermaria no quintal do hospi­tal e proceder a essa construção por administração.<br />No sessão extraordinária de 18 do mesmo mez e ano os facultativos do hospital, consultados pela comissão, foram de opinião que a enfermaria projectada ia agravar as más condições higiénicas do hospital e com ela se ia desperdiçar urna quantia que faria falta ao construir-se um hospital novo, sem em nada valorizar o edifício hospitalar quando vendido a um particular, sendo este o destino que se Ihe devia dar, quando fosse possível, pois que, sendo urna boa casa de habitação para uma família, era péssima para hospital. A mesa deliberou, pois, sobreestar na construção da enfermaria projectada e incumbiu os facultativos de Ihe indicarem os requisitos a que devia satisfazer o hospital a construir.<br />Era o ponto em que estava tão momentoso assunto quando entrou em exercício em 19 de Julho de 1886 a comissão admi­nistrativa que Bernardino Lopes de Oliveira começou a pre­sidir em 3o de Agosto.<br />Esse assunto havia saído da área restrita da mesa administrativa da Misericórdia para o largo âmbito do publico, que conseguiu interessar, pelo que ele importava á sorte dos des­validos que a todos condoía.<br />Todos lamentavam que os desventurados torturados pela miséria e pela doença se vissem privados, pela pouca capacidade do hospital, de aproveitar o seu conforto e a metódica e solicita aplicação dos medicamentos e da dieta ai feita para mais facilmente recobrarem a saúde e tornarem-se cidadãos validos, amparo de sua família indigente, e que, quando lá internados, Ihes proporcionasse condições desfavoráveis á rá­pida restauraçáo da vida e da saúde. Anteviam, pois, a necessidade impreterível de se proceder imediatamente á construção dum hospital que, pelo local onde fosse situado, pela sua ampla capacidade, grande cubagem e franca ventilação, podésse comportar todos os doentes que necessitassem internar-se nele e lhes facultasse a higiene promotora do seu rápi­do restabelecimento.<br />Mas a modéstia dos recursos da Misericórdia que Ihe permitia, quando muito, custear o tratamento e curativo dos doentes, fazia arredar a ideia de o construir á custa do seu fun­do permanente que, por esse modo desfalcado, não daria posteriormente rendimento suficiente a custear o tratamento dos doentes. E não devia pelo presente sacrificar-se o futuro, ori­ginando embaraços permanentes e irremediáveis. Devia, pois, proceder-se á construção com receita estranha ao fundo per­manente da Misericórdia: com subsídios do Estado e com do­nativos particulares. Subsidio do Estado em madeiras do pinhal nacional antevia-se a possibilidade de o alcançar suficien­te, mas alcancar da subscrição particular a quantia de réis 6.ooo $ooo, em que a modesta aspiração dos que mais desejavam a pronta realização de tão momentoso e urgente melhoramento cifrava indispensável para o efectivar com as madei­ras, concedidas pelo Estado, é que se julgava ser quantia muito superior á que era de esperar produzisse a subscrição em terra tão pequena como Alcobaça. Demais afigurava-se que esta seria muito modesta, apesar dos mais acendrados sentimentos de altruísmo que animavam os moradores de Alcobaça e da sua relativa opulência, por a orientado até ai dada á administração da Misericórdia, tornada um joguete das facções políticas, suscitar nos alcobacenses sobressaltada desconfiança.<br />Assim os mais devotados propugnadores da breve realização desse melhoramento viam-se enleados na mais invencível impotência e limitavam-se a aguardar numa anciosa espectativa por que se clareasse o horisonte muito obscurecido por nuvens caliginosas, sem anteverem algum vento impetuoso e benéfico que as dissipasse.<br />A entrada de Bernardino Lopes de Oliveira na administração da Misericórdia fez entrever um clarão de esperança que alentou as almas bem formadas e as aprestou a entrarem em campanha, na mais gloriosa e benéfica das campanhas, quando se ensejasse ocasião oportuna.<br />Necessitamos tracejar em rápido escorço a biografia de Bernardino Lopes de Oliveira para compreenderem, os que o não conheceram, a razão por que a sua aparição na administração da Misericórdia suscitava tão lisonjeiras esperanças.<br />Bernardino Lopes de Oliveira, nascido em 4 de Novembro de 1832 de pais sem fortuna, que proviam as necessidades da família numerosa com o mais áspero e duro mourejar, foi de Alcobaça, sua terra natal, para o Brazil em Agosto ou Setembro de 1847, em idade de 14 anos. Mal sabia ler e escrever e ainda não havia recebido sequer as primeiras noções duma profissão que o habilitassem a grangear a própria subsistência. Levava consigo um dote precioso que foi sempre o traço sa­liente e predominante do seu carácter. Lograva urna energia inquebrantável, uma vontade de ferro, que o empenhava sem uma vacilação, sem a sombra sequer duma hesitação, na realisação dum propósito que tinha em mira, prosseguido sempre tenazmente, aproveitando as circunstancias favoráveis e não desalentando com as adversas, até á sua consecução final. Parecia convicto e demonstrou cabalmente que querer é poder.<br />Foi, pois, para o Brazil, para o Recife, com o proposito de conseguir uma fortuna que Ihe permitisse viver desafogadamente e proporcionar igual desafogo aos seus, que estremecia, e cujo penoso viver o angustiava.<br />Desprovido de habilitações e sem protecção que o recomendasse, considerou-se feliz em ser admitido como marçano em um estabelecimento comercial. A sua submissão paciente aos mais duros encargos, a morigeração do seu proceder austero e impecável, e a Ihaneza e afabilidade prodigalizada aos fregueses em breve Ihe captaram a simpatia dos caixeiros e do patrão. Assim foi ascendendo com relativa rapidez a caixeiro e a sócio, e de sócio a comerciante independente.<br />Com as suas eminentes qualidades pessoais e com os su­bidos créditos que ele lograva na praça e que Ihe atraíam nu­merosa e valiosa freguezia do sertão, em poucos anos conseguiu ver realizado o seu almejado sonho. Aos trinta anos possuía já fortuna avultada.<br /><br />Vem então, em 1862, pela primeira vez a Portugal, a Alcobaça, a matar saudades que o pungiam acerbamente, mas que ele havia comprimido emquanto não viu próximo da com­pleta realização o seu ideal.<br />Aquí, comparando as impressões indeléveis que a sua infância Ihe havia vincado na fantasia poetisadas pelos tons ró­seos da saudade, com a realidade, sofre uma cruel decepção. A vila de Alcobaça, outrora desdenhada pelos frades que só se preocupavam com a sua vivenda colossal e principesca, e pouco melhorada pelos que se Ihes seguiram no domínio e que só procuravam disfrutar o rendimento das esplendidas propriedades que os frades haviam fertilisado com o seu suor em outros tempos e ultimamente com a mais avançada cultura, estava um verdadeiro chavasca! Os prédios de arquitectura mesquinhamente tacanha, descurados, mal caiados, ofereciam o espectáculo da mais repugnante decadência, e as ruas da terra mal nivelada ou mal calcadas e o seu grande largo situado ao cen­tro, sem calcetamento, com o solo desigual cortado de bastantes gibas entremeadas de covas que, durante o tempo invernoso, se transformavam em verdadeiros atascadeiros, e atravessado por uma longa vala onde corriam a descoberto as enxurradas da chuva que felizmente vinham de vez cm quando fazer a limpeza de toda a espécie de imundicie que a cada passo e sem repressão alguma para ali era arrojada, davam uma triste ideia do estado de civilisação dos moradores. A divagação constante pelas ruas da povoação de todos os animais, e o mercado dos cevados no centro e o pejamento nos dias de mercado do local a ele destinado com os burros em que se transportavam os moradores das povoações rurais numa mescla pitoresca com os bipedes, mescla perigosa pela liberdade que disfrutavam os quadrupedes e com as manhas algo agressivas que alguns haviam adquirido, completavam os característicos duma povoação sertaneja, absolutamente alheia ao progresso e á civilisacáo. E este aspecto deploravel da vila era completado com o do seu Mosteiro. Completamente abando­nado após a supressáo e evasão dos frades, a povoação caiu sobre ele como um bando de famintos e, arrebatando-lhe tudo o que precisavam ou erri que supunham algum valor ou que Ihc despertava a curiosidade. Tiraram, onde Ihe aprouve, portas e janelas e cantarias, e, emquanto os livros não foram removidos para Lisboa, também eles foram alvo das suas depredações, e com tal inconsciência, que não subtraíam livros que os ilustrassem ou tivessem alta valia literaria, levavam o que infantilmente os recreava pelas gravuras ou pelas iluminuras que os ilustravam, e tão estupidamente, que truncavam obras, levando um ou dois volumes, e deixavam ficar os outros. Patenteava-se, pois, o Mosteiro em ruínas, mas não eram as ruínas vetustas determinadas pelo decorrer dos seculos que Ihes imprime uma feição pitorescamente poética, e sim as ocasionadas pela atabalhoada e selvática acção demolidora, que Ihes da um aspecto repelente. O estado intelectual e moral dos moradores condizia com o da povoação, sua fiel imagem. Em geral eram ignorantes, de trato grosseiro, e muitos suspiravam ainda com infinda sau­dade pela época fradesca, em que por módico preço obtinham a farta pitança das rações que, pela abundância, os abarrotavam, e, por vezes, os deliciavam com as delicadas iguarias com que os brindavam pelas festas conventuais. A convivência, pelo menos a convivência estabelecida para a troca recíproca de ideias e impressões, era nula, a não ser no sexo feminino das famílias abastadas, que na singeleza mais simpática dedicavam as tardes, passadas ora na casa du­ma ora na casa doutra, á palestra amena e afectuosa, que não as distraía dos lavores domésticos de costura a que se entregavam. Os homens, constantemente entregues á sua faina, reuniam-se algumas vezes, quasi sempre raro á noite, nas boticas ou em alguma mercearia mais em voga, para se entregarem á caustica mordacidade da má língua, conspurcando e esfacelando as vidas alheias. Isto com relação ás classes mais ele­vadas pela sua hierarquia social ou pela sua abastança de meios de fortuna. Das outras classes, os homcns dedicavam o tempo que Ibes sobrava do exercício da sua profissão artística ou agrícola á palestra nas tabernas, aquecida com o largo con­sumo de vinho, e as mulheres o que sobrava dos cuidados do­mésticos em que sempre foram exemplares, ao cavaco do soalheiro implacavelmente dilacerante para os ausentes. A educação, que se ministrava, presume-se pelos hábitos dos edu­cadores, cuja manutenção consideravam o supremo ideal a atingir.<br />Foi profundamente amargo o desconforto que produziu em Bernardino Lopes de Oliveira o reconhecimento do estado material e moral da sua terra natal, e essa profunda impressão determinou-lhe, após alguns dias de meditação, uma das suas resoluções inabaláveis e de que coisa alguma o fazia de­sistir.<br />Resolveu regressar ao Brazil para liquidar em curto prazo os seus haveres ou orientar a administração da sua importante casa comercial de fazendas sem a sua assistência, e voltar pa­ra Alcobaça, estabelecendo aqui a sua residência, e empenhar a sua energia e a sua fortuna no levantamento do seu nível material, intelectual, social e moral.<br />Resolveu e fê-lo.<br />De regresso definitivo do Brazil em 1864 estabeleceu a sua residência nesta vila e imediatamente poz por obra o seu propósito.<br />Havia um teatro mal instalado no refeitorio do Mosteiro. Promoveu que ele fosse reformado tal como agora se acha, que fosse dotado de pano de boca e de scenario, e que os amadores dramáticos, alguns bem distintos, que aqui havia, e que davam raras representares, se organisassem, recrutando mais pessoal, de modo a darem duas representações por mez. Promoveu a organisacão de bailes de mascaras animadissimos, brilhantes, e em que se mantinha todo o decoro com o mais meticuloso cuidado, como em um baile realisado em urna casa particular da mais severa honestidade. E para os facilitar e tornar mais atraentes mandou vir abundante e selecto guarda-roupa de Lisboa, que franqueava gratuitamente. Promoveu e foi um dos socios fundadores da associação recreativa Club Alcobacense, e do Gabinete de Leitura, dando muitos volumes emquanto a sua biblioteca esteve mal provida.<br />Em 1878 começou a fazer parte da Camara Municipal, de que era presidente, e que quasí sempre se conformou com a orientação que ele deu á administracáo municipal. Proveu mediatamente ao poiicíamento da vila e principalmente dos seus mercados. Fez remover o mercado do gado suino do cen­tro da vila para o seu extremo e já fóra dela, para a Roda. E determinou que não fosse consentido animal algum a diva­gar pela vila. E que nos seus mercados não fosse tolerado burro algum parado, sendo recolhido apenas a ele chegasse e o respectivo cavaleiro desmontasse ou a respectiva carga fosse arreada.<br />E não eram estas medidas de pequeno alcance e de fácil execução, como agora se nos afigura. A primeira foi recebida tão agressivamente que aliciou os principais partidarios da vereação que Ihe sucedeu com o carácter de completa reaccáo as suas medidas. O mercado de gado suino ainda voltou para o centro da vila, onde pouco se demorou, tão fortemente o bom senso impulsionou a opinião publica, reprovando essa reacção barbara. A ultima providencia concitou um temeroso tumulto, promovido pelos moradores das freguezias rurais, o qual se aplacou sem consequências de maior, graças á serenidade e intrepidez de Bernardino Lopes de Oliveira.<br />Estudando a administrado municipal de Alcobaça reconheceu que ela estava em um perfeito caos. Os melhoramentos custeados pelo cofre municipal eram efectuados não por serem os mais úteis e urgentes, mas por lograrem a recomendação dum valioso influente eleitoral, e por vezes eles eram mais em proveito dos influentes do que do municipio. Propoz e a Cámara sancionou com o seu voto que se investigasse quais os melhoramentos de que o municipio estava carecido, se mandasse proceder aos respectivos estudos e á elaboração das plantas e correlativos orçamentos. Que depois fossem classificados pelo seu grau de utilidade e de urgência, e que se fossem executando pela ordem dessa classificação e em conformidade com a verba disponível e não ao grado das influen­cias que os solicitassem. Fez uma administração impertubavelmente justa em que teve conscjencia de mclhorar consideravelmente o aspecto das povoações do concelho c as suas condicóes higiénicas. Não fez mais porque urna grande parte da receita disponível foi dispendida com os trabalhos preparato­rios para a execucáo dos melhoramentos, trabalhos de que os seus sucessores não fizeram caso, porque não lhes conveio adaptar o plano racional a que ele subordinava a sequencía da gerencia administrativa. E, terminado o trienio, não foi reeleito, apesar do grande prestigio que o seu proceder austero e sensato Ihe havia grangeado, porque os corrilhos políticos, saudosos das cadeiras senatoriais, onde com favores concedi­dos á custa do cofre municipal grangeavam muitos prosélitos, não consentiram que ele Ihes inutilisasse as artimanhas, se-guindo inquebrantavelmente o plano adoptado e que, se fosse proseguido, levaría com certeza Alcobafa e o seu concelho a estado de maior adiamamento do que está.<br />Com estes precedentes a entrada de Bernardino Lopes de Oliveira na administração da Misericórdia era de molde a esperar-se a sua reconstituição e o travamento da sua inegável e rápida decadencia. Receava-se sómente que o resto da comissão, constituindo uma grande maioria, e constituido por in­dividuos filiados na faccáo política dominante, não assentisse ao seu modo de ver e tolhesse o desenvolvimento da sua no­toria actividade e energia. Felizmente, assim não sucedeu. Ou porque se deixasse subjugar e arrastar pelo seu grande prestigio, ou porque antecipadamente houvesse sido pactuado tal proceder, como condição indispensavel para que Bernardi­no Lopes de Oliveira aceitasse o cargo para que foi nomeado, o facto é que a mesa trabalhou sempre de acordo e na melhor harmonia com o seu presidente, colaborando eficaz e dedicadamente na execução das propostas dele, por ela aprovadas.<br />Bernardino Lopes de Oliveira toma posse cm 3o de Agosto e imediatamente, de acordo com a mesa, convida os indivíduos mais em evidencia pela sua posição social e pela sua fortuna para se reunirem na casa do despacho da Misericórdia. Nessa magna reunião, onde se achavam indivíduos de to­das as parcialidades políticas, cxpoz Bernardino Lopes de Oliveira as más condicões de capacidade e de higiene do hos­pital, que, por isso, era forçoso proceder á construção de um novo, mas que a Misericórdia, pela modestia dos seus recur­sos, não podia levá-la a efeito. Que podia aplicar-lhe algumas sobras do seu rendimento e a receita proveniente do edifício que estava servindo de hospital, e talvez conseguisse do Esta­do algumas madeiras do pinhal nacional, mas que tudo isso era insuficiente para o levar a cabo. Tal empreendimento só­mente seria realisavel com a coadjuva^áo dos habitantes de Alcobaca expressa em largos donativos. Por esse motivo ha­via convidado os cavalheiros presentes para dizerem o que Ihes parecesse a tal respeito.<br />A assembleia unanimemente reconheceu a necessidade da construção do novo hospital e prontificou-se a contribuir com donativos para ela, dando um voto de plena confiança á mesa para tratar de tal assunto, procedendo á referida construção e solicitando os donativos quando Ihe parecessc oportuno.<br /><br />Em 3o de Setembro, em sessão de mesa com assistência do administrador do concelho, previamente convidado, Bernardino Lopes de Oliveira propõe que se construa o hospital na Roda em local indicado pelos facultativos, pedindo-se á Camara a concessão do terreno, e que se elabore a respectiva planta, a qual o administrador do concelho se incumbiu de apresentar; que para a referida construção se destinasse o sal­do das gerências anteriores, a verba no orçamento destinada á construção da projectada enfermaria no quintal do hospital e 5oo$ooo réis do fundo permanente e o produto da renda do edifício onde estava o hospital, pedindo-se autorização para se efectuar essa venda, e que a mesa solicite donativos. Fui esta proposta aprovada por unanimidade.<br />Em 3 de Novembro o vice presidente participa que, havendo em nome do presidente solicitado da Câmara Municipal a concessão do terreno para edificação do hospital, ela o havia concedido por unanimidade na sua sessão de 10 de Outubro.<br />Em 16 de Fevereiro de 1887 foi presente á mesa a planta do hospital de Lamego, resolvendo a comissão que fossem consultados os facultativos acerca dela.<br />Em 7 de Março informa o presidente que os facultativos são de opiniáo que a planta do hospital de Lamego logra to­dos os requisitos exigidos pela sciencia, mas não se acha pela sua sumptuosidade e vastidão de harmonia com a capacidade que deve ter o hospital de Alcobaça, nem com os recursos de que a Misericórdia poderá dispôr, e eram de parecer que a referida planta fosse enviada a um arquitecto e juntamente a nota da capacidade necessária e dos recursos ao alcance da Misericórdia, para ele elaborar planta adequada. Por unani­midade deliberou a mesa que assim se fizesse.