Reproduzo um excelente artigo de opinião do Prof. Moisés Espírito Santo sobre o discurso do Presidente da República, no dia 25 de Abril, alusivo ao estudo por ele encomendado sobre a informação politica dos jovens. O dito artigo saiu no Jornal de Leiria em 1 de Maio de 2008
Senhor Presidente da República, os jovens têm razão e recomendam-se
O Presidente da Republica, nas comemorações do 25 de Abril e no Parlamento, fez um discurso sobre a cultura política dos jovens deduzida dum estudo da Universidade Católica que a Presidência encomendou. Pretendeu fazer passar um retrato negro da formação política dos jovens. Eu, que não tenho compromissos com os políticos, até considero que a cultura política dos jovens é boa. Antes de mais, o Presidente atribuiu as culpas aos deputados («os responsáveis sois vós») quando o Professor Cavaco Silva governou o País durante dez anos. E deu estes três exemplos de «ignorância política» dos jovens: a maioria 1) não sabe quem foi o primeiro presidente eleito depois do 25 de Abril; 2) desconhece o número exacto dos países que integram a União Europeia; 3) ignora que o P.S. tem maioria absoluta no Parlamento. E com isto fez figura, tendo sido repercutido por todos os média , como um alerta pela «nossa democracia». Pergunto eu: o que é que vale isso? Devia é ter citado outros dados do mesmo Estudo (segundo o Público) como, por exemplo: a) interessam-se mais pelas «petições e pelo boicote de produtos por razões políticas ou ambientais do que o resto da população»; b) não atribuem eficácia ao voto; c) têm dificuldade em se identificarem com «a oferta partidária»; c) acham pouco ou nada importante a separação entre esquerda e direita; d) só 20% «sentem simpatia» pelo voto eleitoral; e) entre eles há «concordância genérica» pela criação de novos mecanismos de participação dos cidadãos nas decisões políticas e de mudar o sistema eleitoral de forma a dar mais ênfase aos candidatos e menos aos partidos políticos», etc. Ora estes temas (não citados pelo Presidente) é que são importantes e retratam, isso sim, o falhanço da «nossa» democracia. (Quando os políticos dizem «nossa democracia», face a estes dados, entende-se que essa democraica é «a deles», «classe política»). Ora, com a maioria dos políticos que temos até é sinal de boa cultura ignorar os seus nomes, o seu número no Parlamento e, depois das manigâncias com o Tratado de Lisboa para o qual se prometeu um referendo, é natural que se ignore quantos países compõem a «nossa Europa» (a deles). Isso só interessará aos «jotas» dos partidos que são amestrados para reproduzir as manhas dos «velhos».
Note-se a alínea e) que referi : «Há concordância genérica em que se devia mudar o sistema eleitoral de modo a dar mais ênfase aos candidatos e menos aos partidos políticos». Ora, aqui é que está o busilis, quer dizer, a razão do desinteresse dos jovens (e dos adultos) pelos nomes e pelo número de políticos. Os jovens têm razão e recomendam-se.
Na Europa, Portugal é o único em que os candidatos a deputados têm de ser propostos pelos partidos e, por outro lado, em que se exige um número de inscritos para se constituir um partido. Na Europa, para uma eleição, os Estados só reconhecem os cidadãos. A «nossa» democracia (a deles) faz dos cidadãos simples votantes, ou claque; e só serve para caucionar a «classe política». É a razão por que a maioria da juventude se desinteressa da informação política.
A propósito: as comemorações do 25 de Abril não passaram duma rectórica sobre a «nossa» democracia de que se servem os profissionais da política. Quem é que se lembrou de recordar ou homenagear os milhares de portugueses (trabalhadores, intelectuais, estudantes, emigrantes...) que lutaram, anonimamente, clandestinamente, quotidianamente, civicamente, contra o fascismo e pelos Direitos Humanos, de 1928 até 1974? E que sofreram nas prisões ou na solidão da clandestinidade? E que perderam o trabalho e o conforto familiar? E que definharam no Tarrafal ou tiveram de fugir para o estrangeiro? Uma homenagem a esses anónimos, ou desnomeados, que agiram pela liberdade de todos e não com vistas a um emprego - dos melhores cidadãos que a Pátria engendrou - é que seria uma comemoração cívica do 25 de Abril, e não esta parada folclórica de auto-afirmação dos actuais políticos que vieram usufruir daquilo que os outros semearam.
