domingo, agosto 02, 2009

CAMPANHAS E TENDÊNCIAS


Em todas as campanhas eleitorais gasta-se muito dinheiro e muita saliva. Como os oradores não costumam ter muitas luzes, é necessário pagar a iluminação. Do lugar alugado para o evento, une-se o gasto das cadeiras, o dos cartazes ou plasmas, onde se põe à prova a fotogenia dos candidatos. Podia dizer-se que nas campanhas eleitorais a única coisa em que se poupa é nos neurónios, o que não é o mais grave. O pior é que só se convence os que já estão previamente convencidos.
Aqueles que pertencem ou simpatizam com um partido e crêem que têm ideias, porque se inclinaram por uma ideologia, não acodem mais do que aos comícios desse partido. Dai que as ovações sejam enganosas. Se fosse possível mudar esse público para o sítio onde actuasse um político rival, este seria insultado, por muito eloquente que fosse o seu discurso e as suas ideias.
Os discursos políticos procuram sempre o aval do auditório e por isso terá que dizer-se só aquilo que ele gosta de ouvir, com algumas repetições obrigadas, no caso de não terem percebido à primeira nem à segunda.
Estudos credenciados revelam que a maioria do eleitorado decide a candidatura ou partido no qual vota muito antes de se celebrarem os comícios, inclusive com uma apreciável antecedência do início da campanha eleitoral. Deduz-se que os gastos milionários dos distintos partidos resultam bastantes inúteis e no melhor dos casos somente captam uma pequena percentagem de indecisos. Está claro que quando uma ideia se mete na cabeça de alguém é dificílimo mudá-la. Uma convicção converte-se em fixação. Rectificar algum aspecto ou apreciar a possibilidade de uma situação nova parece uma deslealdade. Estas pessoas são como alguns membros de júris de concursos de literatura, pintura ou até de professores. Antes de analisarem os processos, currículos ou o trabalho dos concorrentes, já estão de capa e espada a defender um dos elementos a concurso, e se os membros do júri lhes perguntam porque não ponderam ou lêem os currículos, têm a resposta pronta e expressam-na de forma bem clara: “é para não me deixar influenciar”.
Há tempos, nas eleições municipais francesas, metade das pessoas eram mulheres. Era a consequência das cotas derivadas da lei de paridades, que supõe um progresso considerável a anteriores percentagens. Preferiria que os eleitos o fossem pelas suas capacidades. É possível que o número de mulheres fosse maior que o dos homens; ou não, mas seria aproximadamente justo (a justiça só se consegue por aproximação). Nada se opõe a que coincidam os méritos com a maioria feminina ou vice-versa. Não gosto das descriminações positivas, porque sempre são negativas para outros. A realidade é que ainda são positivas para os homens, admitindo (como é muito possível) que as suas carreiras, as suas designações, as decisões dos seus partidos, obedecem à regra do macho. Sem contar com os países nos quais as mulheres estão atadas às suas próprias roupas. Apesar das cotas, as mulheres poderão exercer os seus postos tão mal como os homens. Se nas eleições autárquicas as pessoas conhecem melhor em quem votam, nas legislativas as listas dos partidos são fechados e sem modificações, cheias de desconhecidos, de suspeitas de medo pelo que irão fazer e se algum é corrupto. É enfadonho verificar como os grandes partidos vão perdendo a confiança dos cidadãos. As últimas eleições europeias já o demonstraram. Parece-me verificar que em Portugal há uma tendência muito centrípeta de esquartejamento, como nas gravuras antigas de história onde se via um regicida atado pelas extremidades e pela cabeça a cinco cavalos que galopariam em direcções distintas. Devo dizer que sou partidário da igualdade, da fraternidade e da liberdade, porque me parece ser esse o espírito da época em que vivo. Atemoriza-me que a sociedade se fragmente entre homens e mulheres, lisboetas e portuenses, idosos e jovens, portugueses de cor e portugueses brancos, emigrantes e autóctones e por aí fora.