<br />Em 4 de Abril aprésenla Bernardino Lopes de Oliveirá um esboceto do futuro hospital da sua lavra, esboceto que alcançou a aprovação dos facultativos. A comissão delibera que seja esse esboceto enviado a um arquitecto para o transformar tecnicamente em planta definitiva.<br />Em 16 de Junho são presentes á comissão dois esboços de planta do hospital elaborados pelo arquitecto, sendo um com rez-do-cháo e primeiro andar, e outro em um só pavimento, tendo ao centro um andar superior para acomodações dos enfermeiros, optando os facultativos por este. A comissão deli­berou mandar organisar a planta em conformidade com este ultimo esboço." <span style="color:#ffccff;">Francisco Zagalo op.cit. pp 239 a 247.</span></div></div></div></div>ANTONIO DELGADOhttp://www.blogger.com/profile/03040014273135959079noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-26255522.post-91085986309490414112010-09-13T11:11:00.004-11:002010-09-13T11:52:05.311-11:00INSTANTE E VERDADE<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvGBnxe6gkR_9jXDM_5rGPrahwCBlkk7Mo-7i3A9TYkB1NR-Yc_lXxkgM_Vdau8DQzRedSZu4edxUl_J8yV35G9w222CbyST8y6uZREQYdD8ndKPuDPD3H2p0SMfh2WDrE0vYqBA/s1600/211109ElRotoG%5B1%5D.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 330px; DISPLAY: block; HEIGHT: 400px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5516533392014249170" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvGBnxe6gkR_9jXDM_5rGPrahwCBlkk7Mo-7i3A9TYkB1NR-Yc_lXxkgM_Vdau8DQzRedSZu4edxUl_J8yV35G9w222CbyST8y6uZREQYdD8ndKPuDPD3H2p0SMfh2WDrE0vYqBA/s400/211109ElRotoG%5B1%5D.jpg" /></a><br /><div align="justify">No primeiro quarto do século XX apareceram na Europa os regimes de massas que encontraram uma oposição por parte dos individualistas do pensamento livre e solto. A “rebelião das massas” foi atacada com armas e palavras até ao último quartel do século passado e esses sistemas foram vencidos e substituídos por outros regimes de massas; neles estamos mas não temos consciência disso. Até à revolução soviética e à fascista italiana, as pessoas acreditavam que tinham ideias e propunham-se ter ideais. Eram movimentos muito fecundos em todos os domínios, literatura, política (artes plásticas, cinema e teatro).<br />Os séculos XIX e XX manejavam-se com ideias, pensamentos e interrogações. Os partidos, tal como as pessoas, tinham vida interior. No presente viver não é integrar-se no tempo, mas deixar-se atropelar pelos seus furacões: a gritaria do momento. O presente transformou-se em cenário de um show vertiginoso que oferece apenas duas possibilidades opostas. Uma é a anomia, a passividade e a renúncia à interpretação. A outra é a participação pela embriaguez acelerada. Presentes estáticos ou velozes, mas nunca caminhantes. Hoje abjuramos da memória e da previsão do futuro. Elevámos o instante a verdade única, no altar das pressas e do efémero, banalizando o seu culto à espectacularidade do nada, mas também e sobre tudo pela ausência de uma sincronia e um espírito que aspire a compreender o seu tempo. O caminhante do pensamento vê-se privado de caminhos a troco de ser tentado com auto-estradas (não é neutro o símile “ auto-estradas da informação”). O grande sonho da comunicação já não é a biblioteca, nem sequer a videoteca, onde era possível demorar-se para observar os caminhos andados e os trechos a recorrer, como muito bem explicou Regis Debray. Antepusemos a difusão das mensagens à informação das mentes, tudo em proveito da emoção instantânea procurada pela fusão da imagem-som. A Vídeo-Esfera vai abolindo em nome desse falso presente que é o “directo”, as velhas mediações simbólicas, (a palavra, o escrito) e com elas as abstracções, as ideologias, a politica e até as suas derivações institucionais (partidos, sindicatos, escolas). Agora interessa ver rostos e não identificar identidades. Assistimos aos factos sem registá-los na experiência. O pequeno ecrã (televisão/internet) é a verdadeira instância de uma nova aprendizagem. E a ilusão da presença criada pelo directo preenche toda a aspiração de sabedoria. Neste campo radical da civilização que Paul Virilio denominou “a estética da desaparição”, espreita um perigo sobranceiro para a liberdade individual e democrática do sujeito. O “directo” na sua pressa representa a negação do eu que observa, evoca e compara; actua como um dispositivo externo mas ordenador das nossas vidas, que já não logram subtrair-se à lógica do imediato. Poderia dizer-se que ocorre e ocorre-nos só quando vem referendada pela câmara que estava aí no preciso momento, submetida pelo jornal à tirania do último acontecimento, coadjuvadas pelo integralismo técnico de uns meios cuja máxima aspiração consiste em mostrar o poder da sua presença. Com isto os regimes actuais de massas, que utilizam a etiqueta de democracia, descobriram a forma de nos fazer crer que se escolhe e pensa livremente, por cima das televisões, da imprensa adquirida em toda a sua verdadeira classe. Como se a comunicação social fosse o espaço onde se constrói o comum e este tivesse aí o valor de realidade. Neste tipo de regimes, a personificação simplifica o mundo e converte os acontecimentos em algo imputável. Aquele é mau, o outro é bom e aquele o dono do mundo. Condensam-se os acontecimentos até reduzi-los a um homem, a uma paixão supostamente explicável, a uma grandeza personificada que se pode admirar ou a uma mesquinhez com a qual se excita a indignação colectiva como se tem visto ultimamente com ameaças da queima do Corão. <span style="font-size:85%;"><a href="http://www.jornaldascaldas.com/index.php/2010/09/09/instante-e-verdade/">in Jornal das Caldas</a></span></div>ANTONIO DELGADOhttp://www.blogger.com/profile/03040014273135959079noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-26255522.post-30325038465920042742010-09-07T14:39:00.009-11:002010-09-08T06:34:23.160-11:00Alcobaça segundo Miguel Unamuno<div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhY3TW69vb8krTXEKv3yKYm1msn-d3j6H8pbcLJCHSWaxViOehBe-gLUsT3lfVIYB9XQ-jdTTIfmKg1aIeaQupXkNeAWBpO4LmOUqrTIXYPpt9PdRfb0maW5W0LjiDq4_8wC7nz5w/s1600/miguel_de_unamuno%5B1%5D.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 317px; DISPLAY: block; HEIGHT: 400px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5514363748545631394" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhY3TW69vb8krTXEKv3yKYm1msn-d3j6H8pbcLJCHSWaxViOehBe-gLUsT3lfVIYB9XQ-jdTTIfmKg1aIeaQupXkNeAWBpO4LmOUqrTIXYPpt9PdRfb0maW5W0LjiDq4_8wC7nz5w/s400/miguel_de_unamuno%5B1%5D.jpg" /></a><br />Miguel Unamuno nasceu em Bilbau e morreu em Salamanca (1864-1936). Nesta última cidade passou o período mais fecundo da sua existência entregue à sua cátedra de grego na Universidade, onde foi reitor desde 1902.<br />Dotado de um espírito de dimensões excepcionais, cuja valorização se pode fazer com maior justiça à medida que passam os anos e vamos relendo a sua obra, é considerado nos meios académicos e desde há muito tempo, uma das mentes mais profundas e originais da Europa. A sua obra foi traduzida em diversos idiomas.<br />Em termos de escrita abraçou quase todos os géneros: ensaio, poesia, teatro, romance e filosofia, deixando em todos eles a marca da sua forte personalidade.<br />Amigo e admirador do nosso país, visitava-o com frequência e fez belas descrições da sua paisagem e da alma portuguesa. Conviveu com personagens de vulto da vida cultural portuguesa, como <a href="http://repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/3252">Teixeira de Pascoais</a>, Guerra <a href="http://www.contrabando.org/texto.php?id=6">Junqueiro</a> e Manuel <a href="http://www.catbox.info/big-bang/gatodasletras/casulo1/UNAMUNO.HTM">Laranjeira</a>, com quem passou algumas temporadas de férias em Espinho.<br />Na troca de correspondência com aqueles, desde cedo manifestou a intenção de escrever um livro sobre a Alma Portuguesa, pois interessava-lhe estudar nos portugueses o “tédio” e o “pessimismo patriótico” que dizia estarem encardidos na sua alma, tal como ainda vemos nos “opinionmaker” dos nossos dias. Mas é nos versos de António Nobre que encontra esse fatalismo tão bem expresso: “ Amigos, Que desgraça nascer em Portugal”. E de Portugal, disse que era um país de Suicidas. Camilo, Antero e Francisco laranjeira atestam-no, entre muitas outras coisas.<br />A amizade que teve com Guerra Junqueiro terá sido uma das portas que o levou a descrever Portugal e os Portugueses de forma tão singular, e alguém já teve a coragem de dizer que “as páginas que nos deixou sobre o País, são do mais profundo que se escreveu sobre Portugal”.<br />“ Por terras de Portugal e Espanha”, foi publicado pela primeira vez nos anos 90 do século passado, na língua de Camões, e na nota de introdução justifica-se o atraso nestas palavras, que denotam claramente o que foram as afinidades entre os dois países e por cá muitos ainda vivem congelados no ano de 1385: “ <a href="http://www.almedina.net/catalog/product_info.php?products_id=6458">Se as relações culturais luso-espanholas tivessem a dimensão imposta pela proximidade geográfica, a historia politica e cultural com significativos pontos comuns e o interesse num profundo conhecimento recíproco, há muito que este livro, em que a alma de Portugal é olhada com paixão, circularia entre nós e na nossa língua como obra indispensável para se conhecer não só a nação que éramos quando ele foi escrito como o que somos hoje</a>” .<br />Viajante e curioso como foi, também visitou Alcobaça e deixou uma descrição particular do mosteiro, do caminho por onde passou no Valado dos Frades, onde chegou de comboio, e da hospedagem onde pernoitou. Segundo a correspondencia entre Unamuno e Manuel Larangeira, o texto de Alcobaça foi publicado em Buenos Aires (Argentina), no Jornal la Nación em 1909.</div><div align="justify"></div><div align="justify">Tentei ver se os jornais locais, em Alcobaça), do ano de 1908, faziam mençãoda sua visitou à povoação, mas foi inglória a intenção. Apesar de Unamuno ser uma pessoa muito conhecido em Espanha e Portugal (privava com o rei a quem fazia discursos e já era reitor da Universidade de Salamanca), nenhuma referência lhe foi feita, mas ao contrário deparei-me com as miudezas de uma terra onde não se passava nada, adormecida na nostalgia dos monges e parada no tempo, onde se pressentia o cacarejar das galinhas à solta pela rua , o chiar dos rodízios de carros de bois e se falava do sino da igreja badalar para anunciar que fulano tal e sua esposa… tinham chegado de Lisboa… transcendências!<br /></div><div align="justify"><br /><br /><div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh9mYOUED8u1NkCiASg7toAwcFniYwppB2QyYcj5xuKX6DQhlYuoY-xwcT0R6gytDpSZGdYSzzBEktPfiGebDDk6OM2umBydWfW-rU1d4rQ53LXQf3r0L36R20FGWHUMjhynVG31A/s1600/Alcoba%C3%A7a+1906.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; DISPLAY: block; HEIGHT: 254px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5514357850002057506" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh9mYOUED8u1NkCiASg7toAwcFniYwppB2QyYcj5xuKX6DQhlYuoY-xwcT0R6gytDpSZGdYSzzBEktPfiGebDDk6OM2umBydWfW-rU1d4rQ53LXQf3r0L36R20FGWHUMjhynVG31A/s400/Alcoba%C3%A7a+1906.jpg" /></a><span style="font-size:85%;">Postal de Alcobaça com uma data </span><span style="font-size:85%;">próxima à data da </span><span style="font-size:85%;">visita de Unamuno </span></div><div align="center"><span style="font-size:85%;">1906<br /></span><br /></div><div align="center"><div align="center"><span style="font-size:180%;">ALCOBAÇA</span></div><br /><div align="justify"><br />Cheguei de Lisboa a estação de Valado, já de noite, e de Valado a Alcobaça levou-me uma pequena carruagem desconjuntada. Afastei o frio e a solidão, imagi­nando o que seria aquele caminho envolto então em trevas: por onde vamos?<br />E foi um formoso amanhecer de fins de Novembro, num verdadeiro Verão de S. Martinho, quando sai para ver o histórico mosteiro de Alcobaça, outrora convento de bernardos.<br />O arrebol da aurora dourava as colinas, quando eu ia direito ao mosteiro, a fachada de cuja igreja atraía o meu anelo. Esta fachada, severa, mas pouco significativa, abre-se para uma grande praga estendida a toda a luz e todo o ar. Ao entrar no templo envolveu-me uma impressão de solene solidão e nudez. A nave, muito nobre, flanqueada pe­las suas duas filas de colunas nuas e brancas; tudo isto um pouco severo e robusto. Lá ao fundo, um retábulo deplorável, com uma grande bola azul estrelada e da qual irradiam raios dourados. As naves laterais semelham desfiladeiros. E encontrava-me só, e rodeado de majestade, como sob o manto da Historia. Vagueando, fui dar a sala dos reis. Os de Portugal figuram em estatuas, ao longo das paredes. No centro, um papa e um bispo coroam D. Afonso Henriques, o fundador da Monarquia, ajoelhado entre os dois. Há na sala um grande caldeirão, que o inevitável guarda-cicerone, que acudiu ao ouvir ressoar os meus passos na solidão, me disse ter sido tomado aos castelhanos na batalha de Aljubarrota. Debrucei-me sobre a sua borda; estava vazio.<br />Desta sala passei ao claustro de D. Dinis, hoje a restaurar. Formoso recinto, nobilíssimo e melancólico. A agua da fonte canta a solidão da Historia entre as pedras mudas de recordações, e um pássaro atravessa o pedago de céu límpido, de cair do Outono, a cantar quem sabe o quê. As pedras olham-se na triste verdura do recinto.<br />E depois passei para ver o outro claustro, mais vivo, mais íntimo, o chamado do Cardeal, onde hoje ha um quartel de artilharia. Todo o antigo convento de monges bernardos mostrou-mo um simples camponês fardado de soldado de artilharia. O pobre jovem somente via ali o quartel, sem saber nada de monges. «Aqui fazemos os exercícios, aqui é o picadeiro, aqui...», etc. Na porta do que foi antanho biblio­teca, dizia aquilo dos provérbios: viam sapientiae monstrabo; «mostrar-te-ei o cami­nho da sabedoria». E mostrou-ma um recruta português, mas estava vazia, e não era um caminho, mas uma sala. Queria mostrar-me, é claro!, as pecas, os canhões. (1)<br /><br />Voltei a igreja, agora com o guarda. Mostrou-me o altar em que se representa a morte de S. Bernardo, uma cena um pouco teatral, que parece de um grande presépio de cartão, desses de Natal, mas não será o seu efeito. Um frade de pedra chora eternamente, levando o branco manto aos olhos, não sei se a morte do seu santo pai S. Bernardo ou a trágica historia de Inês de Castro. Porque defronte deste altar uma pobríssima grade de madeira fecha a capela onde descansam! por fim os restos da infortunada amante de D. Pedro I.<br />O guarda levou-me até aos túmulos de D. Pedro, de D. Inês e de seus filhos, e pedi-lhe que saísse, deixando-me só. Nunca na minha vida esquecerei esta visita. Naquela severíssima sala, entre a grave nobreza da branca pedra nua, a luz apagada e difusa de uma manhã de Outono, as brumas da lenda embuçaram o meu coração. Uma paz cheia de solidões parece deitar-se naquele eterno descansadeiro. Ali repousam para sempre os dois amantes, joguetes que foram do trágico fado. Como aves agoureiras, vinham-me a memoria os alados versos de Camões ao contemplar o túmulo da<br />«mísera e mesquinha Que, depois de ser morta, foi rainha.»<br />É porque o puro amor<br />«que os corações humanos tanto obriga»<br />quer, áspero e tirano, banhar as suas aras em sangue humano.<br />Descansam em dois túmulos de pedra Pedro, o duro, o cruel, o justiceiro, o louco talvez, e a linda Inês, e descansara de tal modo que, se se levantassem, ficariam face a face e poderiam outra vez beber o amor nos olhos um do outro.<br />Seis alados anjinhos guardam e sustém a estatua jacente de Inês, e outros seis a de D. Pedro; aos pés dela dorme um dos três cãezinhos que ali houve outrora, e aos pés dele um grande lebreiro, símbolo da fidelidade. O túmulo dele é sustido por leões; o dela, leões também, mas com cabeças de monges. Na pedra do sepulcro de Inês, a flor da paixão, a escrava do amor, cenas da Paixão de Cristo, do que perdoava a que muito pecou por ter amado muito; no lado da cabeça, a Crucificação, e no lado dos pés o Juízo Final, em cujo céu ha uma mulher. O sepulcro de D. Pedro mostra-nos o martírio de São Bartolomeu. Ele, D. Pedro, com uma cara plácida, com cabelos e barbas a moda assíria, sustém a sua dura espada sobre o peito.<br />E pesa ali um ar de tragédia.<br />Ali está o que resta daquele rei D. Pedro I de Portugal, um louco com interva­los lúcidos de justiça e economia, como dele disse Herculano; aquele homem para quem foi uma mania apaixonada a justiça e que era carrasco por suas próprias mãos. Ele, o adúltero, odiava com um ódio raro os adúlteros: seria o remorso? Ali descansa de suas justiças, das suas nemródicas caçadas ; ali descansa, sobretudo, dos seus amores. Ali descansa o tirano plebeu, a quem seu povo adorou.<br /><br />«Quando voltava em batéis de Almada para Lisboa, a plebe lisboeta saía a recebê-lo com danças e trebelhos. Desembarcava e ia á frente da turba, dançando ao som das longas (trombetas) como um rei David. Estas folias apaixonavam-no quase tanto como o seu cargo de juiz. Por elas chegava a fazer loucuras. Certas noites, no paço, a insónia perseguia-o: levantava-se, chamava os trombeteiros, mandava acender tochas; e ei-lo pelas ruas, dançando e atroando tudo com os berros das longas. As gentes que dormiam, saíam com espanto as janelas, a ver o que era. Era o rei. Ainda bem! Ainda bem! Que prazer vê-lo assim tão ledo!» (Oliveira Martins, Historia de Portu­gal, Livro II, capítulo III.)<br /><br />Não recordais a historia trágica de seus amores com Inês, que Camões, mais que qualquer outro poeta, eternizou? Ai por volta de 1340, foi a linda Inês de Cas­tro, galega, para Portugal, como dama da infanta Constança, a mulher de Pedro, o filho de Afonso IV. E foi a mulher fatal, como diria Camilo. O fado trágico fez com que se enamorassem; aquele amor ch'a null'amato amar perdona, como disse o poeta da Divina Comedia. Tiveram frutos dos trágicos amores; intrigas da corte e da plebe fizeram que o rei Afonso mandasse matar a nora, pois, viúvo de Constança, Pedro casou logo em segredo com Inés, que foi apunhalada em Coimbra:<br />«As filhas do Mondego a morte escura longo tempo chorando memoraram; e, por memoria eterna, em fonte pura as lágrimas choradas transformaram!; o nome Ihe puseram, que inda dura, dos amores de Inés, que ali passaram. Vede que fresca fonte rega as flores, que lágrimas sao a agua e o nome amores.»<br />E quando mais tarde D. Pedro subiu ao trono, conta a lenda que mandou desen­terrar Inês e coroá-la rainha, e, tendo-se apoderado de seus matadores, torturou-os barbaramente, vendo do seu palácio, enquanto comia, em Santarém, como os queimavam. E isto podeis lê-lo no velho e encantador cronista Fernão Lopes, que no-lo conta tudo homéricamente, com uma simplicidade tão animada que é um encanto.