Senhor Presidente da República, os jovens têm razão e recomendam-se
O Presidente da Republica, nas comemorações do 25 de Abril e no Parlamento, fez um discurso sobre a cultura política dos jovens deduzida dum estudo da Universidade Católica que a Presidência encomendou. Pretendeu fazer passar um retrato negro da formação política dos jovens. Eu, que não tenho compromissos com os políticos, até considero que a cultura política dos jovens é boa. Antes de mais, o Presidente atribuiu as culpas aos deputados («os responsáveis sois vós») quando o Professor Cavaco Silva governou o País durante dez anos. E deu estes três exemplos de «ignorância política» dos jovens: a maioria 1) não sabe quem foi o primeiro presidente eleito depois do 25 de Abril; 2) desconhece o número exacto dos países que integram a União Europeia; 3) ignora que o P.S. tem maioria absoluta no Parlamento. E com isto fez figura, tendo sido repercutido por todos os média , como um alerta pela «nossa democracia». Pergunto eu: o que é que vale isso? Devia é ter citado outros dados do mesmo Estudo (segundo o Público) como, por exemplo: a) interessam-se mais pelas «petições e pelo boicote de produtos por razões políticas ou ambientais do que o resto da população»; b) não atribuem eficácia ao voto; c) têm dificuldade em se identificarem com «a oferta partidária»; c) acham pouco ou nada importante a separação entre esquerda e direita; d) só 20% «sentem simpatia» pelo voto eleitoral; e) entre eles há «concordância genérica» pela criação de novos mecanismos de participação dos cidadãos nas decisões políticas e de mudar o sistema eleitoral de forma a dar mais ênfase aos candidatos e menos aos partidos políticos», etc. Ora estes temas (não citados pelo Presidente) é que são importantes e retratam, isso sim, o falhanço da «nossa» democracia. (Quando os políticos dizem «nossa democracia», face a estes dados, entende-se que essa democraica é «a deles», «classe política»). Ora, com a maioria dos políticos que temos até é sinal de boa cultura ignorar os seus nomes, o seu número no Parlamento e, depois das manigâncias com o Tratado de Lisboa para o qual se prometeu um referendo, é natural que se ignore quantos países compõem a «nossa Europa» (a deles). Isso só interessará aos «jotas» dos partidos que são amestrados para reproduzir as manhas dos «velhos».
Note-se a alínea e) que referi : «Há concordância genérica em que se devia mudar o sistema eleitoral de modo a dar mais ênfase aos candidatos e menos aos partidos políticos». Ora, aqui é que está o busilis, quer dizer, a razão do desinteresse dos jovens (e dos adultos) pelos nomes e pelo número de políticos. Os jovens têm razão e recomendam-se.
Na Europa, Portugal é o único em que os candidatos a deputados têm de ser propostos pelos partidos e, por outro lado, em que se exige um número de inscritos para se constituir um partido. Na Europa, para uma eleição, os Estados só reconhecem os cidadãos. A «nossa» democracia (a deles) faz dos cidadãos simples votantes, ou claque; e só serve para caucionar a «classe política». É a razão por que a maioria da juventude se desinteressa da informação política.
A propósito: as comemorações do 25 de Abril não passaram duma rectórica sobre a «nossa» democracia de que se servem os profissionais da política. Quem é que se lembrou de recordar ou homenagear os milhares de portugueses (trabalhadores, intelectuais, estudantes, emigrantes...) que lutaram, anonimamente, clandestinamente, quotidianamente, civicamente, contra o fascismo e pelos Direitos Humanos, de 1928 até 1974? E que sofreram nas prisões ou na solidão da clandestinidade? E que perderam o trabalho e o conforto familiar? E que definharam no Tarrafal ou tiveram de fugir para o estrangeiro? Uma homenagem a esses anónimos, ou desnomeados, que agiram pela liberdade de todos e não com vistas a um emprego - dos melhores cidadãos que a Pátria engendrou - é que seria uma comemoração cívica do 25 de Abril, e não esta parada folclórica de auto-afirmação dos actuais políticos que vieram usufruir daquilo que os outros semearam.
