segunda-feira, junho 08, 2009

A COISA BERLUSCONI


Na Edição deste fim de semana o Jornal El País publicou fotos de Berlusconi e da sua casa onde supostamente ocorriam orgias, provocando um escândalo internacional (clik aqui para visualizar as fotos). Não sendo um politico que eu tenha em boas referências, a verdada é que ninguém de sentido comum aplaude os valores sociais (péssimos) que estes político representa. Basta recordar as leis que faz aprovar para favorecer as suas empresas. Prejudicar emigrantes e fomentar a xenofobia sobre pessoas de etnia cigana e para não falar como se dirigiu sem pudor, aos sinistrados do terramoto de Abruzzo pedindo que considerassem o terrível inconveniente de estarem desalojados, como se a situação dos afectados fosse como estarem "fora num camping".
Saramago um reconhecido defensor de causas, na Edição do El País de sábado refere-se a Berlusconi num artigo do qual faço uma tradução pessoal e para consultar o original basta um click (aqui).
A animosidade entre Saramago e Berlusconi também tem outros contornos, como a censura do politico em não permitir publicar obras do escritor português na editora Einaud, propriedade do primeiro ministro Italiano.





Artigo de Saramago

A Coisa Berlusconi

Não vejo que outro nome lhe poderia dar. Uma coisa perigosamente parecida a um ser humano, uma coisa que da festas, organiza orgias e manda em um país chamado Itália. Esta coisa, esta doença, este vírus ameaça ser a causa da morte moral do país de Verdi se um vómito profundo não o consegue esquecer da consciência dos italianos antes de que o veneno acabe corroendo as veias e destroçar o coração de uma das mais ricas culturas europeias. Os valores básicos da convivência humana são desprezados todos os dias pelas patas viscosas da coisa Berlusconi que, entre múltiplos talentos, tem uma habilidade “fenanbulesca” para abusar das palavras, pervertendo-lhes as intenções e o sentido, como no caso do “Polo da Liberdade”, que assim se chama o partido com que assaltou o poder. Chamei-lhe delinquente a esta coisa e não me arrependo. Por razões de natureza semântica e social que outros poderão explicar melhor que eu, o termo delinquente tem em Itália uma carga negativa muito mais forte que em qualquer outro idioma falado na Europa. Para traduzir de forma clara e contundente o que penso da coisa Berlusconi utilizo o termo na acepção que a língua de Dante lhe vem dando habitualmente, apesar seja mais que duvidoso que Dante o tenha usado alguma vez. Delinquência, no meu português, significa de acordo com os dicionários e a prática corrente de comunicação “ acto de cometer delitos, desobedecer leis e padrões morais”. A definição assenta na coisa Berlusconi sem nenhuma prega , sem nenhuma dúvida, até ao ponto de parecer-se mais uma segunda pele que a roupa que se põem em cima. Desde alguns anos a coisa Berlosconi vem cometendo delitos de gravidade variável, embora sempre de uma gravidade demonstrada. Para cumulo, não é que desobedeça leis mas, pior ainda, manda-as fabricar para salvaguardar dos seus interesses públicos e privados, de politico, empresário, e acompanhante de menores, e quanto aos padrões morais, nem merece a pena falar, não há quem não saiba em Itália e no mundo que a coisa Berlusconi há muito tempo que caiu na mais completa abjecção. Este é o primeiro-ministro italiano, esta é a coisa que o povo italiano duas vezes elegeu para que lhe sirva de modelo, este é o caminho da ruína ao que, por arrastamento, estão sendo levados os valores de liberdade e dignidade que impregnaram a musica de Verdi e a acção politica de Garibaldi, esses que fizeram da Itália do século XIX, durante a luta pela unificação, uma guia espiritual de Europa e dos europeus. É isto o que a coisa Berlusconi quer deitar no balde do lixo da Europa. Acabarão por permitir os Italianos?