<br />Ele conta-nos tudo menos a exumação e a coroação, que parece ser uma lenda tardia, mas muito bela. E no fundo, de uma altíssima verdade transcendente.<br />Essa pobre Inês, que reinou depois de morrer... E de morrer por ter amado com amor de fruto, com amor de vida! Que reino e que rainha!... Rainha, sim, rainha no mundo das trágicas lendas, consola da tragédia da vida; rainha com Isolda, a de Tristão; rainha com Francesca, a de Paolo; rainha com Isabel, a de Diego.<br />Naqueles mesmos dias em que visitei em Alcobaça o túmulo de Inês lia A Mulher Fatal, de Camilo Castelo Branco; de Camilo, o que nos deu nos seus romances toda a alma trágica, fatídica, patética, de Portugal. «Acuso-me — diz Camilo nesse livro -de ter feito chorar com a minha fantasia muitas pessoas incapazes de verter uma lágrima balsâmica sobre uma chaga de miséria verdadeira.»<br /><br />Sim, Camilo faz chorar: os seus livros parecem escritos com lágrimas de fogo, que escaldara. E toda a Historia de Portugal, não faz porventura chorar? Não é chorosa?<br />Num canto da capela de Inês e Pedro descansara os restos dos três filhos do trágico amor fatal, e os seus três sarcófagos de pedra, simples, toscos, são relicários plenos de recordações. Pobres jovens! Na mesma capela dorme o seu eterno sono D. Beatriz, a mulher de Afonso III, e D. Urraca, a de Afonso II. A que não está ali é Constança, a pobre Constança, a infeliz esposa de D. Pedro, a quem D. Inês serviu e a quem arrebatou o coração do seu Pedro. Ela, Inês? Não, que foi o Fado. Oiçamos o velho cronista Rui de Pina, que na sua crónica do rei D. Afonso IV nos diz com a sua homérica simplicidade que «o Infante D. Pedro filho primogénito herdeiro de El-Rei D. Afonso de Portugal foi casado com a Infanta D. Constança Manuel, como atrás hei declarado, e dela em vida de El-Rei D. Afonso seu pai houve dois filhos e uma filha, o Infante D. Luís, que foi o primeiro, e este em moço faleceu, ao baptismo, do qual D. Inês Pires de Castro foi comadre de El-Rei D. Pedro sendo Infante e da Infanta D. Constança, e isto se fez porquanto D. Inês andava em casa da dita Infanta por sua donzela, e parente, e sentia-se já que o Infante D. Pedro Ihe queria bem, e por se evitar entre eles outra afeição.»<br />Não adivinhais já tudo? Fizeram Inês madrinha do filho de Pedro, seu amante, e de Constança, sua amiga, para criar pela religião um incesto entre eles. Desta cir­cunstancia tirou formosíssimo partido Eugénio de Castro no seu belíssimo poema Constanza. E na Monarquía Lusitana (VII Parte, Livro X, Capítulo VI) diz-se que se fortaleceu a confiança dos amantes ao ver que as forçosas consequências do parto faziam que D. Constança estivesse presa na cama.<br />Desgraçada Constança, mas muito mais desgraçada Inês! Afinal, aquela reinou de certo modo no mundo e na vida; Inês, a do amor fatídico, não pode reinar senão depois de morta, e morta por mãos violentas. Aqui poderiam dizer-se as palavras com que termina o Freí Luís de Sousa, a clássica tragédia Portuguesa: «Deus aflige neste mundo aqueles que ama. A coroa de gloria não se da senão no céu.»<br />Com pesar despedi-me do pétreo caixão que encerra os despojos do que foi a beleza de Inês de Castro, a de trágica memoria. E ali, fica, entre as brancas pedras cistercienses do mosteiro levantado para comemorar a independência de Portugal. Contudo, o severo monumento, nu, solitário, silencioso, lembra, mais que a independência da pátria, a independência do amor. Portugal, que, como Inês, amou muito e amou tragicamente sob o jugo do Destino —, não reinará também depois de morrer? A desgraçada amante não é um símbolo prefigurativo, um augúrio, dessa terra linda, linda como Inês, vítima também de fatídicas paixões?<br />Com pena, com pena de solidão, deixei aquela capela de amor fatídico, e, atravessando o templo voltei a ver a luz do céu. Sorriam com um sorriso outonal as coli­nas, sorria Alcobaça, uma vila branca de casario, verde de campo, risonha, florida, aberta, campesina e nobre, industrial e histórica. O seu rio é um rio de fábricas, ladeado de muros e rumoroso, desses que movem máquinas.<br /><br />Voltei ao hotel — o Hotel Alcobacense — a pensar em Inês. Sobre uma pequena mesa, na sala de jantar, encontrei a London Opinión e a Revue des Voyages... Para que conste...<br />Percorri, agora de dia e numa carruagem colectiva, o caminho que na noite ante­rior percorri as escuras numa carruagem pequena e desconjuntada. Um caminho deli­cioso de campo, mais aberto que os do Minho e mais viçoso.<br />E outra vez no comboio, nesse odioso comboio, num desses insuportáveis vagões de caminho-de-ferro. Para me recompor ia a pensar no que seriam as viagens por essa encantadora terra portuguesa, toda carinho, naquelas diligencias de campainhas sempre a retinir de que nos fala António Nobre numa das suas mais íntimas poesias: «E, dia e noite, aurora a aurora, / Por essa doida terra fora, / Cheia de Cor, de Luz, de Som». E passavam moinhos de vento, eiras, solares, antepassados, rios, luar, paisagem etérea e doce, ao qual Nobre confessava dever u:-i» o que era, depois do ventre que o trouxe.<br />«E enquanto a velha mala-posta, / A custo vai subindo a encosta / Em mira ao lar dos meus Avós, / Os aldeões, de longe, alerta, / Olham pasmados, boca aberta... / A gente segue e deixa-os sós. // Que pena ver os que ficam! / Pobres, humildes, não implicam, / Tirara com respeito o chapéu: / Outros passando a nosso lado / Diziam: 'Deus seja louvado!' / 'Louvado seja! dizia eu. // E, meiga tombava a tardinha...» Uma paragem súbita, o grito de um rapaz a anunciar uma estação cortavam--me o sonho em que António Nobre me levava. E o comboio voltava a partir e eu voltava a sonhar.<br />A subida de Novelas, o gordo e rubro Cábemelas, o repouso na estalagem de toalhas brancas, marmeladas, o cuco da sala a dar as horas. E depois «Caía a noite. Eu ia fora, / Vendo uma estrela que lá mora, No firmamento português: / E ela traga-me o meu fado/ 'Serás Poeta e desbragado!' / Assim se disse, assim se fez.» E tudo o mais que Nobre nos conta até que chega a casa.<br />E em casa esperava-o a sua avó, que, abraçando-o, exclamava: «Qu'é dos teus olhos, dos teus braços, / Valha-me Deus! como ele vem!», e outras mil doçuras. Ele entrava no seu quarto, «Tudo tão bom, tudo tão farto! / Que leito aquele! e a agua, Jesus! E os lençóis! rico cheiro a linho! / — Vá, dorme, que vens cansadinho. / Não adormeças com a luz!» Mas ele deitava-se, mudo e triste; a avó acrescentava: «Reza também o Tergo, ouviste?», os versos a bailar dentro dele, e tirava as escondidas um livro que levava oculto no seio, e lia, lia Garrett... 4I<br />Também eu, ao chegar a Figueira da Foz, e ao cair sobre uma daquelas duras camas portuguesas, mas não na casa de meus avós, sim num hotel, me pus a ler, mas não Garret, sim Camilo. E assim como Nobre adormecia com a ideia daquela tia Doroteia de que fala Júlio Diniz, adormeci com a ideia daquele pobre Carlos Pereira, um dos pobres escravos do destino, de que nos fala Camilo. E com a lembrança da fatídica Inês de Castro, cujos despojos deixei a dormir em Alcobaça.<br />Salamanca, Dezembro de 1908.</div></div></div>ANTONIO DELGADOhttp://www.blogger.com/profile/03040014273135959079noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-26255522.post-64304658190155939092010-09-01T12:29:00.008-11:002010-09-01T22:18:30.757-11:00FÉLIX LICHNOWSKY: descrição do Mosteiro de Alcobaça,1842<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjtbsVgc5Hts-srSu0sBdT4xcociuBOc0DLPeI2F2tY75qBMC3yyvQ8mpnuPIe7Xi8z1McjztqRGlgx4t9SL3VZZcvk7tVXDSPLcwKbFI8ag02y51nLGJz8a2-AN9kyEIOuH3z7xA/s1600/ALCOBA%C3%87A.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; DISPLAY: block; HEIGHT: 290px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5512103885253493938" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjtbsVgc5Hts-srSu0sBdT4xcociuBOc0DLPeI2F2tY75qBMC3yyvQ8mpnuPIe7Xi8z1McjztqRGlgx4t9SL3VZZcvk7tVXDSPLcwKbFI8ag02y51nLGJz8a2-AN9kyEIOuH3z7xA/s400/ALCOBA%C3%87A.jpg" /></a><br /><div align="justify">A viagem nos séculos XVIII e XIX esteve muito em voga entre as elites aristocráticas da Europa e pode dizer-se que esta se associava à formação do <em>gentleman</em>, que não era mais do que o adulto delicado, elegante e cosmopolita. Este personagem foi muito popularizado no séc. XVIII, na Inglaterra vitoriana, como a literatura nos revela. No caso dos jovens aristocratas, as viagens, alicerçava-os no contacto com o mundo real e eram um complemento da educação para além da vida académica e livresca, e assinalava a entrada do jovem no mundo adulto, como se a viagem fosse o rito de iniciação entre aristocratas.<br />Mas, as viagens não tinham só fim educativo e complementar para jovens distintos; muitas destas viagens eram feitas com fins comerciais e militares e foram precisamente os aspectos económicos que trouxeram a Portugal o príncipe Felix Lichnowsky. As experiencias militares teve-as na vizinha Espanha, nas guerras Carlistas. Na sua biografia consta ainda que se dedicou à política e foi um excelente parlamentário, exercendo em vários países europeus. Na Prússia, onde nasceu e mais tarde na Alemanha, desenvolveu actividades ligadas à economia e à política externa (com bastante habilidade) de forma muito experimentada.<br />Terão sido estas razões que em 1842 levaram <a href="http://www.arqnet.pt/dicionario/fernando2.html">D. Fernando de Saxe-Coburgo-Gotha-Kohary</a>, seu conterrâneo e marido da rainha D. Maria II, a convidá-lo a vir a Portugal para analisar a situação económica e politica portuguesa e assessorá-lo. O país estava mergulhado numa depressão derivada do enorme endividamento de Portugal à Inglaterra sua aliada de sempre.<br />No seu parecer, o príncipe Lichnowsky fez recomendações para que Portugal diversificasse o seu comércio com outros países para não ficar cativo comercialmente de Inglaterra, que no seu parecer derivava do <a href="http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/2350.pdf">Tratado de Methuen </a>entre os dois países. Chocou-o também a miséria em que vivia o povo português e o atraso flagrante de todo o país, onde só algumas zonas do litoral tinham capacidade para exportar e explorar parte dos seus parcos recursos. A análise de Lichnowsky é um mosaico interessante do país numa época e revela aspectos ainda hoje visíveis, como as assimetrias entre litoral e interior e as comunicações. Estas impressões ficaram expressas no livro “<a href="http://www.arqnet.pt/portal/pessoais/lichnowsky_1842.html">Portugal: Memórias de 1842</a>”. Que foi publicado um ano depois da visita que nos fez entre 24 de Junho e Agosto de 1842. É desse livro que extraio uma passagem dedicada a Alcobaça, uma povoação onde se vinha apenas para ver o mosteiro e partir logo de seguida tal como ainda hoje se faz. Ficar era, ao que parece, um suplício e os atractivos, nenhuns. Apesar desta ideia do “ver, olhar, andar e nada gastar” estar presente em quase todos os escritos dos estrangeiros e nacionais que visitaram Alcobaça e se mantém no turismo da actualidade, o facto nunca incomodou ninguém para alterar este princípio em beneficio da povoação do concelho e pessoas. E continua a não incomodar, porque parece suficiente ter esplanadas, cadeiras, areais e insignificâncias similares, que dão para ver, comodamente sentados, os turistas passarem ao longe. É por efeitos destes que os encantadores de serpentes se vêm sucedendo de forma dinástica, em benefício pessoal e dos <em>compagnons de route</em>, mas em prejuízo da povoação e do concelho, impunemente. </div><br /><div></div><br /><div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLSn6Kx0NrDzofl-zyXdqNRUDDtxDtLYgFRJ0S1NeOEKmlbm5mxUwkYy8VLCzCa4YF9C_phINjw1tlQhytgFRfCGn_8Ciua4mJWPMI8LN8jyVpEhn6eBFJx3h3kGsghie4CcM_3w/s1600/gravura+FL.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 267px; DISPLAY: block; HEIGHT: 400px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5512092430286554722" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLSn6Kx0NrDzofl-zyXdqNRUDDtxDtLYgFRJ0S1NeOEKmlbm5mxUwkYy8VLCzCa4YF9C_phINjw1tlQhytgFRfCGn_8Ciua4mJWPMI8LN8jyVpEhn6eBFJx3h3kGsghie4CcM_3w/s400/gravura+FL.jpg" /></a><br /><br /></div><div><div align="center"><span style="font-size:130%;"><strong>Texto do príncipe Felix Lichnowsky sobre o Mosteiro de Alcobaça </strong></span></div><br /><div align="justify">Nessa tarde chegámos a Alcobaça, que fica a três léguas da Batalha. Alcobaça e Batalha são os nomes que usualmente são pronunciados pelos portugueses e pelos estrangeiros quando se trata de urna digressão no interior do país, ou quando se vem a falar acerca das suas coisas notáveis; contudo, é pena que estes dois pontos capitais da grande história portuguesa se achem tão perto um do outro; porquanto necessariamente um deles deve enfraquecer a impressão do outro. E o que acontece principalmente quando se vem da Batalha. Apesar de grandes recordações históricas e poé­ticas, Alcobaça perde muito na comparação que inevitavelmente tem de fazer-se, quando ainda se conserva profun­damente gravada a lembrança da régia Batalha. O túmulo da formosa D. Inés e de seu esposo, D. Pedro I, que o amor tornou cruel, é naturalmente a primeira coisa em que se pensa em Alcobaça, onde as sepulturas, como geralmente em todo o Portugal, são objectos de grande consideração, grande principalmente em relação ao quanto é apoucado o presente; todavia, o exterior de Alcobaça não corresponde de modo algum a sua alta antiguidade, a sua celebridade e as grandes recordações que se ligam ao seu nome.<br /><br />Esta abadia cisterciense foi erigida por D. Afonso Henriques em memoria da tomada de Santarém, como o indica na denominada sala dos reis a noticia da fundação, que se acha traçada em azulejos, e a qual contém um anátema contra aquele de seus sucessores que tratasse de abolir o mosteiro. Acha-se também ali o célebre documento que tem dado que pensar a muitos historiadores e pelo qual D. Afonso Henriques declara o seu reino tributário ao Convento de Clairvaux, segundo se pretende, em paga da intercessão de São Bernardo em Roma. Em contraposição a estes significativos monumentos dos primeiros períodos do reino de Portugal, a facha­da do mosteiro corresponde ao pensamento de urna edificado do último século. A parte central é formada por urna igreja flanqueada de duas torres e cujo frontão sustenta urna grande imagem de Nossa Senhora; de uma e outra parte da igreja prolongam-se dois corpos laterais de grandes dimensões, de 18 janelas de comprimento e de 1 andar de altura, que con­tém os aposentos do mosteiro, e semelham de algum modo a quartéis de tropa. Tudo se acha em estado de grande deterioração, principalmente os alojamentos do mosteiro; a igreja, para onde se entra subindo alguns degraus, é alta e vasta, de um estilo normando -gótico puro e simples, e construída com a mesma pedra branca empregada na Batalha. Um grande espelho (rosace) acha-se sobre a porta principal e, semelhante a um caleidoscópio, é cheio de vidros de varias cores. Na igre­ja não há obra alguma de escultura, a excepção de um órgão de madeira; e, como em todas as igrejas de Portugal, não se encontra ai também nenhuma estátua, nem quadro. Cinco capelas colaterais no cruzeiro, com pesadas douradoras em madeira, um altar-mor branco e dourado com figuras de pau, que se nao podem chamar estatuas, e tendo a roda 10 grandes colunas jónicas, formam todo o ornato desta igreja, aliás nobre, formosa e de mérito arquitectónico. Um sol, ou glória dourada e colossal, que por trás do altar-mor se prolonga em todas as direcções, não se pode dizer que tenha notável beleza, porém produz grande impressão, principalmente quando, ao descer o Sol ao horizonte, essa grande massa brilhante se ilumina e cintila. Em geral nesta igreja tudo parece dis­posto com o fim de produzir efeito; deste modo, por detrás do altar-mor, e em semicírculo, acham-se, em 7 nichos, ou capelas, outros tantos altares, que se conservam obscuros e que, através de uma grade de ferro, se observara como sepul­tados numa profundidade; é isto de um efeito singular, e parece de algum modo urma ilusão óptica. Ali repousa tam­bém o primeiro abade de Alcobaça, irmão do fundador.<br />Visitamos depois algumas capelas, uma das quais, for­mando notável contraste com a igreja, é coberta por toda a parte com as mais ricas esculturas e árvores com folhas e frutos; outra, muito antiga, é inteiramente dourada e cheia com alguns centenares de bustos de madeira pintados, que são efígies de santos, que cobrem todas as paredes como se fora um gabinete de historia natural e trazem sobre o peito bocetas de vidro, onde se acham relíquias; algumas destas figu­ras, que se achavam mais no interior, foram dali arrancadas pelos franceses, que esperavam poder nelas encontrar tesouros; porém, como só achassem pequenos fragmentos de ossos, deixaram intactas todas as outras. Numa grande sacristia meio queimada, achei notável unicamente um tecto muito belo, azul e branco com rosas douradas.<br />Ultimamente, para concluir as nossas investigações, viemos (3) ao carneiro, ou antessala, onde repousam D. Inês e D. Pedro. Em frente um do outro, acham-se dois sarcófagos de mármore branco de 16 palmos de comprimento, 7 de alto e 5 de lar­gura; são ambos cobertos com os mais delicados arabescos e altos-relevos; as figuras dos dois amantes, de grandeza mais que natural, estão colocadas, por ordem expressa de D. Pedro, com os pés de urna contra os da outra, de maneira que no dia de Juízo, se ressuscitarem na mesma posição, vêem-se imediatamente um ao outro, logo depois de terem visto o Céu. D. Inês tem um vestido franzido, cujas mangas curtas deixam ver dois braços redondos que se cruzara sobre o peito; as mãos são compridas, estreitas, mas pequenas para a grandeza da figura; uma delas tem calçada uma luva sem dedos; o corpo do vestido é justo e preso por meio de ala­mares e botões antigos, a semelhança dos da Hungria; com uma das mãos pega num fio de pérolas que lhe cinge o pescoço, e na outra tem uma luva. Como a descortesia dos fran­ceses não poupou nem o nariz daquela formosa dama, é impossível formar urna ideia completa das suas feições, as quais o artista (que era contemporâneo) manifestamente quis representar belas; o rosto é algum tanto cheio, mas não deixa de ter graça, as orelhas estão quase inteiramente cobertas por um toucado muito justo; uma pequena boca e uma covazinha na barba dão a essa fisionomia de pedra um não sei quê de chistoso. Quando se reflecte que el-rei D. Pedro, que seguramente era entendedor na matéria, mandou cinzelar à sua vista este mausoléu, deve presumir-se que pelo menos haverá alguma semelhança com o original. Tem na cabeça urna coroa real, e superiormente estende-se um pequeno baldaquino; seis pequenos anjos estão dispostos em torno de D. Inês, protegerá a sua cabeça, fazem mover turíbulos e pegam na cauda do seu vestido. O túmulo é sustentado por seis figuras em forma de esfinges, das quais, porém, somente duas são de mulher; as outras apresentam rostos de homem com barba ou sem ela. Ao longo do friso alternam-se as armas reais portuguesas com os seis dinheiros da casa dos Castros. O sarcófago de D. Pedro é sustentado por seis leões; o seu rosto severo e barbado (ao qual felizmente deixaram intacto o nariz, alias bem feito) mostra as mesmas feições nobres e ternas que Ihe dão todos os retratos; é coberto por um longo trajo franzido, e com ambas as mãos pega na espa­da; os seus pés está deitado um cão da raça que em Inglaterra tem o nome do rei Carlos II; infelizmente falta urna parte da cabeça daquele formoso animal. As quatro faces de ambos os túmulos são cobertas de pequenos altos-relevos que repre­sentara o Juízo Final, o Purgatório, a Ressurreição e os padecimentos de muitos mártires; a execução destas obras indica de algum modo a infância da arte; geralmente poderão notar--se muitos erros artísticos, ou contra a verdadeira beleza, nestes dois monumentos; mas quem se lembrará de fazer tais observações ai, onde campeiam tão romântica poesia e, ao mesmo tempo, tanta verdade histórica?