sábado, julho 21, 2007

EPISCOLÂNDIA



Rembrandt, "O monge na seara" gravura.


Estupefacta. Desconcertada. Decepcionada, poderia acrescentar. Não compreendo a Conferência Episcopal deste nosso país (quero dizer que não é só deles). Tinham outra ocasião de sair para a rua para manifestar a sua iracunda (mistura de santa indignação e reaccionarismo), e pelo que parece, estão a desaproveitá-la. Sinto-me decepcionada.
É que já os estava a visualizar, como se diz agora, todos juntos, indo de Sol a Génova, (ou aonde lhes parecer melhor exibir as suas mensagens), levantando cartazes com slogans parecidos a estes: “Não à persecução dos padres pederastas de Los Angeles”, “Basta de relatar maus tratos sexuais tapados pelos bispos”, “Devolvam ás Suas Eminências os 478 milhões de euros que lhes tiraram de indemnização”, “Abaixo os meninos provocativos e as meninas indecentes”, “Nós consagramos, nós ocultamos”, “O meu corpo é meu”, A sacra Pederastia unida nunca será vencida” e “Voltarei e serei milhões”. Gosto particularmente deste último porque, embora pareça uma frase pronunciada por Che Guevara como premonição da sua actual abundância de efígies, a sua autora foi Eva Perón, desdenhada pelo Vaticano por ter sido actriz e mulher de costumes alegres.
Pareço-lhes brutal? Pois nem a décima parte do brutal que poderia ser cada vez que penso na Ingerência Episcopal. Mas consigo conter-me.
Se não me contivesse ia perguntar-lhes, por exemplo, porque levantam tanto a voz para proteger as crianças deste país contra uma educação cidadã dada nas escolas; e porque se calam tanto quando se descobrem casos de abusos sexuais perpetrados por sacerdotes nos colégios e paróquias. Dir-lhes-ia: Vocês são mesmo distraídos. O pio frenesi cega-lhes os olhos. Não compreendem que uns meninos que crescem no erro (a ética), são muito mais provocadores para a sodomia, e umas meninas educadas na aberração (os direitos e os deveres), resultam irresistíveis?
Mas não vou ser tão brutal, porque é uma atitude imprópria de mim. Assim que vamos continuar com o tema da manifestação pró-clero pederasta de Los Angeles.
Têm o tempo justo para a preparar de aqui até sábado. Maruja Torres