terça-feira, junho 30, 2009

ALCOBAÇA EM VIDEO





EXCELENTES IMAGENS DE ALCOBAÇA , NUM VIDEO REALIZADO PELO MEU QUERIDO AMIGO RUI ALMEIDA, EDITOR DO BLOG DEIXANDAROBARCO
A MINHA TERRA MERECE SER DIVULGADA EM DETALHE E IMAGEM VIVA. SÃO TAMBÉM PROPÓSITOS DESTE BLOG CONCEBER ESTA IDEIA. HÁ MUITOS ALCOBACENSES ESPALHADOS PELOS CINCO CANTOS DO MUNDO QUE SEGUEM OS ECOS E COMENTÁRIOS PARA ESTAREM MAIS PRÓXIMOS DO ESPAÇO QUE UM DIA OS VIU NASCER E QUE NO SEU CORAÇÃO TANTO GUARDAM E ESTIMAM. ESTAS IMAGENS SÃO PARA ELES E TAMBÉM PARA TODOS OS AMIGOS QUE HABITUALMENTE OU FORTUITAMENTE VISITAM ESTE ESPAÇO E DEIXAM O SEU INESTIMÁVEL COMENTÁRIO, MAS QUE POUCO OU NADA CONHECEM DE ALCOBAÇA CIDADE CAPITAL DO CONCELHO. A TODOS, AS MINHAS MAIORES SAUDAÇÕES. IREI MANTER O MEU DIÁLOGO SINCERO E COMO HOMEM DA IMAGEM, AGORA TAMBÉM, NOUTROS FORMATOS.

PS. Ampliar o vídeo para desfrutar melhor das imagens. O vídeo está a ser exibido em simultâneo no blog do Rui Almeida.

segunda-feira, junho 08, 2009

A COISA BERLUSCONI


Na Edição deste fim de semana o Jornal El País publicou fotos de Berlusconi e da sua casa onde supostamente ocorriam orgias, provocando um escândalo internacional (clik aqui para visualizar as fotos). Não sendo um politico que eu tenha em boas referências, a verdada é que ninguém de sentido comum aplaude os valores sociais (péssimos) que estes político representa. Basta recordar as leis que faz aprovar para favorecer as suas empresas. Prejudicar emigrantes e fomentar a xenofobia sobre pessoas de etnia cigana e para não falar como se dirigiu sem pudor, aos sinistrados do terramoto de Abruzzo pedindo que considerassem o terrível inconveniente de estarem desalojados, como se a situação dos afectados fosse como estarem "fora num camping".
Saramago um reconhecido defensor de causas, na Edição do El País de sábado refere-se a Berlusconi num artigo do qual faço uma tradução pessoal e para consultar o original basta um click (aqui).
A animosidade entre Saramago e Berlusconi também tem outros contornos, como a censura do politico em não permitir publicar obras do escritor português na editora Einaud, propriedade do primeiro ministro Italiano.





Artigo de Saramago

A Coisa Berlusconi

Não vejo que outro nome lhe poderia dar. Uma coisa perigosamente parecida a um ser humano, uma coisa que da festas, organiza orgias e manda em um país chamado Itália. Esta coisa, esta doença, este vírus ameaça ser a causa da morte moral do país de Verdi se um vómito profundo não o consegue esquecer da consciência dos italianos antes de que o veneno acabe corroendo as veias e destroçar o coração de uma das mais ricas culturas europeias. Os valores básicos da convivência humana são desprezados todos os dias pelas patas viscosas da coisa Berlusconi que, entre múltiplos talentos, tem uma habilidade “fenanbulesca” para abusar das palavras, pervertendo-lhes as intenções e o sentido, como no caso do “Polo da Liberdade”, que assim se chama o partido com que assaltou o poder. Chamei-lhe delinquente a esta coisa e não me arrependo. Por razões de natureza semântica e social que outros poderão explicar melhor que eu, o termo delinquente tem em Itália uma carga negativa muito mais forte que em qualquer outro idioma falado na Europa. Para traduzir de forma clara e contundente o que penso da coisa Berlusconi utilizo o termo na acepção que a língua de Dante lhe vem dando habitualmente, apesar seja mais que duvidoso que Dante o tenha usado alguma vez. Delinquência, no meu português, significa de acordo com os dicionários e a prática corrente de comunicação “ acto de cometer delitos, desobedecer leis e padrões morais”. A definição assenta na coisa Berlusconi sem nenhuma prega , sem nenhuma dúvida, até ao ponto de parecer-se mais uma segunda pele que a roupa que se põem em cima. Desde alguns anos a coisa Berlosconi vem cometendo delitos de gravidade variável, embora sempre de uma gravidade demonstrada. Para cumulo, não é que desobedeça leis mas, pior ainda, manda-as fabricar para salvaguardar dos seus interesses públicos e privados, de politico, empresário, e acompanhante de menores, e quanto aos padrões morais, nem merece a pena falar, não há quem não saiba em Itália e no mundo que a coisa Berlusconi há muito tempo que caiu na mais completa abjecção. Este é o primeiro-ministro italiano, esta é a coisa que o povo italiano duas vezes elegeu para que lhe sirva de modelo, este é o caminho da ruína ao que, por arrastamento, estão sendo levados os valores de liberdade e dignidade que impregnaram a musica de Verdi e a acção politica de Garibaldi, esses que fizeram da Itália do século XIX, durante a luta pela unificação, uma guia espiritual de Europa e dos europeus. É isto o que a coisa Berlusconi quer deitar no balde do lixo da Europa. Acabarão por permitir os Italianos?