<br />Em alguns cantos do carneiro e da igreja acham-se também as sepulturas dos três filhos de D. Inês e de D. Urraca, esposa de D. Afonso II (em 1220), e muitos outros de mui pouca importância e que contêm infantes e infantas falecidos nos séculos XIII e XIV.35 Contudo, os dois mausoléus, célebres no mundo inteiro, tinham de tal sorte absorvido todo o interesse da nossa observação que aos outros somente pudemos conceder ligeira atenção. Uma coisa porém deve surpreender depois de uma tal viagem ao reino dos mortos, e vem a ser que em todo o país haja tantas sepulturas de reis espalhadas por toda a parte. A impressão torna-se absoluta­mente maior e mais solene, e é historicamente mais justo, e mais verdadeiro, que esses príncipes repousem onde quiseram repousar, onde lidaram ou triunfaram, ou onde fizeram (5) fundações : pára-se numa pequena povoação de urna montanha, ou numa solitária abadia, a fim de grave, conscienciosa e solenemente visitar a lousa de um rei, ou de um herói, que ai faleceu; enquanto os jazigos gerais, como São Dinis, a Capela de São Jorge e a dos Capuchinhos deixam frio o observador e chegam a enfadar depois de urna longa demora. Coimbra, Guimarães, Batalha, Alcobaça, e outros lugares que infelizmente não pudemos ver, conservarão provavelmente os seus túmulos reais, porquanto nenhum interesse momentâneo exigirá imperiosamente que o espírito de centralização se faça também extensivo aos mortos.<br />A hospedaria em Alcobaça era tão má que ainda durante a noite tivemos de partir, e, depois de uma marcha de três horas, chegámos à povoação, célebre pelos seus banhos, cha­mada as Caldas da Rainha, que tem a reputação de ser uma terra interessante, e onde obtivemos, em recompensa do nosso trabalho, a vantagem de mais algumas comodidades. Não era porém então a estação própria, e por isso o melhor que pudemos fazer foi montar de novo a cavalo, logo depois de algumas horas de descanso. Caminhámos com vento, chuva e um tempo fresco, por urna estrada sofrivelmente calçada e através de um território agreste, coberto de pinheiros e mato, até que finalmente chegámos a Vila Nova da Rainha, estação superior dos vapores do Tejo, onde o Sertorius nos recebeu e nos desembarcou em Lisboa, ainda antes de findar a tarde. </div></div>ANTONIO DELGADOhttp://www.blogger.com/profile/03040014273135959079noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-26255522.post-404731444511504772010-08-26T08:55:00.009-11:002010-08-30T11:23:48.050-11:00TAMBÉM ESTIVE AÍ<div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZzGYlWlPclm9Ojy2hr__GCBjaRyFT0qTsxoydyn284lb7urieM1Hi026neABH06nCJsGiekySoZE_-q8W_XRfIx9FJVmm3aijx8eBReEbqu_34TFT7jkKWG8Zrgli1Ew83Wf_cg/s1600/foto+extraida+da+net.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; DISPLAY: block; HEIGHT: 279px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5509810084613220834" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZzGYlWlPclm9Ojy2hr__GCBjaRyFT0qTsxoydyn284lb7urieM1Hi026neABH06nCJsGiekySoZE_-q8W_XRfIx9FJVmm3aijx8eBReEbqu_34TFT7jkKWG8Zrgli1Ew83Wf_cg/s400/foto+extraida+da+net.jpg" /></a><span style="font-size:85%;"> Foto extraída da net, neste ponto (<a href="http://www.google.es/imgres?imgurl=http://img.photobucket.com/albums/v517/officelounging/soares_elefante_21.jpg&imgrefurl=http://5dias.net/category/cincodias/andre-levy/&usg=__rk-97yA6AC5SJ7DiqE02kFiW6qk=&h=349&w=500&sz=44&hl=pt-PT&start=71&zoom=1&um=1&itbs=1&tbnid=vEfCQd5wrUIMNM:&tbnh=91&tbnw=130&prev=/images%3Fq%3Dm%25C3%25A1rio%2Bsoares%2B%25C3%25ADndia%26start%3D60%26um%3D1%26hl%3Dpt-PT%26sa%3DN%26rlz%3D1W1ADRA_pt-PT%26ndsp%3D20%26tbs%3Disch:1"> click</a>)</span></div><br /><br /><div align="justify">Há dias, polemicou-se nos EUA as férias da Primeira Dama e sua filha, na Costa do Sol em Espanha. Dizia-se não ser oportuno empreender tal viagem, porque o país estava em crise, e que a 1ª dama deveria ser mais patriota, em vez de ir para Espanha deveria veranear no golfo do México, entre o crude derramado pela BP, para dar o exemplo…<br />Este tipo de reacção confirma que mesmo nos EUA, não há nada melhor para fazer que criticar os actores políticos no verão. O episódio distrai de situações graves como a presença militar no Afeganistão, que mantém um estado inútil de coisas e a escalada bélica que caminha para o fiasco e gera a ascendência dos taliban…<br />Mas, como a vida no verão é “mais tranquila”, fala-se de coisas com transcendência efémera: A Srª. Obama vai de turismo a Espanha. Isto já é motivo de polémica e discussão televisiva para espectadores em calções e chancas. Discute-se a oportunidade e conveniência, de onde e como a Sr.ª Obama foi de turismo, mas não o facto de ter direito a fazê-lo.<br />Será o turismo uma actividade sujeita a debate? Pois sim. É hora de começar a considerá-lo como uma das belas artes, e uma actividade básica para o desenvolvimento da humanidade, e o turista um ser digno de estudo antropológico e social, por ser uma variedade nómada do homo citadinus.<br />É oportuno fazer estudos académicos, incluindo teses de doutoramento que analisem o seu âmbito. Como sobrevive a meia pensão num período de quinze dias e dezasseis noites, como reage à falta de comida de casa, como se sente e esteticamente como se veste adaptado a um meio adverso, ou mesmo como sobrevive a desarranjos intestinais e suporta altas temperaturas, para conhecer ruínas monumentais in situs…<br />Canais especializados transmitem nesta altura programas turísticos, em que uns jovens percorrem o mundo para nos ensinar os costumes próprios de cada sítio, e os monumentos que se devem ver obrigatoriamente.<br />Ao nível das ciências sociais e económicas, o turista é já uma espécie a preservar, e em muitos países é a principal fonte de rendimentos; como sucede com o atum, mas morto. Ao contrário do perciforme, o turista deve-se conservar vivo e com o cartão de crédito activo.<br />Era tempo de haver estudos aprofundados sobre o turista numa secção entre as ciências sociais, biológicas, etnográficas e económicas e de estudar o turismo como espécie, não como ramo da hotelaria, centrada na compra e venda de bilhetes e lugares de hotéis e aviões… Deve-se ir ao cerne da questão e analisar com profundidade, não apenas o fenómeno do turismo, mas o próprio turista em si, como um ser com entendimento e vontades.<br />Coube aos britânicos a invenção desta actividade gerada em simultâneo pela expansão do seu império. Enquanto as suas tropas se estendiam pelo mundo, corriam a seu lado as companhias comerciais inventando o vagão-restaurante, a genebra, o baú das caixas, e o celebre Phileas Fogg. Os britânicos são especialistas em promover novidades e criar regras sobre elas. Quando saíram a conhecer o mundo, as duas coisas que logo fizeram foi: escrever uma guia de viagens e espoliar todos os monumentos, com a desculpa que esses espólios estariam melhor no Museu Britânico. Por aqui ainda se imputa aos franceses a pilhagem dos nossos monumentos no período das invasões, mas foram os ingleses a possuir o livre acesso a todos esses bens.<br />No presente, o turista é levado e trazido sem nenhum critério científico, vergado ao pastoreio de guias comerciais.<br />A questão deve ser mais profunda, porque não temos a certeza de que o nipónico que vemos em Berlim não seja o mesmo que estava o ano passado na Batalha. No entanto há uma coisa que o distingue: a forma de vestir.<br />Na Grécia, usam normalmente manguitos como os ciclistas quando sobem um lugar elevado. Mas no Vale dos Reis no Egipto, a 40ºC, tapam-se com chapéus de abas e cobrem-nos com um véu de tule, como uma dama das camélias. Estes detalhes devem ser estudados, do mesmo modo que estudamos os costumes dos Massais. O ser humano não é o mesmo ao assumir-se como turista num pais tropical a tomar pinha colada, ou em peregrinação a Fátima.<br />A origem do turista está na curiosidade em ir ver o que há por aí. Também porque, no fim de contas, todos somos turistas em algum momento por algum motivo, como foram Michelle Obama e os doze carros de escoltas em Marbella, o Dr. Soares nas Seychelles, os peregrinos com bolhas nos pés em Fátima e até o Santo Padre em Portugal durante uns dias.<br />No fundo todos fazemos por mostrar a foto e dizer “eu também estive aí”. <span style="font-size:85%;">António Delgado in </span><a href="http://www.jornaldeleiria.pt/files/_Edicao_1363_4c753b658dcec.pdf"><span style="font-size:85%;">Jornal de Leiria 26/8/2010</span></a></div>ANTONIO DELGADOhttp://www.blogger.com/profile/03040014273135959079noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-26255522.post-17991067432616877602010-08-23T14:12:00.020-11:002010-08-25T06:38:29.900-11:00O Conde Raczynski e uma descrição do mosteiro<div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEilW4dl1XMrKpPYTOBfeiRTAtyb1CmdH_9s46OBHmr7zCXn-SyY6DGg5EiXOMRIEE4gvlijzYyjr4f977IMAJ2EDYD7rQE_mmkxnhc19dP1Dhnvk9h5tni4XbMJwPsEQuqJ0xw27A/s1600/Compte+Raczynsky.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 288px; DISPLAY: block; HEIGHT: 400px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5509380009211290578" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEilW4dl1XMrKpPYTOBfeiRTAtyb1CmdH_9s46OBHmr7zCXn-SyY6DGg5EiXOMRIEE4gvlijzYyjr4f977IMAJ2EDYD7rQE_mmkxnhc19dP1Dhnvk9h5tni4XbMJwPsEQuqJ0xw27A/s400/Compte+Raczynsky.jpg" /></a><strong> <span style="font-size:130%;">Conde de Raczynski </span></strong></div><div align="center"><span style="font-size:85%;">por Gemälde von Carl Wilhelm Wach<br /></span><br /><div align="justify">À excepção de alguns ambientes diplomáticos e dos meios académicos, poucos são aqueles que ouviram falar do conde Raczynski. Este ilustre aristocrata polaco desembarcava em Lisboa no ano de 1843, numa missão diplomática, como ministro do rei da Prússia em Portugal, onde residiu até 1846. Além de diplomata era um insigne académico, amante da cultura e da arte. Durante o período que esteve em Portugal, estudou e pesquisou a arte portuguesa antiga, elaborando o mais importante corpo da história artística alguma vez feito em Portugal nessa época. Ao ser polaco, era imune às apreciações localistas. Reviu com imparcialidade certas autorias fantasiosas e aplicou métodos inovadores num país com escasso desenvolvimento artístico e uma cultura estética caracterizada por uma instrução assaz reduzida. Profundamente ilustrado e estudioso, as suas análises eram experientes e com independência crítica, aliando rigor de método onde dominava ainda a apreciação histórica e a arte coeva. O seu rigor metodológico levou-o a percorrer o país, visitando monumentos, igrejas, bibliotecas e as galerias particulares mais famosas, para decantar uma visão abrangente da arte portuguesa como foi a sua. Neste trabalho conviveu com importantes bibliotecários, arquivistas, e eruditos de nome sobressaliente como: Alexandre Herculano, Vasco Pinto de Balsemão, o visconde de Juromenha, Francisco de Sousa Loureiro, Manuel-Francisco de Barros, e Lucas José dos Santos Pereira ou Ferdinand Denis, conservador da biblioteca Sainte-Geneviève,<br /><br />Pode afirmar-se com propriedade que os dois estudos que elaborou: Les arts au Portugal (1846) e Dictionnaire Historico-artistique du Portugal (1947), em termos históricos, surgem como rotura metodológica e critica ao que até então se fazia, por cá, em que o estudo e a sistematização da arte e do património como campos próprios eram, por assim dizer, quase inexistentes senão nulos. Com o seu trabalho tentou dar acesso a uma documentação inédita sobre a arte portuguesa do século XVI para diante. A ele se deve o primeiro inventário geral dos bens culturais portugueses, com a elaboração de um relatório das obras de arte e a publicação de documentos inéditos, como os diálogos romanos de Francisco da Hollanda, traduzidos por Auguste Roquemont. Tentou ainda restabelecer a verdade histórica sobre o mítico pintor português, Grão Vasco, aferindo as fontes e comparando sistematicamente as obras. Este trabalho publicado em francês em 1846 e prolongado no Dictionnaire historico-artistique du Portugal em 1847, foi inicialmente considerado inferior e feito às “três pancadas”. No entanto, hoje é apreciado como fonte essencial para a história da arte portuguesa<br /><br />Como inovador, as suas estimações críticas esbarraram com um modus vivendi, onde não havia experiência nem metodologia, e foi por isso alvo de uma reacção violenta, como é costume acontecer contra quem tenta inovar. Este facto tê-lo-á levado a suspender um terceiro volume sobre arte em Portugal.<br />Escusado será dizer que no campo da arte em si (da história, da critica, da sociologia, da filosofia sobre arte, …,) continuamos a não ser especialmente dotados, senão a Unesco não recomendaria ao Estado Português, que investisse mais no campo artístico em todos os níveis de ensino e posteriormente as Artes tal como a Medicina, serem declaradas prioritárias pelo governo da República.<br /><br />Quanto ao conde Raczynski, é no contexto das viagens por Portugal, feitas para o estudo da arte portuguesa, que surge uma sua pequena apreciação sobre o mosteiro de Alcobaça, no seu livro “Les Arts au Portugal” e por simpatia com pequenos juízos da povoação, gentes e os monges.<br /><br />O texto de Raczynski, deve ser entendido como expressão própria de uma época e numa visão imparcial, mas com um olhar artistico e intelectualmente bem formado.<br /><br /></div><div align="center"></div><span style="font-size:130%;"><strong>DESCRIÇÃO DO MOSTEIRO POR RACZYNSKI<br /></strong></span><br /><div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPAO7y52bSFm2BYCUDFb-ymqJOfAsF5e5IqPV6mtTaKhJdXcEdOwRQ66sszxrY8PSjDYfM24D-pW65bgSurBqFJARfXXV5K2Z4pFt3_jqBCNuWS9aTjGC3BVwFrrdv0pYsrl88Kg/s1600/img005.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 359px; DISPLAY: block; HEIGHT: 271px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5508782048387106146" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPAO7y52bSFm2BYCUDFb-ymqJOfAsF5e5IqPV6mtTaKhJdXcEdOwRQ66sszxrY8PSjDYfM24D-pW65bgSurBqFJARfXXV5K2Z4pFt3_jqBCNuWS9aTjGC3BVwFrrdv0pYsrl88Kg/s400/img005.jpg" /></a> <strong><span style="font-size:85%;">Aguarela de James Holland</span></strong></div><br /><br /><p align="justify">"No dia 25 saí muito cedo das Caldas e necessitei cinco horas para chegar a Alcobaça, que está a 4 léguas. O dia era lindo e fazia muito tempo que não dava um passeio tão grande a cavalo e com tanto calor. Apesar do cansaço fui directamente até à igreja e coloquei-me numa janela para desenhar o túmulo de Inês de Castro.<br />Alcobaça está bastante bem construída e os seus habitantes não parecem miseráveis. Os preços dos produtos de primeira necessidade são mais altos que na nossa região: um par de bois custa aproximadamente 15 moedas (450 francos ou 120 thaleres de Prússia).<br />Um advogado fez-me alguns relatos sobre os monges que não os deixa em bom lugar; eram vistos como os tiranos no país. É verdade que as propriedades e os privilégios de que desfrutavam eram enormes e que os seus fazendeiros, rendeiros ou serventes só ganhariam com uma mudança que lhes outorgava a livre posse do que lhes custava antes tanto trabalho, sacrifícios e muita sujeição. Até que ponto os monges abusaram dos seus direitos? Até que ponto esses direitos tinham sido justamente adquiridos? São perguntas que requerem um exame em profundidade. O que é certo é que todas as pessoas imparciais, salvo um aldeão bêbado, estavam de acordo em que a supressão desta comunidade beneficiava o país. O que também é certo é que os monges eram grandes adeptos de D. Miguel e que, se não me engano, apetrecharam, pela sua própria conta, um batalhão de voluntários para a defesa da sua causa. Por sua parte, D. Miguel demonstrou muita simpatia por eles, foi visitá-los e passou vários dias no convento. Não se pode negar que apoiando-o, os monges mostraram muita subtileza e discernimento; os assuntos de D. Miguel apenas terminados foram expulsos da sua antiga habitação. A biblioteca era valiosa e muito rica em manuscritos. Todos esses tesouros da ciência, todo esse material da História foram levados para Lisboa. Não me atrevo a afirmar que estejam guardados, classificados e conservados com cuidado. Conta-se que um número importante foi roubado mas não sei muito a esse respeito, porque se a imoralidade dos que se envolvem em revoluções aumenta pelo frequente regresso das comoções, sua inclinação para a calúnia aumenta certamente ainda mais. Devemos acrescentar que as propriedades dos monges ocupavam uma extensão de várias “léguas” quadradas, quase desde Leiria às Caldas e que os seus rendimentos estavam calculados em várias centenas de milhais de cruzados. Tendo as persecuções que sofreram começado antes do domínio de D. Miguel, os monges exerceram duras represálias contra os que se mostraram sôfregos em melhorar sua posição a expensas do convento.<br />Pode-se dizer que a ala da igreja de Alcobaça é magnífica; embora não tenha ornamentações, parece maior que a da Batalha. Os túmulos que se encontram dentro de uma das capelas constituem a parte mais rica e mais interessante. Destacaremos na primeira linha os de Inês de Castro e D. Pedro I, que morreu em 1367 e que foi chamado o Justiceiro por causa do seu inexorável rigor com os malfeitores. Prova disso foi a maneira cruel em que mandou matar os executores da sentencia pronunciada pelo pai contra Inês de Castro. O coração de um deles foi arrancado pelas costas e o do outro pelo peito, enquanto D. Pedro assistia a execução. Estes dois sepulcros estão bem conservados, salvo uma parte onde os soldados do exército de invasão fizeram buracos esperando encontrar algum tesouro. Estas marcas do vandalismo e da cobiça inseparáveis das guerras civis ou estrangeiras foram cobertas de gesso. Também devemos acrescentar que em Coimbra os que combatiam pela liberdade trataram com menos respeito ainda as suas próprias relíquias históricas.