16 comentários:
O Sr. Presidente acha que o futuro se faz como se fez o passado. O Sr.Presidente não sabe que cada geração descobre as suas formas de expressão, de luta e de sobrevivência.
Eu acho que é tempo de a malta ir a sério para a rua e tentar inventar novas formas de luta. Mas tem que o fazer numa escala global. As fronteiras não prendem as pessoas, nem o dinheiro e nem são obstáculo à contratação de trabalhadores de outro sítio.
Todos na Europa temos que compreender que em condições precárias não há filhos e, sem filhos, não há futuro. Quando todos percebermos o que está em
causa, inventaremos novas formas de política.
Este Presidente não gosta de Abril nem de Maio... É Presidente da República, mas a mim não me diz nada nem me representa... Sou Livre de o Pensar e de o Escrever... Eu não votei nele...
A Luta ainda agora vai no adro...
Boa Semana Amigo
Cara Mile,
Na mesma edição do JL fui convidado a participar no seu Forum no seguinte ponto:
"Como comenta o alheamento dos portugueses, noemeadamente dos mais jovens, relativamente à actividade política e às datas que marcaram a história recente de Portugal?"
A minha resposta:
"A " Aldeia Global" de McLuhan infelizmente mostra-nos em que medida a evolução da sociedade em direcção a um futuro de telecomunicação total da informação implica mudanças substanciais e decisivas na propria maneira de se ver e actuar no mundo. Uma delas é a alienação. é dentro deste paradigma que se deve de entender as respostas dos jovens por mostrarem que não aderem cabalmente às coisas do interesse dos politicos. a informação espectaculo, alvitrada por Guy Debord, faz parte igualmente do paradigma comunicacional do nosso tempo, em certo modo é onde se deve de incluir o discurso do Sr. Presidente da República por salientar apenas os pontos do seu interesse."
Um abraço
António
Caro Ludo
Nem eu votei nele! Os aspectos que pretendeu destacar ocultando o essencial que era a forma como os jovens entendem o funcionamento da "nossa" democracia merece reflexão.
Um abraço fraterno.
António
Um bom tema que merece ser analisado com seriedade. Quer o texto do post quer os comentários são boas achegas para essa análise.
Sugiro a leitura do post «Cavaco, jovens e democracia» em Do Miradouro, que já conta com alguns comentários de interesse. Se o visitante desejar deixar o seu, agradeço.
Abraço
A. João Soares
Concordo absolutamente com esta análise. Faltaria só dizer que o sr. Silva,filho do gasolineiro de Boliqueime, desconhecia o nº de cantos dos Lusíadas e não distinguia Thomas Moore de Thomas Mann. Isso, na sua idade e condição, só tem um nome: ignorância.
Parabéns pois mais uma vez por este texto.
Valdemar
Existe um ponto em que discordo, aquele em que se metem os Partidos todos no mesmo saco.
N�o pode existir um Partido para cada cidad�o, tem de haver alguma disciplina, eu disse disciplina (n�o confundir com outa coisa)existem diferen�as entre n�s, que; n�o fazem sentido, numa fam�lia nem todos gostam das mesmas coisas, e n�o � por isso que v�o deixar de ser da fam�lia!
Este Presidente, n�o � o meu presidente, mas tenho que o aceitar porque ele � o Presidente da maioria dos portugu�ses, e o princ�pio da democracia � isso mesmo.
Caro António,
Tomei a liberdade de transcrever este post para o meu blog, juntando o essencial do seu comentário de 2:06 PM.
Não esqueci de identificar a origem!
Abraço
A. João Soares
Gostei da análise feita pelo Prof Moisés sobre o que foi omitido.