<br />As tumbas estão ricamente ornamentadas com esculturas representando acontecimentos da vida de D. Pedro e Inês. Na mesma capela estão também outros sarcófagos: o de Beatriz, mulher de Alfonso II, (1220), o dos filhos de Inês e mais alguns. O claustro parece bastante deteriorado, embora ainda não esteja completamente em ruína. A biblioteca tem uma fama que não é merecida; o espaço que ocupa é amplo, mas é tão pouco elevada que as suas proporções não deixam nenhuma impressão de grandeza. Nada se fez para a conservação deste monumento. Não é assim para a Batalha onde foram dedicados cada ano 2 contos (3.200 thaleres ou 11.900 francos) para reparações, que deram resultados bastantes mais satisfatórios do que se podia pensar com tão pouco dinheiro. A sala que contém as estátuas de todos os reis de Portugal não me satisfaz; têm todas um ar moderno, o estilo e o carácter estão faltos de veracidade cronológica e todos estes reis parecem ter encontrado os trajes no guarda-roupa do Theâtre-Français no tempo de Luís XIV (ver N.T.)<br />Um grande painel lateral, que segundo o sacristão foi pintado por Joseph de Obidos (1684) pareceu-me bastante medíocre. Salvo este painel, não vi nada em Alcobaça que se parecesse a um quadro.<br />O aspecto exterior da igreja é bastante grandioso, embora a fachada acrescentada no século XVII seja um “monstro” de anacronismo arquitectónico, um conjunto esquisito de todos os estilos, desde o gótico até ao rococó. In "<a href="http://purl.pt/6390/1/">Les Arts En Portugal, Lettres adressees a la societé artistique et scientifique de Berlin</a>". pp. 453 a 456.</p><p align="justify">N.T. Théâtre- Français (ou Comédie française) é um teatro nacional subsidiado pelo Estado. Foi fundado em 1681</p><p align="justify"></p></div>ANTONIO DELGADOhttp://www.blogger.com/profile/03040014273135959079noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-26255522.post-15169375509171054342010-08-20T12:11:00.013-11:002010-08-20T20:51:25.365-11:00FECHAR ESCOLAS E UM TEXTO DO EÇA DE QUEIRÓS SOBRE EDUCAÇÃO PÚBLICA<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiUikauIrjctuaC_z1EMJf9NP9sKrpWikHEpVX4jFgtaNZ1b1PPRzwYaO8eovd1vJRCBy4_KfacGCCB0lpgCPxreGP8gqMs2-uwcC33otDxy2s1dTo29cak8PNE_lOz1OWN_nd2Vw/s1600/escola+prim%C3%A1ria.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; DISPLAY: block; HEIGHT: 300px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5507668525072937634" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiUikauIrjctuaC_z1EMJf9NP9sKrpWikHEpVX4jFgtaNZ1b1PPRzwYaO8eovd1vJRCBy4_KfacGCCB0lpgCPxreGP8gqMs2-uwcC33otDxy2s1dTo29cak8PNE_lOz1OWN_nd2Vw/s400/escola+prim%C3%A1ria.jpg" /></a><br /><div><strong><span style="font-size:130%;color:#6666cc;"></span></strong></div><br /><div>Escolas que fecham em Alcobaça:</div><br /><div></div><br /><div align="justify">Escola Básica Casal do Abegão, Évora de Alcobaça, Alcobaça; Escola Básica Mélvoa, Pataias, Alcobaça; Escola Básica Silval, Turquel, Alcobaça; Escola Básica de Frei Domingos, Benedita, Alcobaça; Escola Básica de Acipreste, Évora de Alcobaça, Alcobaça; Escola Básica do Carrascal, Aljubarrota (Prazeres), Alcobaça; Escola Básica da Junqueira, Cela, Alcobaça; Escola Básica de Castanheira, Coz, Alcobaça; Escola Básica de Valado de Santa Quitéria, Alfeizerão, Alcobaça; Escola Básica Gaio (EB1); Escola Básica da Pedreira de Moleanos, Évora de Alcobaça, Alcobaça; Escola Básica do Casal Velho, Alfeizerão, Alcobaça</div><br /><div>....................................................................................................................................................................</div><br /><div><span style="color:#66cccc;"></span></div><br /><div align="justify"><strong><span style="color:#66cccc;">Nos últimos dias, os comentadores e as oposições têm-se mostrado indignados com o fecho oficial de centenas de escolas pelo país fora. Parece que “o assunto não irá ficar por aqui”, ameaçam alguns.<br /><br />Desde os governos liberais, republicanos, Estado Novo até mais recentemente aos governos pós 25 de Abril, a educação nunca foi entre nós uma prioridade, salvo para fazer estatísticas de ocasião, que nada revelam senão o que se sabe. Um eterno problema adiado.<br /><br />Em 1872, Eça criticava o estado da educação pública em Portugal, e a demissão dos sucessivos governos neste assunto, num artigo datado de 1872. Com relativa facilidade podem-se estabelecer paralelismos entre os problemas da actualidade e os que criticava no passado. O texto tem cerca de 120 anos, mas se fizermos um exercício de abstracção relativamente ao estilo linguístico da época e à ortografia, parece que nada mudou em mais de um século.<br /><br />O crítica assertiva de Eça quanto à educação mantém-se.<br />Mesmo e depois de assistirmos sucessivamente às invenções do telefone, do cinema, do automóvel, do avião, do telemóvel e da internet com que muitos deliram, Portugal continua a não entender de Educação e deve ser o único país onde esta realidade se repete.<br /></span></strong></div><br />PS. O texto de Eça de Queirós está na escrita original.<br /><div></div><br /><div><br /></div><br /><div align="justify"><span style="color:#6666cc;"></span></div><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 476px; DISPLAY: block; HEIGHT: 273px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5507665976369761842" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYurYcaqTbwYRPavpaFscchmsL866mtpIP_63z9VrrHDMcjP3LsUVcL-mHQXqkjWdZE6RObD8eSJbCcFCF3QDyeedVlWWWARY6J-GKpIetlGXwRHhTLA9sKxIEJYr7LMqbOlh1qg/s400/public%2520school-19th%2520century%2520classroom%5B1%5D.jpg" /><br /><br /><div align="justify"><span style="color:#6666cc;"></span></div><br /><br /><div align="center">TEXTO DE EÇA DE QUEIRÓZ, SOBRE A EDUCAÇÃO (1872)</div><br /><br /><div align="justify"></div><br /><br /><div align="justify">Eis aqui, com algumas reflexões e algumas cifras, o estado da instrução publica em Portugal:<br /><br /><br />Em primeiro lugar a instrucção entre nos está toda a cargo do governo.<br />As camaras municipaes, que por urna velha tradiçáo nunca se occuparam das cousas da intelligencia — nao dão sequer esmola ao A B C. Uma Camara tem antes de tudo, como objecto, macadamizar commodamente as ruas ou as viellas de SS. SS.as os vereadores; depois tem de construir as estradas que levam as quintas, onde SS. SS.as os vereadores, de tamancos e collete aberto, suam sob a folhagem da faia — sub tegmine fagi; depois tem de empregar, subsidiar, e em geral manter, todos os afilhados de SS. SS.as os vereado­res. Quando chega a passar o A B C, SS. SS.as teem a inicia­tiva cançada e a bolsa esvaziada.<br /><br />Por seu lado os particulares, com singularissimas e sympathicas excepções, nunca levaram a mão à algibeira, para dar um pataco a uma escola. (E como estranhar esta abstengo póde parecer urna originalidade phantasista, devemos lembrar que em Inglaterra, Franca, Allemanha, Dina­marca, Suecia, Italia, Russia, Hespanha, Estados-Unidos, os particulares sustentam com um hombro as paredes da escola que os municipios amparara com o outro.)<br />A leí de 20 de Setembro de 1844 concedeu as cámaras municipaes authorização para fundarem, com os seus rendimentos, escolas primarias. Quem atienta n'estes termos, suppõe muito racionalmente que as cámaras estavam ávidas de fundar escolas, e que o amor da instrucção tinha verda-deiramente tomado o freio nos dentes: suppóe ainda que leis anteriores teriam circunspectamente domado este impeto desabalado de educar: — e que a lei de 1844, alargando um pouco as redeas, permittiu as cámaras palpitantes o criarem as appetecidas escolas, nao n'uma carreira desordenada, mas n'um chouto modesto: e suppóe emfim que, feíta a concessão, as cámaras se atiraram aos pulos, aos corcovos, com a clina esguedelhada, a levantar os alicerces das escolas! Pois bem, sabem quantas escolas teem as cámaras fundado, inteiramente a expensas suas, desde 1844, ha quasi trinta annos ? Urna, em Setubal!<br />De resto, nao sejamos injustos. Algumas cámaras tendo, com o curso dos annos, chegado a comprehender que<br />soletrar nao é inteiramente táo criminoso como roubar, déram generosamente o auxilio dos seus cofres para a organizado do ensino—e as 300 cámaras do paiz, juntas as 4:000 parochias, teem concorrido, n'este espaco de 30 annos, com um subsidiozinho de tostóes para a fundação de 41 escolas!</div><br /><br /><div align="justify"></div><br /><br /><div align="justify">Tal é o desvelo, a intelligencia, o patriotismo com que SS. SS.as, as espêssas cámaras municipaes, se occupam da instrucção.<br />É urna situação paralella á dos cafres — de nossos irmãos os cafres.<br /><br />O Estado, portante, tem a instrucção inteiramente a seu cargo, e sob sua responsabilidade.<br />Ora, tendo um paiz a educar, eis o que o Estado tem feito:<br />Sabéis, amigos, quantas escolas ha, de Norte a Sul, n'este paiz onde floresce a vinha e Melicio pensa ?<br />2:300!<br />Existindo no paiz, segundo as ultimas estatisticas, 700:000 crianças, e nao sendo justo que se apertem na estreiteza abofada d'uma escola mais de 50 alumnos, (e ja é fazer transpirar de mais tenros cidadáos imberbes) segue-se que deveriamos ter 14:000 escolas...<br />Temos 2:300!<br />Devendo, pois, fundar urna escola para cada 50 crianzas, possuimos apenas urna escola para cada 300 crianzas! Ha urna escola para cada 2:600 habitantes!<br />Das 700:000 crianças que existem em Portugal o Estado, n'essas 2:300 escolas — ensina 97:000. Isto é, de 700:000 crianzas, estáo fóra da escola mais de 600:000!<br />D'estas 97:000 enancas que frequentam as escolas, sabéis, amigos, quantas se apuram promptas, por anno ? Segundo as ultimas inspecções — em cada 50 alumnos apura-se 1 alumno!<br /></div><br /><br /><div align="justify">Portante Portugal, de 97:000 crianzas que traz nas suas escolas —tira por anno, sabendo os rudimentos, 1:940!<br />Mordei-vos de ciumes, oh cafres!<br />Para esta situação concorrem o alumno, o mestre, e a escola. E a culpa toda recabe no Estado. Porque o Estado impossibilita o alumno, inutiliza o mestre e abandona a escola. Vai, como o general Boum, por tres caminhos — contra o A. B. C.!<br />Nos campos a familia é hostil á escola, diz-se. Erro.<br />A familia nao nega o filho á escola, requer o filho para o trabalho. A criança ahí, de sete a dez annos, já conduz os bois, guarda o gado, apanha a lenha, acarreta, sacha, collabora na cultura. Tem a altura de urna enxada e a utilidade de um homem. Sahe de madrugada, recolhe ás trindades, com o seu día rudemente trabalhado. Mandal-o á escola, de manhá e de tarde, umas poucas de horas, é diminuir a forga produc­tora do casal. Um alumno de mais na escola é assim um braço de menos na lavoura. Ora urna familia de lavradores nao pode luxuosamente diminuir as suas forjas vivas. Nao é por o filho saber soletrar a cartilha que a térra Ihe dará mais pão. Portanto tiram a crianza á escola para a empregar na térra.<br />O remedio a isto seria a criagáo de cursos nocturnos.<br />Á noite, o campo restituiría a crianza á escola. Os cursos nocturnos eram outr'ora exclusivamente para os adultos que tinham o seu dia tomado pela lavoura ou pelo officio. No emtanto n'um paiz pobre, como o nosso, de pequena cultura e de pequena industria, a crianza trabalha quasi tanto como o homem. O filho tem o seu dia tomado pelo mesmo labor do pai. Os cursos nocturnos deveriam ser sobre-tudo para elle—senão para ambos.<br />Ora sabem quantos cursos nocturnos havia em Portugal em 1862?—62!<br />Em Italia, paiz de populacáo apenas quintupla, e cuja instruccáo se arrasta vagarosamente, havia — 5:000!<br />Sabem quanto todos os municipios juntos, os trezentos municipios do paiz, dáo para os cursos nocturnos, suprema facilitacáo da instruccáo? 1:200$000 reís!<br />Sabem quanto da o Estado para esses 62 cursos ? 240$000 reis para os cursos nocturnos! 3$890 reis a cada curso! Pouco mais de tres quartinhos! É com estas despezas desvairadas que se fazem as bancarrotas desastrosas!<br />Mas nao é tudo! Em 1867 o ministro do reino promoveu enérgicamente a criacáo de cursos nocturnos. Fez-se um esforgo arquejante, e conseguiu-se, depois de mezes prolon­gados, criar 545 cursos! As cámaras, no primeiro enthusiasmo, prometteram magnánimamente, para auxiliar estas criações —12:000$000 reís. Pois bem, sabem o que succedeu? Mezes depois, as cámaras negaram-se a continuar as dotações!<br />Algumas mesmo nao chegaram nunca a pagal-as!<br />Outras nao quizeram satisfazer ao professor os ordenados ja vencidos!<br />N'um districto, no bestial districto de Evora, dos 18 cur­sos nocturnos que se abriram, restavam apenas, mezes depois, 3!<br />No districto de Ccimbra (oh lusa Athenas!) de todos os cursos que havia, nao resta va, passados mezes—nenhum!<br />Últimamente, em Peniche, os cursos nocturnos eram frequentados por 700 alumnos. A hedionda cámara fechou-os todos!</div><br /><br /><div align="justify"></div><br /><br /><div align="justify">Dos 545 cursos que se conseguiram criar em 1867, res­tara menos de 100!<br />Que Ihes parece, meus senhores, esta singular infamia ?<br />Oh, nossa patria! Deus na sua justiça te dé uma boa e feroz tyrannia, que te deite nas palhas das cadêas, te vergaste nos velhos pelourinhos que ainda existam, e te enfor-que ñas través apodrecidas das fórcas de outr'ora!<br />Outra das vergonhas d'esta situação é o professor.<br />O professor de instruccão primaria é o homem no paiz mais humildemente desgranado, e mais cruelmente desattendido.<br />Sabem quanto ganha una professor de instruccáo prima­ria? 120$000 reis por anno, 260 reis por dia! Tem de se alimentar, vestir, pagar urna casa, comprar livros, e quasi sempre comprar para a escola papel, lapis, lousas, etc. — com treze vintens por dia. Note-se que, para a alta moralidade da sua missão, o professor deve ser casado. Pois bem, para criar urna familia — treze vintens por dia!<br />Mas oucam! Ja em 1813 a junta directora dos estudos pedia ao governo que, pelo menos, désse aos professores pri­marios 200$000 reis. Pedia-se isto ha 60 annos! A junta dizia, enérgicamente: «decidamo-nos; sem ordenados sufficientes nao ha professores idóneos.» Em 1813, 200$000 reis para um professor era considerado pelas repartições compe­tentes um ordenado—apenas sufficiente. E em 1872, com o extraordinario augmento dos precos, a triplicada carestía da vida—o professor tem ainda de ordenado os velhos 120$000!<br />Note-se mais! Ha 35 annos, Rodrigo da Fonseca Maga-Iháes, considerando que o professor nao podia viver, nem<br /><br /><br /><br />educar-se, nem aproveitar, com o ordenado avaro do antigo régimen—determinou que os professores de Lisboa tivessem 400$000 reís, e os das outras térras 250$000 reis. Pois bem: d'ahi a tres mezes essas medidas racionaes e inevitaveis fóram abolidas! Determinou-se até que aos professores nao fóssem pagos os ordenados vencidos — e arremessou-se de novo, violentamente, o professor para a indigencia!<br />Além d'isso o professor de instruccáo primaria nao tem carreira. Está fechado no seu destino como n'uma desgraca murada: crescer-Lhe-háo os filhos, vir-lhe-háo os cabellos brancos, terá educado geracóes, e continuará sem esperanca de memoria a soffrer dentro dos seus 120$000 reís! A falta de carreira é a extincção do estimulo, a petrificacáo da vontade, o abandono do ser á fatalidade, á rotina e á iner­cia. O homem assim nao procura progredir: embrulha-se na somnolencia do seu officio como quem se accommoda para a eternidade.<br />Urna eternidade de 120$000 reís! E aínda d'este estreito salario tem quasi de sustentar a escola. O alumno pobre so acceita o ensino absolutamente gratuito. Se tem de comprar pennas, lapis, lousa, pauta, papel — abandona a escola. O professor é forcado a pagar estes apetrechos, de outro modo desertam-lhe a aula, e o vazio da sua escola seria o fim do seu salario.<br />Accresce que o professorado é uma alta, difficil sciencia que se necessita apprender. É esse o fim das escolas normaes — apprender a ser mestre. So a Italia, tem hoje ja 91 esco­las normaes. Sabem quantas havia em Portugal? Uma. E sabem o que fez o governo para seguir esse movimento civilizador e fecundo, que por toda a parte multiplicava as Escolas Normaes? Correu sobre a única que tinha-mos e — extinguiu-a! É verdade, meus senhores, extin-<br /><br /><br />guiu-aí Déra ella, no pouco tempo que viveu, 91 professo-res, todos aproveitados pelo Estado — porque 70 regiam aínda ha pouco escolas publicas, e o resto occupava-se no ensino livre!<br />Este professorado quasi sem salario, de todo sem car-reira, sem apprendizagem normal, cria a seguinte situíi^áo:<br />Na ultima inspecc.áo — d'entre 1:687 professores, so fóram encontrados com habilitares literarias 2631 E so fóram julgados zelosos—172!<br />Que vos parece, patriotas ?</div><br /><br /><div align="justify"></div><br /><br /><div align="justify">A escola por si offerece igual desorganizado. Os edificios (a nao ser os legados pelo conde de Ferreira, que ainda quasi nao funccionam) sao na maior parte urna variante torpe entre o celleiro e o curral. Nem espaço, nem asseio, nem arranjo, nem luz, nem ar. Nada torna o estudo táo penoso como a fealdade da aula. Nao pedimos de certo para uso do A B C os classicos jardins d'Armida: mas está na mesma essencia da organizado dos estudos a boa disposição material do edificio escolar. Sobretudo nas aldeas é quasi impossivel attrahir ao estudo, n'uma saleta tenebrosa e abafada, crianzas inquietas que veem do vasto ar, da luz alegre dos prados e dos montes. A escola nao deve ter a melaneholia da cadéa. Pestallozi, Froebel, os grandes educa­dores, ensinavam em pateos, ao ar livre, entre arvores. Froebel furia alternar o estudo do A B C e o trabalho manual; a crianza soletrava e cavava. A educação deve ser dada com hygiene. A escola entre nos é urna grilheta do abecedario, escura e suja: as crianzas, enfastiadas, repetem a iíqüo, sem vontade, sem intelligencia, sem estimulo: o professor domina pela palmatoria, e põe todo o tedio da sua vida na rotina do seu ensino.<br />Além d'isso, de 1:687 (como viram), so 172 fóram achados competentes!<br />É que ha um outro mal terrivel—a falta de inspecção. A inspecção é a consciencia publica da escola. Sem inspecção, —o professor que nao tem ordenado sufficiente, nem destino garantido, nem estimulo efficaz, desleixa-se por falta d'interesse, e a escola desorganiza-se por falta de direcçáo. É o que se da por todo o paiz. As escolas estáo abandonadas á indolencia do professor: e o professor está abandonado á desesperanca da vida!<br />Sabem como é feita a inspecção ?<br />Em cada districto administrativo ha um commissario dos estudos que tem por anno, para inspeccionar as escolas do seu districto, a gratificacáo de—120§000 reis. Ordinariamente é um professor do lyceu ou o reitor. Isto vigora desde 1844. Ora em 1854, o ministro do reino dizia á cámara dos deputados, n'um relatorio:—«os commissarios dos estudos, ocupados na direcção dos lyceus, e nas regencias de cadeiras, nao curam nem podem curar da visita e inspeccáo das escolas prima­rias !» É pois o Estado que claramente condemna o régimen estabelecido em 1844. Pois bem, ha perto de 20 annos que esta sentenca condemnatoria, da inspeccáo dos commissarios, foi lavrada pelo governo—e ainda existe hoje, em 1872, a inspeccáo pelos commissarios á moda de 1844.</div><br /><br /><div align="justify"></div><br /><br /><div align="justify">Eis, resumidamente, o estado da instrucçáo.<br />2:300 escolas n'um paiz de 4 milhóes de habitantes!<br />De 700:000 crianzas a educar, apenas se encontrara 97:000 ñas escolas! D'estas 97:000 apenas se apuram 1:940. Por-tanto de 700:000 crianzas a educar — educa o paiz 1:940!<br />Sendo indispensaveis os cursos nocturnos—criaram-se 545. Hoje restam 100!<br />Os professores teem em 1872 o ordenado de reís 120$000, — que ja em 1813 era julgado absolutamente insufficiente!<br />So com boas escolas normaes se podem criar bons pro­fessores. Havia 1 em 68. Foi extincta! (Tenta-se agora criar 5).<br />De 1:867 professores, fóram julgados com habilitares literarias 263—e zelosos 172!<br />As escolas sao curraes de ensino!<br />InspecQáo, nao ha. Ja em 1854 se queixava d'isso o ministro do reino! Estamos em 1872!<br />Eis aqui o estado da instrucção publica em Portugal, nos fins do seculo xix (J).<br />A instruc^áo em Portugal é urna canalhice publica!<br />Que o actual governo volte os seus olhos, um momento, para este grande desastre da civilização!<br />(!) D'esta indifferenca profunda e bestial que ha pela instruccáo, deve-mos exceptuar os excellentes trabalhos do Snr. D. Antonio da Costa. Os seus livros, escriptos com urna exacta sciencia e com um altivo sentimento, sao o protesto da civilizaçáo e a desforra do espirito.</div>ANTONIO DELGADOhttp://www.blogger.com/profile/03040014273135959079noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-26255522.post-46263194400849031882010-08-18T02:44:00.003-11:002010-08-19T13:02:30.875-11:00CONFIAR NAS PESSOAS<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVI-vLjrwfXcuuBUk97sJTFvjO3c3KlWT8TSuSGbcHFgszr09g_tuys8CHf3v687slZKQP56O4IN1xfPV_grXpRSmDWcgqjP2cBzDtPB9x_9T6YCK3U8RvWe5Rqxz7G9XlmpgBMg/s1600/acreditar.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; DISPLAY: block; HEIGHT: 267px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5506750328761103298" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVI-vLjrwfXcuuBUk97sJTFvjO3c3KlWT8TSuSGbcHFgszr09g_tuys8CHf3v687slZKQP56O4IN1xfPV_grXpRSmDWcgqjP2cBzDtPB9x_9T6YCK3U8RvWe5Rqxz7G9XlmpgBMg/s400/acreditar.jpg" /></a><br /><div align="center"><br /><br /><a href="http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=44562&op=all">Pessoas que confiam nas outras detectam melhor os mentirosos</a></div><div align="center"></div><div align="center">Será preciso ser muito ingénuo ou basta estar atento/a à linguagem corporal?</div>ANTONIO DELGADOhttp://www.blogger.com/profile/03040014273135959079noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-26255522.post-79892662159271860592010-08-16T03:57:00.004-11:002010-08-16T04:44:21.690-11:00NO METRO<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5CnNVeDJShRNNiYrN2IIUH5kIKTEPaZZyU7l2aIPKRcMrPaGK1sXqprPw2vx61lJHQl2wD0OSuJ8PrgkkL0NzFnFu7I765ACDG_V5s4KjmlJXdRhim49gRv3zmaLYdVIYUJcB0Q/s1600/%C3%93sculo+no+Metro+(foto++sacada+da+internet).jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; DISPLAY: block; HEIGHT: 277px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5506033895317719074" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5CnNVeDJShRNNiYrN2IIUH5kIKTEPaZZyU7l2aIPKRcMrPaGK1sXqprPw2vx61lJHQl2wD0OSuJ8PrgkkL0NzFnFu7I765ACDG_V5s4KjmlJXdRhim49gRv3zmaLYdVIYUJcB0Q/s400/%C3%93sculo+no+Metro+(foto++sacada+da+internet).jpg" /></a><br /><div><div align="justify"><br />Por vezes utilizo o “metro” em Lisboa. Sem ser um utente assíduo, por comodismo de ter transporte próprio, não deixo no entanto de ser um cliente de quando em quando (aos utentes do metro chamam-se clientes). Nessas viagens costumo estar atento e classificar os tipos de clientes.<br />O grupo mais numeroso é sem dúvida o dos “ cara para a frente”. Composto pelos clientes que sentem desconforto se viajam de costas viradas ao sentido em que vai a carruagem do metro. Crêem que isso os mareia. Pessoalmente gosto de viajar de costas, e ainda me dá a possibilidade de ocupar um assento duplo sem ter outro cliente a meu lado. Apenas o volume corporal, fora de padrões de alguém, me poderá provocar algum incomodo.<br />Este detalhe leva-nos a outro tipo de clientes classificado de “ volumoso”. Normalmente ocupam mais de metade de um assento duplo. Uns fazem-no por um imperativo iniludível do seu volume e outros por comodidade, obrigando o companheiro de assento a viajar com desconforto e nalguns casos até em desequilíbrio. Quando escolho um assento, costumo ter em conta este pormenor e calculo, a olho, o espaço livre para me sentar comodamente, apesar de não ter problemas de espaço devido ao meu biótipo.<br />Tenho igualmente em conta, no momento de escolher o lugar, outro tipo de clientes que são os “beijocões”: casais com muita necessidade de expressar a sua fogosa paixão nos lugares públicos e utilizando estas viagens de metro e a proximidade dos outros para se beijocarem, oferecendo um happening amorosos em directo.<br />Nalguns casos nem se tem a possibilidade de olhar para outro lado, pois utilizam um tipo de ósculos tão sonoros que não há outro remédio senão fazer parte do espectáculo como observador e ouvinte. Se tiver de escolher entre companheiros de viagem “volumosos” ou “beijoqueiros”, prefiro os primeiros. Apesar de não ser cómodo, é preferível viajar com aperto, que suportar um espectáculo que não foi solicitado.<br />Viajar no “metro” permite classificar os viajantes, porque tal como em todas as partes existem cidadãos que se destacam pelo seu comportamento, também nestas aulas de convivência social como são os transportes urbanos, isso acontece.<br />Apesar dos muitos tipos que poderia catalogar, vou fixar-me num tipo de viajante muito concreto e que nunca passa despercebido durante a sua “ performance” no espaço público. Para defini-lo numa palavra, designo-o pelo passageiro “comunicativo”.<br />Este faz da carruagem do metro uma sala de conferências, e aproveita o encontro com algum “cliente” de viagem para falar de cátedra sobre os seus costumes, os seus gostos, as suas ideias políticas, as soluções concretas que tem para ajudar os governantes a superar a crise, e outras curiosidades quer da sua vida familiar, quer social.<br />Há dias ficou perto de mim um destes passageiros “comunicativos” obrigando-me a deixar o meu passatempo habitual de quando viajo, que é a leitura do jornal, porque a conferência que o bom do senhor decidiu dar em voz alta, impedia, qualquer outra actividade intelectual que não fosse ter de ouvir a sua palestra. Era tanta a ênfase que lhe punha que fiquei a saber que era viúvo, que tinha várias filhas e não tinha filhos varões, que tinha trabalhado toda a vida, que o governo não o ajudava, que não tinha subsídios, que criou a suas filhas sem ajuda alguma e que quando viu que todos os seus descendentes eram do género feminino, decidiu terminar a produção. Agora que a esposa tinha morrido eram as filhas que cuidavam dele. Procurava divertir-se honestamente e ia bailar (na explicação ilustrou com uns movimentos de ancas) a um desses centros onde vão reformados e reformadas conviver etc…etc… Porque a conferência era inacabável. Tão inacabável que quando se apeou o seu amigo de banco, o passageiro comunicativo cedeu o assento a uma senhora e aproveitou a circunstância para repetir a conferência com a passageira desconhecida, que substituiu o seu auditório directo (o indirecto, éramos nós o resto dos ocupantes do vagão), o amigo que se acabava de apear.<br />Apesar de impedirem que me dedique à leitura, que é um dos meus passatempos habituais no “metro”, aprecio mais os passageiros comunicativos, porque animam o ambiente e põem uma nota típica de certos costumes na monotonia dos transportes urbanos.<br />Recomendo-os. </div></div>ANTONIO DELGADOhttp://www.blogger.com/profile/03040014273135959079noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-26255522.post-30787546654681937302010-08-15T06:55:00.013-11:002010-08-16T13:12:45.712-11:00"O BRAZILEIRO" de EÇA DE QUEIROZ<div><div><span style="color:#6666cc;"></span><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhGUc_Hob5VzeHhXD1OWdNRg34HskZXatq9ncbB9c7ZYdttirAi6H5C8LuUkaKb4boJeycBF3wn_yGV3-U19gRIDcp08Zapdnu7jp75GxmAM6vjCzJZVdfqUtU-KcaJ0aTpa5MeGQ/s1600/E%C3%A7a+de+Queir%C3%B3s%5B1%5D.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 310px; DISPLAY: block; HEIGHT: 350px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5505705066831342402" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhGUc_Hob5VzeHhXD1OWdNRg34HskZXatq9ncbB9c7ZYdttirAi6H5C8LuUkaKb4boJeycBF3wn_yGV3-U19gRIDcp08Zapdnu7jp75GxmAM6vjCzJZVdfqUtU-KcaJ0aTpa5MeGQ/s400/E%C3%A7a+de+Queir%C3%B3s%5B1%5D.jpg" /></a><br /><div align="justify"><span style="color:#6666cc;">A publicação da carta de lei que <a href="http://www.culturabrasil.org/encaminhamentoemancipacao.htm">criou o reino unido de Portugal, Brasil e Algarve</a>, no inicio do s. XIX estabelecerá em pé de igualdade o Brasil com Portugal, levando à emigração de muitos portugueses para aquela parte, então, de Portugal. O facto em vez de aproximar acentuou a fractura entre os genuínos “ filhos da terra” brasileira e os imigrantes portugueses. Originou até importantes revoltas que a literatura tem explorado.<br />O imaginário português foi povoado durante o século XIX e princípios do século XX pelo Brasil, como sinonimo de emigração e enriquecimento fácil. Aventureiros, comerciantes, despojados, eram atraídos por esse imaginário, que sendo real para uns não foi para outros. Muitos partiram voltando desafogados e empreendedores. Há casos conhecidos em Alcobaça e alguma arquitectura de finais do XIX e princípios do século XX, de carácter colonialista, a eles se deve. (Uma realidade local ainda por contar).<br /><br />Simultaneamente esse imaginário transformou-se também em anedotário nacional, como se transformaram nos anos 60 e 70, do sec. XX, os “TURISTAS DE ALCOCHETE” e os <a href="http://milcores.blogs.sapo.pt/8579.html">AVECs</a>, (portugueses imigrados em França). A crónica que segue, bastante divertida por acaso, é a visão de uma elite ilustrada sobre os Portugueses que imigravam e voltavam desse imenso país que é Brasil. Um texto crítico e divertido de Eça de Queiroz, que é ao mesmo tempo um notável momento de analise psicológica lusa, ainda muito presente entre nós.</span> <em><span style="font-size:85%;">O texto está na escrita original do séc. XIX.</span></em></div><br /><br /><br /><div align="center"><em><span style="font-size:180%;">O Brazileiro</span></em></div><br /><br /><br /><div align="right">Fevereiro 1872.<br /></div><br /><br /><br /><div align="justify"><em>"Ha longos annos o Brazileiro (nao o brazileiro brazilico, nascido no Brazil — mas o portuguez que emigrou para o Brazil e que voltou rico do Brazil) é entre nós o typo de caricatura mais francamente popular. Cada nação possue assim um typo criado para o riso publico. As comedias, os romances, os desenhos, as cançonetas espalham-n'o, popularizam-n'o, desenvolvem-n'o, aperfeiçoam-n'o, e elle torna-se o grutesco classico — que chega a ser motivo d'ornato indus­trial, cinzelado em castiçaes, aguardado em caixas de phosphoros, torneado em castões de bengala. A França tem o inglez de côco diminuto na nuca, de larga e aguda suissa em fórma de costelleta alourada, dentuça taluda, collarinho alto como um muro de quintal, rabona de xadrezinho, pé largo como uma esplanada, e ar lorpa: últimamente tem a mais o prussiano, d'immenso bigode na focinheira, cabello em bandos, capacete em bico, um sabré prodigiosamente insolente e um relogio de sala roubado debaixo do braço!<br />Nos temos o Brazileiro: grosso, trigueiro com tons de chocolate, pança ricaça, joanetes nos pés, collete e grilhão d'ouro, chapéo sobre a nuca, guarda-sol verde, a vozinha adocicada, ôlho desconfiado, e um vicio secreto. É o brazileiro: elle é o pai achinelado e ciumento dos romances román­ticos : o gordalhufo amoroso das comedias salgadas: o figurão barrigudo e bestial dos desenhos facetos: o maridão de tamancos, sempre trahido, de toda a boa anécdota.<br />Nenhuma qualidade forte ou fina se suppõe no brazileiro : nao se Ihe imagina intelligencia, como não se imaginam negros com cabellos louros; não se Ihe concede coragem, e elle é, na tradição popular, como aquellas aboboras de Agosto que soffreram todas as soalheiras da eirá: nao se lhe admitte distincçáo, e elle permanece, na persuasão publica, o eterno tosco da rúa do Ouvidor. O povo suppõe-n'o o author de todos os ditos célebremente sandeus, o héroe de todas as historias umversalmente risiveis, o senhor de todos os predios grutescamente sarapintados, o frequentador de todos os hoteis sujamente lúgubres, o namorado de todas as mulheres gordalhufamente ridiculas.<br />Tudo o que se respeita no homem é escarnecido aquí no brazileiro. O trabalho, tão santamente justo, lembra n'elle, com riso, a venda da mandioca n'uma baiuca de Pernambuco; o dinheiro, tão humildemente servido, recorda n'elle, com gargalhadas, os botões de brilhantes nos colletes de panno amarello; a pobreza, tão justamente respeitada, n'elle é quasi cómica e faz lembrar os tamancos com que embarcou a bordo do patacho Constancia, e os fardos de café que carregou para as bandas de Tijuca; o amor, táo teimosamente idealizado, n'elle faz rir, e recorda a sua espéssa pessoa, de joelhos, dizendo com uma ternura babosa — oh minina!<br />De facto, o pobre brazileiro, o rico torna-viagem, é hoje, para nós, o grande fornecedor do nosso riso.</em></div><br /><div align="justify"><em>Pois bem! É urna injustiça que assim seja. E nos os portuguezes que cá ficámos, não temos o direito de nos rirmos dos brazileiros que de lá voltaram. — Por que, emfim, o que é o Brazileiro? É simplesmente a expansão do Portuguez.<br />Existe urna leí de retraccão e dilatacão para os corpos, sob a influencia da temperatura. (Apprende-se isto nos lyceus, quando vem o buço). Os corpos ao calor dilatam, ao frio encolhem. A mesma lei. para as plantas, que ao sol alargam e florescem, ao frio acanham e estiolam. A bananeira, nos nossos climas, é urna pequena arvore tímida, retrahida, estéril: no calor do Brazil é a grande arvore triumphante, de folhas palmares e reluzentes, tronco possante, seiva insolente, toda sonora de sábiás e outros, escandalosa de bananas. Mesma lei para os homens. O hespanhol das Asturias, modesto, humano, discreto e grave — passando para o sol do Equador, nas Antilhas Hespanholas, torna-se o sul-americano vaidoso, ruidoso, ardente, palreiro e feroz. Pois bem! O Bra­zileiro é o Portuguez—dilatado pelo calor.<br />O que elles são, expansivamente -nos somol-o, retrahidamente. As qualidades internadas em nós, estáo n'elles florescentes. Onde nós somos á sorrelfa ridiculitos, elles sao á larga ridiculões. Os nossos defeitos, aquí sob um clima frio, estáo retrahidos, nao apparecem, ficam por dentro: lá, sob um sol fecundante, abrem-se em grandes evidencias grutescas. Sob o céo do Brazil a bananeira abre-se em fructo e o portuguez rebenta em brazileiro. Eis o formidavel principio! O Brazileiro é o Portuguez desabrochado.<br />É o sol de lá que nos fecunda. O Chiado sob os trópicos di intóramente a rúa do Ouvidor. Rirmo-nos do brazileiro é de nós sem piedade. Nós somos o germen, elles são o fructo: é como se a espiga se risse da semente. Pelo contrario ! o brazileiro é bem mais respeitavel, porque é completo, attingiu o seu pleno desenvolvimento: nos per­manecemos rudimentares. Elles estáo ja acabados como a abobora, nos embryonarios como a pevide. O Portuguez é pevide de Brazileiro!<br /></em></div><br /><div align="justify"><em>Que somos nós? Brazileiros que o clima nao deixa des­abrochar. Sementes a que falta o sol. Em cada um de nós, no nosso fundo, existe, em germen, um brazileiro entaipado, afogado — que, para crescer, brotar em diamantes de peitilho, callos e predios sarapintados de verde, só necessita embarcar e ir receber o sol dos trópicos. Cada lisboeta, sabei-o, traz em si a larva d'um brazileiro. Nos aqui vestimos cores escu­ras, lemos Renán, repetimos París, e no emtanto cá dentro, fatal e indestructivel, está aboborando — um brazileiro.</em></div><br /><div align="justify"><em>Quem o não tem sentido agitar-se, como o feto no seio da mãi? — Fitaes as vezes uma gravata verde com pintas escarlates? É o Brazileiro a remexer por dentro. — Desejaes inesperadamente uma boa feijoada comida em mangas de camisa? É o Brazileiro. — Appetece-vos ir visitar a Memoria do Terreiro do Paco? É o Brazileiro, lá dentro. — Lembra-vos reler urna ode de Vidal ou urna falla de Melicio ? É o Brazi­leiro ! Elle está dentro de vós, lisboetas! Ah, sabei-o! vós estaes sempre no vosso estado interessante — d'um Brazileiro! </em><br /></div><div align="justify"><em>E queréis uma prova ? É o verão! É o cruel verão! Então sob a temperatura germinadora — o Brazileiro interior tende a florir, a desabrochar, a alastrar em cachos. Entáo começaes a deitar o chapeo para a nuca, a usar quinzena de alpaca, a passear depois do jantar com o palito na bocca, a exigir dos vendedores a agua do Arsenal, a frequentar a Deusa dos Mares! Sabéis o que é? É o Brazileiro, que la tendes den­tro na entranha, attrahido pelo sol, a querer romper!</em><br /></div><br /><div align="justify"><em>Portanto quando nos rimos d'elle — intentamos a nós mesmos um processo amargo. No inverno a pevide contém a abobora: mas quando a abobora cresce no verão, é ella que contém a pevide. Nos cá contemos o brazileiro; elle lá, chegado ao Brazil, germina, brota em fructo, e nos ficamos-Ihe dentro. Ora se esmagarmos a abobora a grandes golpes de chacota, é sobre a nossa propria e rica pessoa que des-carregamos o riso fero. Tenhamos juízo ! Reconheçamo-nos n'elles como nós mesmos — ao sol!<br /></em></div><br /><div align="justify"><em>Taes são as sabias verdades que soltamos de nossas máos. Aproveitai-vos, compatriotas!<br />E sobretudo certificai-vos que vos outros, que não deixaes a capital, não valéis mais que o minhoto que volta de Pernambuco.<br /><br />O brazileiro nao é bello como Apollo, nem como o mais recente D. Juan: —mas tu, ó portuguez, tu tambem nao es bello, e se a tua bem amada t'o diz, é que não tem mais nada que te dizer e mente por mero deleite.</em></div><br /><div align="justify"><em>O brazileiro nao é espirituoso como Mery ou Rochefort: — mas tu, portuguez, não es certamente espirituoso! De cima dos embrulhos d'aquella tenda, quarenta folhetins t'o provam!