Os jovens têm outras preocupações e outras formas de encarar a luta.
DEsconhecer a história do 25 de Abril e do antigo regime não é bom, mas também bom seria se se soubesse os reais motivos da revolução.
no entanto,quando refere o falhanço da nossa democracia, aí já não concordo: a nossa democracia são os nossos actuos como democratas, no dia-a-dia. A democracia deles, ah, essa falha, talvez porque não tenham percebido bem o conceito de democracia.
quanto às festarolas popularuchas do 25 de Abril: sou sincera, não sou muito adepta. As lutas fazem-se com actos pessoais e as festas dão-lhe um ar de romaria de aldeola (eu adoro romarias, atenção mas não invocando um passado, nem tentando usar este tipo de coisas para o futuro!).
O dia deveria, tal como o Prof. Moisés tão bem refere, ser para falar de quem, de facto sofreu, de quem lutou e, no fundo, de quem não se veio a aproveitar com tudo isto.
Posso estar errada mas tento ver as coisas à distância de 34 anos e recordo alguns momentos de aflição (que na minha idade não entendia a razão)de gente com convivia connosco.
gostei mesmo muito do texto. Os meus parabéns ao autor e também a si, antónio, por o ter trazido até nós.
um abraço
Diria ao Sr. Presidente que, antes de criticar os jovens deveria criticar a educaçao. A educaçao é primordial e parece que nao há orçamento suficiente para as escolas e as universidades, mas sim para muitas outras coisas inúteis.
Beijinhos
Um bom artigo, que vai ao fundo da questão, questionando a vaca sagrada da Democracia partidária à portuguesa, a que chamo partidocracia.
Bfds
Abraço do Zé
Os partidos políticos comportam-se como os senhores feudais, secando tudo, leia-se o povo, à sua volta como se estes não tivessem também opinião e não fossem aqueles que com o seu trabalho sustentam o poder que lhes foi confiado.
Alternativas, com este sistema? Duvido que vinguem, porque pelo que temos visto só vem mais do mesmo, sempre a puxar para o mesmo lado e sempre os mesmos a pagar a factura.
Bom domingo
Cumps
Caro Antonio
Penso que os politicos sao iguais en Portugal e Venezuela, o seu mundo e virtual.
Bom fin de semana
Beijinhos
Estes nossos politicos andam tão afastados da realidade, não era preciso gastar dinheiro para se chegar a tal conclusão
Não é só os jovens que estão cada vez mais afastados da politica é todo um povo
Saudações amigas e bom domingo
Ja houve um tempo em que patriotismo era quase que um ritual sagrado. Lembro-me dos anos 60 quando tivemos o golpe militar e os estudantes enfrentaram as forças armadas. Mas as armas calaram-nos e aos poucos o idealismo deu lugar a um marasmo que acabou tornando-se alienação. Hoje os estudantes quando muito, querem um diploma na mão e um salário no fim do mês.
Um beijo pra ti
Recorda-me o texto uma insubordinação da turma em 69/70 ao velho Moreira Júnior e de ele nos ter calado com - È isso que eles querem!.
Reformou-se a meio daquele ano "o chouriço" que tinha a figura do Einstein em velho. Tive a sua últime aula. Só o vi uma vez mais tarde, agitadíssimo em procurar o melhor enquadramente numa manifestação no Rossio em Junho de 1974. "É isso que eles querem!" ficou-me.
Na loja do Parlamento Europeu é distribuído gratuitamente a Constituição e um pequeno livrinho de 2,5 cm de altura, em todas as línguas da União com o título "Os Meus Direitos Fundamentais" na União Europeia. A loja fica em Bruxelas e nunca vi nenhum dos políticos portugueses, em qualquer tempo de antena, promover isto.
Se o dito estudo fosse alargado além da juventude e aos políticos da Nação talvez se pudesse concluir que a cultura política dos jovens é igual à dos não jovens, políticos incluídos.
Interessante o lugar português no ranking da União quanto ao défice democrático, vindo a público ontem.
Interessante... não fosse a palavra do velho prof. "- É isso que eles querem!"
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