<br />O brazileiro nao é elegante como o conde de Orsay ou Brummel: — mas tu, portuguez, dandy desventuroso do Chiado, ou contribuinte da rúa dos Bacalhoeiros, tens a tua elegancia dependurada no bom Nunes algibebe! </em></div><br /><div align="justify"><em>O brazileiro nao é extraordinario como Peabody que deu de esmolas cem milhões, nem como Delescluze que queimou París: — mas tu, portuguez, es táo extraordinario como urna couve, e aínda táo extraordinario como um chínelo.</em></div><br /><div align="justify"><em>Ora o brazileiro nao é formoso, nem espirituoso, nem ele­gante, nem extraordinario — é um trabalhador. E tu portu-guez não es formoso, etc. —es um mandrião! De tal sorte que te ris do brazileiro — mas procuras viver á custa do bra­zileiro. Quando vês o brazileiro chegar dos Brazis, estalas em pilherias: — e se elle nunca de la voltasse com o seu bom di-nheiro, morrenas de fome! Por isso tu — que em conversas, entre amigos, no café, és inexgotavel a trocar o brazileiro, — no jornal, no discurso ou no sermão, es inexhaurivel a glori­ficar o Brazileiro. Em cavaqueira é o macaco; na imprensa é o nosso irmao d'além-mar.<br /></em></div><br /><div align="justify"><em>Brazileiro amigo, queres tu por teu turno rir do lisboeta ? A esse collete verde, que tanto te escarnecem, fecha bem as algibeiras; esse predio sarapintado d'amarello, que tanto te caricaturam, tranca-lhe bem a porta; esses pés, aos quaes tanto se accusam os j cañetes e os tamancos primitivos, nao os ponhas mais nos botéis da capital — e poderás rir, rir do carão amarrotado com que então ficará o lisboeta, que tanto ria de ti! "</em></div><br /><br /><br /><div align="justify"></div><br /><br /><br /><div align="justify"></div></div></div>ANTONIO DELGADOhttp://www.blogger.com/profile/03040014273135959079noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-26255522.post-53369000385295584162010-08-14T04:32:00.002-11:002010-08-14T04:40:14.426-11:00TURISMO: cidades aprazíveis e lugares<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFmWqYOEiL-gTPyRjagKe4N1K1du4KhUib7Ucdi_QBYT9nA0BR2kWvV4aWy5nO55w5Q3zmkHg8HbjxEa6OUu_KEzRanRWtb-td7DWhTem42GE3n8XANJ81ao1HnONpEXVOBF5Fbg/s1600/turismo.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; DISPLAY: block; HEIGHT: 364px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5505289441284061922" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFmWqYOEiL-gTPyRjagKe4N1K1du4KhUib7Ucdi_QBYT9nA0BR2kWvV4aWy5nO55w5Q3zmkHg8HbjxEa6OUu_KEzRanRWtb-td7DWhTem42GE3n8XANJ81ao1HnONpEXVOBF5Fbg/s400/turismo.jpg" /></a><br /><div align="justify"></div><br /><div align="justify"></div><br /><div align="justify"><br />Pela Europa abrem caminho as cidades aprazíveis e cómodas para o visitante. Os turistas urbanos dispostos a desfrutar de um grande fim-de-semana, cada dia são mais e pedem discrição. Há um novo tipo de visitante que busca uma cidade agradável na que se sinta como em sua casa e possa descansar de rotinas e encontrar um programa sociocultural que o satisfaça. Nesse sentido, as cidades voltaram a reivindicar a rua como espaço para a criatividade e a emancipação cívica, do mesmo modo que a dimensão política e social dos espaços públicos foi colocada no centro das discussões.<br />Quem acompanha o fenómeno da revitalização das cidades verifica como estas têm ampliado a sua oferta com novos museus, melhores restaurantes, novos hotéis, festivais variados aos quais se unem salas para teatro, auditórios e um forte impulso dado à gastronomia, às compras e obviamente a hotéis. A oferta de um valor diferenciador permite às cidades competir e, neste ponto, as tecnologias da informação e os serviços complementares são importantes para integrar uma cidade atractiva em conveniência num espaço de procura global.<br />Muitas das cidades médias na Europa protagonizaram, nos últimos anos, a sua própria revolução urbana e social, tendo em conta que um dos problemas maiores no espaço europeu passa pelo stress dos seus cidadãos. É por ele que o turista procura lugares relaxantes e cómodos, premiando aquelas cidades ou lugares que ofereçam maior índice de felicidade, melhor gastronomia e melhor qualidade de vida.<br />A maturidade da oferta e o enfraquecimento da procura tradicional aconselham assumir com mais rigor a necessidade de adicionar à oferta tradicional novas realidades que minimizem a vulnerabilidade do turismo frente às variações dos visitantes de rendas mais baixa. Melhorar a qualidade dos estabelecimentos hoteleiros e extra-hoteleiros estender as tecnologias da informação e serviços complementares são exigências básicas, como é o cuidado com o meio ambiente, para que este não seja uma realidade descurada, como recentemente se verificou com as algas em S. Pedro de Moel. Mas também é importante a atenção ao urbanístico. No distrito é lamentável como boa parte das cidades vilas e aldeias apresentam espaços urbanos degradados e nalguns casos em processo acelerado de desertificação. Pode-se encontrar as razões do facto na falta de visão e na insustentabilidade das políticas adoptadas pelos partidos e por estes gerarem “políticos” insensíveis e mal preparados, que ainda vão formar a sociedade civil com níveis de exigência baixos, amestradas segundo fórmulas como gerem a coisa pública.<br />Apenas com ponderação, ideias novas e orientações precisas, o mercado turístico na região poderá ampliar a sua limitada oferta, assente na praia e no turismo religioso, preterindo o valor da história e da cultura como realidades turísticas mais abrangentes e efectivas que seduzam clientes cujas preferências não sejam exclusivamente as de bronzearem-se a preços baixos em praias de águas geladas, perigosas, nalguns casos pouco vigiadas senão poluídas.<br />Como reparo, subestima-se por aqui que o actual turista é uma pessoa informada e independente e deixou de ser um simples consumidor de receitas concebidas em exclusivo para ela. O novo turista deseja experimentar com os próprios do local, os costumes, as actividades locais, associar-se aos eventos culturais... Por isso chega sem a mediação das agências de viagens, mas trás informação detalhada do lugar: compra bilhetes de avião, comboio, camioneta, reserva dos hotéis, das entradas de espectáculos e dos monumentos pela internet.<br />Neste sentido, há um enorme trabalho a fazer em torno das potencialidades da Web para a difusão dos produtos e das peculiaridades da região. São necessárias estratégicas mais competitivas, longe das contempladas nos planos das aferições compensatórias para os municípios do oeste pela não construção do aeroporto da Ota. Sobretudo estratégias criativas.<br />Deve-se favorecer uma melhoria na qualidade e variedade da oferta, contemplando as terras mais afastadas do litoral que atraiam turistas com um gasto médio mais elevado. Há realidades que o sector turístico e as autoridades envolvidas deverão equacionar para tratar de elevar os ingressos na região como uma importante fonte da sua balança de pagamentos, mas também na necessidade selectiva das entradas, compatíveis com o cuidado do meio para a própria sustentabilidade dessa galinha que ovos de ouro que é o turismo para um região que se pretende de excelência. <span style="font-size:85%;"><span style="font-size:78%;color:#000099;">António Delgado in Jornal de Leiria 12/8/2010</span> </span></div>ANTONIO DELGADOhttp://www.blogger.com/profile/03040014273135959079noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-26255522.post-8307824735142180952010-01-01T04:07:00.009-11:002010-01-01T06:06:40.392-11:002010, UM ANO DIFERENTE?<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhxzGZgx2De8nho36ThyphenhyphenJBsWzDnUyf89p8yycWpeajNaCO-cXthTM8kbYAkQvNHDF_HeFVxtlk4IWVgZ3UXAjfujS2Izo2RhNjN5vfq1vNYG510iP2Z1vuvMpm92-ovwpoTJ7SSsw/s1600-h/P1020903.JPG"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; DISPLAY: block; HEIGHT: 225px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5421789972492503490" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhxzGZgx2De8nho36ThyphenhyphenJBsWzDnUyf89p8yycWpeajNaCO-cXthTM8kbYAkQvNHDF_HeFVxtlk4IWVgZ3UXAjfujS2Izo2RhNjN5vfq1vNYG510iP2Z1vuvMpm92-ovwpoTJ7SSsw/s400/P1020903.JPG" /></a><br /><div><div align="center"><strong><span style="font-size:180%;">Ano Europeu de Luta contra a Pobreza e a Exclusão Social </span><span style="font-size:85%;">(<a href="http://ec.europa.eu/social/main.jsp?catId=637&langId=pt">CLIQUE AQUI</a>) e (<a href="http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=OJ:L:2008:298:0020:0029:PT:PDF">AQUI</a>)</span></strong></div><div align="center"></div><div align="center"><strong><span style="font-size:85%;"></span></strong></div><div align="center"><strong><span style="font-size:180%;"></span></strong></div><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; DISPLAY: block; HEIGHT: 225px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5421789853213948418" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg0u5YjSXqFNYhlbMj82ib-VCfCl7A9kHGfBfmNivvLzwO8PwL1vpZxDQyfb6I764fF7Xzpm0exX0S1ThBBM2bbKxNCZ4QeTqk4Twr6xQ4VO7VCHuklJf-yG-LTFd3Lvxfn-eMldQ/s400/P1020909.JPG" /><br /><br /><div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfoUN0eAjsBWyiJOohu3cNmIRzWpEiAStV5C1fGHiUrSEPgYc5s7HFogH7AS7-hqYVin6GEqXQU6gijUW7ZZRe6v8SjLS4ueQVKhyZvNDoKbOnTE_QnaTkz-l3XcBAUVNyRMS5tQ/s1600-h/P1020909.JPG"></a></div></div>ANTONIO DELGADOhttp://www.blogger.com/profile/03040014273135959079noreply@blogger.com13tag:blogger.com,1999:blog-26255522.post-90225403192511738812009-12-31T07:50:00.003-11:002010-01-01T06:03:17.960-11:00EXCELENTE 2010<div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiF4UBhbKsjYAwH8hhGxJnDJRWdr_5CVRtNT6cGvPM-3OEyiRs7uxruD5t3mXg7SsVWEMaYLRUCwq2sICQS-3erkbFV4qHDC36Vo5vAtZvkfF-ontngBFrXs46cG2d_OvN69giGkw/s1600-h/2010.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; DISPLAY: block; HEIGHT: 225px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5421475741391422898" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiF4UBhbKsjYAwH8hhGxJnDJRWdr_5CVRtNT6cGvPM-3OEyiRs7uxruD5t3mXg7SsVWEMaYLRUCwq2sICQS-3erkbFV4qHDC36Vo5vAtZvkfF-ontngBFrXs46cG2d_OvN69giGkw/s400/2010.jpg" /></a> A todos os leitores e comentadores deste<br />espaço desejos os mais sinceros votos de um excelente 2010 </div>ANTONIO DELGADOhttp://www.blogger.com/profile/03040014273135959079noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-26255522.post-47354995038824162932009-12-24T07:29:00.004-11:002009-12-24T07:32:21.967-11:00FESTAS FELIZES<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgtka7QclNM15gb-l3PZ57ssiF3VUz83yy4Bmia0vBz-3sSlFSxKZgLqEk7fQTo6TcQIN1srx4ysIklKdkCGENdIL6QkqzcVBA2QwNDjt6J8xA26eyvsjCpKAZjboAZqJDSneo9EQ/s1600-h/festas+felizes.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; DISPLAY: block; HEIGHT: 300px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5418871977603035410" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgtka7QclNM15gb-l3PZ57ssiF3VUz83yy4Bmia0vBz-3sSlFSxKZgLqEk7fQTo6TcQIN1srx4ysIklKdkCGENdIL6QkqzcVBA2QwNDjt6J8xA26eyvsjCpKAZjboAZqJDSneo9EQ/s400/festas+felizes.jpg" /></a><br /><div></div><br /><div></div><br /><div align="center"><span style="font-size:180%;">Aos visitantes e comentadores deste espaço</span><span style="font-size:180%;"> </span></div><div align="center"><span style="font-size:180%;">Festas Felizes</span></div>ANTONIO DELGADOhttp://www.blogger.com/profile/03040014273135959079noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-26255522.post-17899567543660481872009-12-08T12:53:00.003-11:002009-12-08T13:08:42.684-11:00TUDO SE OXIDA<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj83F2LcojAp-r4rfg6ENCBH2300BThaX7_yoeD_Dp2Uj3wYSYHafOPx9w91G9uPam_Uc3g6aIUTOajfy_I6QL_t7TPLKdiZy4pKGIA6vFLt49PexHlSQTuUm3TfgNnom0qfV-FFg/s1600-h/P1030197.JPG"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; DISPLAY: block; HEIGHT: 225px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5413018043031059650" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj83F2LcojAp-r4rfg6ENCBH2300BThaX7_yoeD_Dp2Uj3wYSYHafOPx9w91G9uPam_Uc3g6aIUTOajfy_I6QL_t7TPLKdiZy4pKGIA6vFLt49PexHlSQTuUm3TfgNnom0qfV-FFg/s400/P1030197.JPG" /></a><br /><br /><div align="center"><span style="font-size:180%;">UMA TERRA PARADA OXIDA DEPRESSA.</span></div><div align="center"> </div><div align="center"><span style="font-size:180%;"> Dizia </span><span style="font-size:180%;"> meu pai, quando hoje passeávamos por Alcobaça. </span></div><div align="center"><span style="font-size:180%;"></span> </div><div align="center"><span style="font-size:180%;"><a href="http://ecosecomentarios.blogspot.com/2007/03/check-out-my-slide-show_8902.html">http://ecosecomentarios.blogspot.com/2007/03/check-out-my-slide-show_8902.html</a><br /></span><br /></div>ANTONIO DELGADOhttp://www.blogger.com/profile/03040014273135959079noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-26255522.post-24107108843625623702009-12-03T15:54:00.005-11:002009-12-03T16:23:17.440-11:00NOTAS SOBRE CORRUPÇÃO<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQf1hjv-ptihXbmcJM7MghFx5kPLoJ6Ws-RmLIfDh9604JAqgO7MzTdHeQzG4-1zuuaUmdNhHgYbedl5K6Ub3z8RHWqv2_aiU3UVGUeWoQskeci61kX2Zu_dgi1tojdt1mBDe4cA/s1600-h/20090404elpepivin_4%5B1%5D.png"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 326px; DISPLAY: block; HEIGHT: 400px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5411209556151883602" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQf1hjv-ptihXbmcJM7MghFx5kPLoJ6Ws-RmLIfDh9604JAqgO7MzTdHeQzG4-1zuuaUmdNhHgYbedl5K6Ub3z8RHWqv2_aiU3UVGUeWoQskeci61kX2Zu_dgi1tojdt1mBDe4cA/s400/20090404elpepivin_4%5B1%5D.png" /></a><br /><div align="justify">Apesar do muito que se escreve sobre corrupção e suas formas, é estranho que quase ninguém faça propostas para limitá-la. Quase tudo não passa de ajustes éticos e alertas para a elite política, é mais ou menos como pedir por favor ao ladrão que não roube.<br />Este assunto, tão paradoxal como anormal, encerra curiosidades estranhas como esta: está na mão dos afectados a capacidade de mudar as normas. Que possibilidade tem a sociedade civil de actuar contra os arrojos desta nova casta pro-feudal (cheia de rendas sem trabalho e prebendas), que passa de um cargo ao outro sem problemas, independentemente das capacidades técnicas ou conhecimentos? Como?<br />- Apenas pelo voto.<br />Entretanto trocam sorrisos entre si, com uma cumplicidade doentia, quando se encontram nas inúmeras inaugurações, congressos, contubérnios ou saraus sufragados com o dinheiro de todos.<br />Eu proponho não votar futuramente (estou farto desta patranha estúpida que diz se não votas não crês ou não podes participar na democracia) até que um partido inclua no seu programa quatro propostas:<br /></div><br /><div align="justify">Listas abertas (votamos nas pessoas não nos partidos);<br /></div><br /><div align="justify">Um máximo de permanência em qualquer lugar eleito, de 8 anos, eventualmente 12 (não à politica entendida como profissão vitalícia);<br /></div><br /><div align="justify">Declaração de bens antes e depois da passagem por qualquer cargo político (ninguém deve enriquecer ilicitamente com o dinheiro público);<br /></div><br /><div align="justify">Aumento das penas que o código prescreve para esta área.<br /></div><br /><div align="justify">PS. Acabamos de assistir a um conjunto de eleições: Europeias, Assembleia da República e Autárquicas. Todas foram atravessadas por sonoros casos de corrupção. Uns silenciaram-se, outros mantiveram-se e novos surgiram. Reparei, como muitas pessoas, que nos programas para as eleições autárquicas de Alcobaça, nenhum partido ou movimento cívico apresentou uma única linha ou ideia sobre o assunto. Mas para quê? </div><div align="justify"><br />Tudo é lícito, ninguém tem veleidades para financiar campanhas eleitorais e receber benesses políticas e negócios privilegiados com a Câmara. Não há venda de terrenos ao município nem este os compra a nenhum militante do partido que governa. Ninguém exerceu cargos políticos renumerados noutras paragens, sendo eleito por Alcobaça. Necessitados a esse ponto não existem. A elevação é a maior característica de boa parte dos políticos locais e de quem os aconselha. Não há censuras, nem se persegue ninguém em Alcobaça pelas suas ideias. Nas grandes decisões os vereadores votaram sempre de consciência, nunca a granel ou pelo próprio interesse. Até porque se houvesse corrupção política haveria sempre alguém solidário, nos bons e maus momentos com a Câmara. </div>ANTONIO DELGADOhttp://www.blogger.com/profile/03040014273135959079noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-26255522.post-80653815788965350602009-11-27T12:29:00.008-11:002009-11-27T16:05:38.531-11:00"CRIATIVIDADE TOCA A TODOS"<div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiAp9Ea6TKG457s9i_Xo_tzG-zcsdNLMMDPp3tIZba6NePhLB_hiEympAoMZkW-NzOU747i7_C4pGMay8tb832va8D7uM2reBFI7YK4cmr-k_xI8QRVFNmlOTGKuF1cdhLmE7t-3Q/s1600/Understanding%2520Creativity%2520cover%5B1%5D.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 267px; DISPLAY: block; HEIGHT: 400px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5408983124463816594" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiAp9Ea6TKG457s9i_Xo_tzG-zcsdNLMMDPp3tIZba6NePhLB_hiEympAoMZkW-NzOU747i7_C4pGMay8tb832va8D7uM2reBFI7YK4cmr-k_xI8QRVFNmlOTGKuF1cdhLmE7t-3Q/s400/Understanding%2520Creativity%2520cover%5B1%5D.jpg" /></a><br /><p align="center"></p><br /><p align="justify">Hoje no meu espaço do Facebook , fiz um link a um artigo sobre CRIATIVIDADE editado no portal <a href="http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=37406&op=all">CIÊNCIA HOJE</a>. O referido artigo trata dos benefícios que a criatividade tem sobre a saúde mental das pessoas. Na sequência da postagem recebi um email de uma amiga francesa, versando sobre as dimensões da criatividade. Ela juntou no seu comentário a mensagem que publico de seguida, já traduzida, acompanhada de um vídeo.<br />“O filme regista uma acção que se passou em 23 de Março de 2009 na estação de comboios de “Antwerp”, em Amberes, Bélgica.<br />Eram 8 da manhã , e de repente, pelos altifalantes ouve-se Julie Andrews a cantar “ The Sound of Music”, e de todos saem, uns 200 bailarinos!<br />Reparem no que se conseguiu. Observem a cara e as reacções das pessoas. Foi um momento mágico. Oxalá que este tipo de actos se possa multiplicar mais vezes, em qualquer parte do mundo. Espero que possam desfrutar tanto como eu desfrutei. Comovi-me.<br />Penso que o mundo necessita de momentos como estes, inesperados e maravilhosos, para trocar a tristeza, a apatia, a rotina e a falta de esperança, por um pouco de alegria contagiosa.”<br /><br /></p><p align="center"><iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.blogger.com/video.g?token=AD6v5dzpxNqOktimw_0EbikRdseEErVI4rb6xObwqRmyZrWkFuWxtK6HOWI-G7-S90WV4m3LtF35KXAlcKw' class='b-hbp-video b-uploaded' frameborder='0'></iframe></p><p align="center"><span style="font-size:130%;color:#ffccff;">Em Portugal este tipo de criatividade deveria de começar na Assembleia da República, e seguir para as redacções de muitos jornais e televisões. Talvez o ânimo geral se alterasse para melhor. </span></p></div>ANTONIO DELGADOhttp://www.blogger.com/profile/03040014273135959079noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-26255522.post-20767318458187145272009-11-17T12:27:00.009-11:002009-11-20T04:03:48.352-11:00PIRATAS ???<div align="center"><br />Segundo o jornal <a href="http://www.elpais.com/articulo/espana/Zapatero/Alakrana/navega/libremente/aguas/seguras/elpepuesp/20091117elpepunac_2/Tes">El País</a>, os trinta e seis tripulantes do atuneiro Vasco, capturados pelos piratas da Somália, foram finalmente libertados. No entanto <a href="http://www.elpais.com/articulo/ultima/Almadraba/elpepiult/20091115elpepiult_1/Tes">há vozes </a>que se ouvem sobre a realidade/legalidade desta pirataria e o eterno jogo de Estados pobres e Estados ricos. </div><div align="center">O video abaixo dá que pensar.<br /><br /><br /></div><p align="center"><object width="560" height="340"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/PXUBpmgAnjA&hl=pt_BR&fs=1&"><param name="allowFullScreen" value="true"><param name="allowscriptaccess" value="always"><embed src="http://www.youtube.com/v/PXUBpmgAnjA&hl=pt_BR&fs=1&" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="560" height="340"></embed></object></p>ANTONIO DELGADOhttp://www.blogger.com/profile/03040014273135959079noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-26255522.post-35524841090939926122009-11-17T11:46:00.006-11:002009-11-17T13:16:59.456-11:00IDEIA SOBRE TRANSPARÊNCIA<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibZaq6TkegTtrOEry_EtzQP6VWnKfAqRy-bqKdD_pCqpU2RbwL2yuO4BULErovRjgZhzAtoy-m21DzlGaI6YiTYqU3TS_Xvdo1m8rUeEzorgcspba1SI5WsIcvFkViyMhiwRIaxg/s1600/20091105elpepivin_4%5B1%5D.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 326px; DISPLAY: block; HEIGHT: 400px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5405208694568168562" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibZaq6TkegTtrOEry_EtzQP6VWnKfAqRy-bqKdD_pCqpU2RbwL2yuO4BULErovRjgZhzAtoy-m21DzlGaI6YiTYqU3TS_Xvdo1m8rUeEzorgcspba1SI5WsIcvFkViyMhiwRIaxg/s400/20091105elpepivin_4%5B1%5D.jpg" /></a><br /><div align="justify">Nunca ouvi ou li que as pessoas sejam escutadas de forma clandestina indistintamente, como parece que se faz crer. Há é autorização de juízes para suspeitos de crimes terem o telefone sob escuta e qualquer cidadão amigo ou não de quem está sob escuta terá a sua conversa gravada se lhe telefonar.</div><div align="justify"><br /><a name="OLE_LINK3"></a><a name="OLE_LINK2"></a>Em termos de transparência, <a name="OLE_LINK1">acho até que a falta ao segredo de justiça beneficia o combate à criminalidade enquanto o segredo de justiça pode servir para encobri-la porque os dossiers podem ser arquivados ou os actos criminosos prescreverem. </a><a name="OLE_LINK1">Será mais importante revelar a criminalidade infringindo o segredo de justiça ou encobrir a criminalidade com ele?</a></div>ANTONIO DELGADOhttp://www.blogger.com/profile/03040014273135959079noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-26255522.post-64030190475767587052009-11-16T07:41:00.010-11:002009-11-16T08:16:58.925-11:00APONTAMENTO SOBRE CORRUPÇÃO<div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgGt6olBg6tp8hFERPbLJpE8zDI7z_toPM7hXfHTC6QV4yhGjjzVsiFatxsnbJCAnzM2LeMRy3KoWDikAdziku8GaoI-qqOM2fug4jaP1vjEpXVitunPAcZQQZ2YTtHswZYQ_-fGQ/s1600/20091116elpepivin_4%5B1%5D.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 330px; DISPLAY: block; HEIGHT: 400px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5404774474387846722" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgGt6olBg6tp8hFERPbLJpE8zDI7z_toPM7hXfHTC6QV4yhGjjzVsiFatxsnbJCAnzM2LeMRy3KoWDikAdziku8GaoI-qqOM2fug4jaP1vjEpXVitunPAcZQQZ2YTtHswZYQ_-fGQ/s400/20091116elpepivin_4%5B1%5D.jpg" /></a><br /><a name="OLE_LINK7"></a><a name="OLE_LINK2"></a><a name="OLE_LINK1">As notícias sobre corrupção têm dado um vendaval de contradições, onde nem escapa a quinta-essência da República: a sua Justiça. Servir o bem público é um empenho virtuoso para alguns, mas fortuna e virtude são irreconciliáveis, afirmou Sade.</a><br />Aqueles que com mais ardor denunciam casos podem estar a contribuir para uma operação de desmontagem da democracia, mas por muito que se empenhem, um partido não se pode medir pelo número de corruptos com que conta, como uma religião não se mede pelo número de padres pederastas, ou os médicos por quem cometeu negligencias e os jornalistas perante colegas que apresentam informações não contrastadas nem verazes.<br /><a name="OLE_LINK5"></a><a name="OLE_LINK4">A crítica baixa, o populismo e ausência de controlo além da predisposição para permitir o autoritarismo configuram, no povo português, portas de entrada para personagens demagogas e autoritárias, que podem ainda combinar carisma com a falta de escrúpulos: um perigo para a democracia progredir. Tanto um partido político como qualquer político, enquanto zeladores da causa pública, deverão ser medidos também pelas decisões que tomem relativas às tramas corruptas uma vez descobertas.</a> </div><div align="justify"></div><div align="justify">Os meios de comunicação deveriam trabalhar na veracidade e contundência que merecem os corruptos que tanto nos indignam. Como? Sinceramente não sei, mas a “<a name="OLE_LINK6"></a><a name="OLE_LINK3">corrupção nossa de cada dia, que nos dá hoje</a>” nunca deveria seguir a ideia proposta por El ROTO no seu desenho. </div>ANTONIO DELGADOhttp://www.blogger.com/profile/03040014273135959079noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-26255522.post-85720183391110678932009-11-09T10:40:00.001-11:002009-11-09T10:44:39.507-11:00PARTIDOCRACIA<div align="center"><embed style="WIDTH: 450px; HEIGHT: 375px" name="flashticker" type="application/x-shockwave-flash" align="middle" src="http://widget-ee.slide.com/widgets/slideticker.swf" flashvars="cy=h5&il=1&channel=360287970210282222&site=widget-ee.slide.com" wmode="transparent" salign="l" scale="noscale" quality="high"></embed></div><br /><br /><div align="justify">Há muito que as águas da política portuguesa escorrem conturbadas. A cidadania, como se não estivesse já suficientemente em crise, é agora surpreendida com mais casos de corrupção: branqueamento de capitais, tráfico de influências, empresas falsas, concursos e operações fraudulentas, offshores, luvas a banqueiros, e muitos mais etceteras. Como se não chegasse esta cadeia de despropósitos, o acto está ainda protagonizado e associado a alguns políticos, ou melhor, a antigos políticos: pessoas afectas a partidos responsáveis. Homens que deveriam ter comportamentos irrepreensíveis e ser uma referência ética e moral para o resto dos mortais.<br /><br />A corrupção, seguramente inevitável na vida pública, parece ter no nosso país, proporções, particulares. É consequência da partidocracia e da má qualidade da democracia que se vai gerando. Os maiores partidos políticos não se livram dela: desde o uso indevido e privado de um veículo oficial, até ao desaparecimento de milhões de euros, tudo é possível.<br /><br />A originalidade lusa, neste campo, demonstra que os corruptos não actuam em comandita, mas por si. E quando surge um escândalo normalmente só afecta um partido. No entanto, raro é o caso onde não exista, para com os supostos corruptos, uma onda de solidariedade entre militantes do partido afectado, militantes interpartidários e até entre partidos. Talvez seja esta a razão que leva representantes partidários, com responsabilidades políticas e institucionais, a afirmarem que “a política não se deve desacreditar”, em vez de irem ao fundo do problema.<br /><br />A realidade também demonstra que a nenhum dirigente político interessa fórmulas para combater a corrupção, melhorar a eficácia nos mecanismos de controle, as condições de acesso aos cargos públicos, a vigência das regras éticas e a importância da moral pública. Nada disto é objecto de debate e não está na agenda de nenhum. Normalmente, nas suas prioridades encontramos ideias genéricas, posições fugidias e palavras vazias. Não se ouve uma reflexão que vá além da presunção de inocência, da humilhação da família, das peculiaridades dum caso e no período em que sai na imprensa, e da inconveniência de generalizar. Até aqui chegam, porque do que se trata em questões partidárias é de absorver o impacto do assunto e passar a página, para voltar quanto antes ao de sempre.<br /><br />Em cada novo escândalo, o “colunista mor ” exige que se ponha limite à corrupção política. Limite à corrupção política? Nada mais simples: alterar a forma como são escolhidos os deputados distritais; Instituir eleições directas nas secções concelhias dos partidos, nas federações e para a presidência. E, sobretudo, fazer a separação entre poder judicial e político. Deste modo talvez pudéssemos aspirar a uma democracia e não a esta partidocracia, cuja essência é a impudência, onde uma linha ténue e impercebível, entre o bárbaro e o votante, separa o abjecto do refinamento.<br /><br />Admito que a corrupção e os oportunistas existiram sempre. A diferença é que em democracia estas coisas acabam por sair à luz e nas ditaduras e regimes autoritários, ou nunca se sabem, ou olha-se para o outro lado esperando que nunca mais se fale quando alguma coisa suja emerge.<br /><br />Se existissem em Portugal organizações políticas transparentes e revitalizadas, instituições ágeis e eficientes, resguardadas por uma cidadania comprometida nas questões colectivas, o país certamente sairia do lodaçal onde alguns tentam amarrá-lo.<br /><br />Apesar de não podermos pensar num golpe qualquer, como forma de acabar com a nossa democracia, reconheço, no entanto, que os escândalos de corrupção, geram cepticismo e muito desafecto com a coisa pública. Eles são capazes de promover o populismo e a demagogia que já andam por aí à solta e são muito próprios de regimes opacos e fechados.<br /></div>ANTONIO DELGADOhttp://www.blogger.com/profile/03040014273135959079noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-26255522.post-76635535406619313612009-10-25T01:33:00.009-11:002009-10-27T07:43:46.587-11:001ª. AMOSTRA ERÓTICO-PARÓDICA DAS CALDAS DA RAINHA<div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjgBH1KWCBhHt5xhugvE2Ewj25RQOSPvssOb0ELAyGxmFSzAzh1f8z_PRSpnUmqKSSWkrCxRzILNFVIVCElUJy-_ZGmX4Q1KdO_s7GP6COr2b0quwjY_0G92sB0Mb8-xxhO_s5JPQ/s1600-h/P1020936.JPG"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; DISPLAY: block; HEIGHT: 225px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5396516699083789442" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjgBH1KWCBhHt5xhugvE2Ewj25RQOSPvssOb0ELAyGxmFSzAzh1f8z_PRSpnUmqKSSWkrCxRzILNFVIVCElUJy-_ZGmX4Q1KdO_s7GP6COr2b0quwjY_0G92sB0Mb8-xxhO_s5JPQ/s400/P1020936.JPG" /></a> <span style="font-size:85%;">grupo de jovens difusores do evento pela cidade<br /></span><div align="center"><br /><span style="font-size:180%;">Notas soltas sobre o pénis</span></div><br /><div align="justify"></div><br /><div align="justify">Desde os tempos mais arcaicos, este órgão foi venerado como um símbolo. Na sua história, Heródoto descreveu um culto fálico entre os egípcios: “num andor era transportado um enorme falo que as mulheres aclamavam em delírio pelas ruas”.<br />Em Portugal há quem veja nas noivas de Santo António e no culto a este santo reminiscências de práticas semelhantes.<br />Em Alcobaça conhecem-se vários lugares onde as mulheres com problemas de concepção ou de casamento se iam “encomendar” no séc. XVII; antigos cultos que a igreja católica “nacionalizou” e que hoje se vêem sublimados igualmente na Senhora do Leite e na Senhora de O.<br /><br />Na actualidade, o culto ao falo, ainda se encontra um pouco por todo o mundo, mas é mais visível nos lugares onde o catolicismo não conseguiu destruir formas religiosas primitivas, como fez em alguns por onde passou.<br />Há em certas zonas do planeta reproduções de enormes pénis dispostos pelas ruas como monumentos. Eles têm simultaneamente carácter religioso, simbólico e estético, e são visitados por casais que se encomendam a estes ídolos pelas mais diversas razões, mas sobretudo para tentar solucionar problemas de procriação.<br />Em Portugal a religiosidade “fálica” está reflectida e sublimada nalgumas das formas que referi.<br />Entre as várias coisas que celebrizaram as Caldas da Rainha encontra-se o artesanato caracterizado por um falo ou fazendo referencia a ele. Uma espécie de ídolo, que o tempo transformou em símbolo de identidade desta característica cidade.<br /><br />A linguagem popular também está impregnada de muitas referências ao falo, ele é utilizado como modelo ou unidade métrica de todas as coisas. Tudo é bonito, grande, feio, bom, elegante, alto, rico, como o... dito cujo! E quando alguém nos diz que choveu como o... dito cujo, sabemos de imediato que foi algo diluviano. Apesar do símbolo que o grafismo linguístico sugere, nunca entendi ao que se refere um homem, quando diz que uma mulher é boa como o... dito cujo! Ou que isto ou aquilo é bom como o...”coiso”! Será que este padrão utilizado por machos assenta no conhecimento efectivo do modelo?<br /><br />Pela via da saúde pública, o falo ganhou de novo relevo entre a população masculina, não só pela suposta diminuição do seu tamanho, mas também porque, pela boca dos cientistas, está a diminuir a quantidade de espermatozóides. No entanto, parece que é o tamanho que preocupa o macho (ver DN 18/2/2001 e 26/2/2007). Muitos homens não estão satisfeitos com a dimensão do seu pénis e querem-no maior. Este problema afectou de tal forma a saúde pública em Moscovo, que foi criado um hospital com serviço de urgências para pénis, 24 H ao dia (El País 24.2.2001).<br /><br />Em Espanha, um recente estudo feito a 582 homens entre os 22 e os 75 anos, revelou que a medida média espanhola do pénis é entre os 7,1 cm e os 12,43 cm (de 12,43 cm e a mínima 7,1cm). Os resultados, ao que parece, são similares aos de outros países, mas detectou-se nos inquiridos deste país um “pavor ao micro pénis”, que parece ter provocado uma espécie de síndroma da medição, fazendo com que muitos verificassem se a longitude do seu obedecia aos padrões mínimos de 7,1 cm flácido e 12,43 cm na posição de máxima extensão.<br /><br />Os outsiders podem recorrer a um programa de alargamento. Não atando-lhe uma pedra, mas através de aparelhos de atracção mecânica de tecidos do organismo, numa cirurgia de alongamento. Além disto falou-se na criação de uma “associação de pénis sem fronteira”, para regular as desigualdades entre países que têm cidadãos com pénis maiores e os que tem pénis menores: uma intenção que resvalou, segundo parece, nos loobies dos preservativos. Talvez o genoma seja a esperança no combate destas assimetrias: aguardamos!<br /><br />Por sua vez, as mulheres, estão ocupadas com outro tema. O antigo dito que o tamanho não é importante, mas sim a forma como se usa, recobra actualidade. A este dito deve-se juntar um outro, “não há mulheres “anorgásmicas”, mas sim homens inexperientes”. A questão está num invento recente que anda na boca de todas e que possibilita à mulher chegar ao orgasmo apertando apenas um botão. Segundo parece, com um implante sensível e um simples comando à distância, a mulher pode ter orgasmos sublimes. Ao médico que descobriu casualmente este sistema, a primeira mulher que o provou ter-lhe-á dito: “o doutor tem de contar ao meu marido, como fez isso”. A mulher levantou-se da mesa de operações com lágrimas de felicidade e o médico em honra a Woody Allen, pretende que o seu descobrimento se chame Orgasmatron. No entanto ainda não está decidido como baptizará comercialmente a descoberta.<br /><br />Suponho que os comandos à distância estejam estritamente personalizados, senão imaginem alguém, inadvertidamente, a pô-lo em funcionamento e a provocar, por engano, um orgasmo na vizinha; ou que o comando caia nas mãos de um sabotador e este o utilize, para alguém ter orgasmos múltiplos, em momentos e lugares indevidos... Bem, depois do Viagra, agora isto! A ciência e a tecnologia surpreendem-nos sempre, ao ponto de agora nos fazerem “orgasmar” de estupefacção! </div><div align="center"><br /><br /><span style="font-size:180%;color:#ff6666;">Parabéns aos organizadores da 1ª. Amostra erótica - paródica de Caldas da Rainha. TERRA DAS MALANDRICES.</span></div><div align="center"><span style="font-size:180%;color:#9999ff;">Evento original que incentivo a visitar.<br /></span><br /></div><br /><div align="center"><embed style="WIDTH: 426px; HEIGHT: 320px" name="flashticker" type="application/x-shockwave-flash" align="middle" src="http://widget-19.slide.com/widgets/slideticker.swf" flashvars="cy=h5&il=1&channel=360287970210264345&site=widget-19.slide.com" wmode="transparent" salign="l" scale="noscale" quality="high"></embed></div><br /></div>ANTONIO DELGADOhttp://www.blogger.com/profile/03040014273135959079noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-26255522.post-9609208686772636932009-10-16T01:26:00.004-11:002009-10-16T01:48:18.043-11:00MAPA MUNDIAL DA SAÚDE<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_DS4QRF4NfdyK_B-0R4dmfvdbtmsf2xAspmewSBpIj4PzaQcPd_fFMuoHoG85itfERoHBlbYlB6kk6Z0waV41Xpw5W0bUlxE29fB7UEFJ6OexCNb90TJKm1Pmcuhp3ixo0iVGoA/s1600-h/mapa+de+doen%C3%A7as.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; DISPLAY: block; HEIGHT: 202px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5393178453620093282" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_DS4QRF4NfdyK_B-0R4dmfvdbtmsf2xAspmewSBpIj4PzaQcPd_fFMuoHoG85itfERoHBlbYlB6kk6Z0waV41Xpw5W0bUlxE29fB7UEFJ6OexCNb90TJKm1Pmcuhp3ixo0iVGoA/s400/mapa+de+doen%C3%A7as.jpg" /></a><br /><div align="justify"></div><br /><div align="justify"><span style="font-size:130%;">Não só a <span style="color:#ffff33;">Gripe A</span> ameaça o planeta, como dizem alguns. A evolução de epidemias e pandemias vão muito mais além e têm uma grande variedade de nomes. Para informar existe o Mapa da Saúde (Health Map) (</span><a href="http://healthmap.org/pt"><span style="font-size:130%;">clic aqui</span></a><span style="font-size:130%;">). Um mapa mundial de alertas epidémicos desenvolvido em meia dúzia de idiomas, onde o Português também se encontra. As suas fontes englobam desde a Associação Internacional para as Doenças Infecciosas (AIDI), até à </span><a href="http://www.who.int/en/"><span style="font-size:130%;">Organização Mundial de Saúde</span></a><span style="font-size:130%;"> (OMS) e as notícias do Google. Entre as doenças catalogadas e no activo destacam-se: </span><a href="http://es.wikipedia.org/wiki/Virus_del_Nilo_Occidental"><span style="font-size:130%;">vírus do Nilo Ocidental</span></a><span style="font-size:130%;">, Dengue, Gripe Aviar, Encefalitis Equina, Peste, Ebola, Febre do rio Ross…e as habituais pneumonias, Gripe e Varicela. </span></div>ANTONIO DELGADOhttp://www.blogger.com/profile/03040014273135959079noreply@blogger.com5