terça-feira, junho 02, 2009

OS COUTOS DE ALCOBAÇA



A palavra (couto) e alguns aspectos historico-sociológicos dos coutos

A palavra couto vem nos dicionários com as seguintes acepções: terra de defesa, terra privilegiada; terra que não pagava impostos por pertencer a um nobre ou a uma ordem religiosa, refúgio e abrigo. Em relação a Alcobaça são as três últimas acepções que se enquadram mais no âmbito do termo “Coutos de Alcobaça”. O couto era então uma porção de terra demarcada com certas prerrogativas jurídicas diferentes das demais e quem nela se acoutava ou optava para viver/acoitar, ficava sobre a jurisdição da entidade possuidora daquele espaço. Espreitemos de forma rápida os conceitos e acoitar segundo esta jurisdição.

Acoitar: é um termo do princípio da nacionalidade e está unido ao povoamento. Na Idade Média o repovoamento do território português foi feito, em parte, à custa de criminosos/homiziados. Estas pessoas adquiriam liberdade e deixavam de ser perseguidas pela justiça se fossem viver para os territórios conquistados, dos quais alguns eram coutos. Esta medida tinha o efeito daquilo a que hoje podemos designar de reinserção social. Os criminosos tinham assim a oportunidade de voltar a fazer as suas vidas sem serem perseguidos pela justiça e tinham ainda porções de terra doadas como aliciante suplementar para se fixarem. No entanto não devemos esquecer que essas zonas designadas por couto eram por vezes zonas fronteiriças e, em caso de invasão, eram estes colonos o primeiro escudo a travar as investidas do inimigo. A instabilidade pelas algaradas constantes de muçulmanos e de cristãos, incitaram os reis a instituir estas zonas de liberdade aparente. Para os homiziados a liberdade tinha este preço.

Visto de outro modo, estas pessoas acabavam por ser utilizadas como batentes contra os invasores e, em nome de uma falsa liberdade, hipotecavam a sua vida transformando-a em simples carne para canhão de forma politicamente correcta para o poder de então. Para o poder esta reinserção preenchia igualmente duas funções, o povoamento e a defesa do território. O aparente aspecto de liberdade era a subtileza destes duas funções.

Em Alcobaça as crónicas são claras: no principio, o mosteiro foi arrasado e as pessoas passadas à espada. No entanto, por questões ideológicas compreensíveis, os cronistas só se referem ao massacre dos, à época, pouco monges.

Estes subterfúgios políticos que consistiam em perdoar os criminosos coutando-os nos lugares fronteiriços, devia tranquilizar o rei, a nobreza e o próprio clero. Deste modo sabiam onde os tais criminosos potenciais se encontravam, além de os manter afastados dos centros de poder e do “bom viver”. Estes aspectos de uma antiga vivência local que a história tende a omitir, podem ser um dos indícios a partir dos quais, sociologicamente, se podem entender a falta de desenvolvimento económico, social, industrioso, reivindicativo, além da ostentação que caracteriza muitas das regiões de Portugal que foram coutos no passado, tal como foi a região de Alcobaça. Os lugares têm fantasmas culturais e, na região de Alcobaça, parece que a força deles ainda continua a ser enorme.

Acoitar: Se a norma que referimos pode ser exemplo até ao séc. XIV, uma outra surge já com a consolidação nacional e os termos couto ou acoitar-se relacionam-se agora também com os espaços religiosos, igrejas, mosteiros, ermidas e seus espaços envolventes. Nestes lugares os homiziados fugidos à lei podiam encontrar protecção legal contra a justiça secular, como bem prescrevem as constituições sinodais. A justiça secular não podia prender nenhuma daquelas pessoas acoitadas naqueles lugares, salvo crimes de sangue. Ao acoitar os homiziados, os templos e espaços envolventes tornavam-se lugares muito mal frequentados e de gente “rasteira” e de “baixa-mão” . Aí vivia, anos atrás de anos todo o tipo de marginais construindo pequenos “bairros” que iam crescendo com o passar do tempo. Alcobaça não foi excepção: a primeira “urbanização”, feita no lugar depois da instalação dos monges, junto ao mosteiro, foi obra e engenho de foragidos.

Fora do muro (...) não havia nem casas seculares ainda no tempo de D. João I (...) variou-se esta forma antiga e foi-se introduzindo a povoação moderna por esta razão ou motivo: como a clausura era, dilatada e os monges caritativos os criminosos de todo o reino vinham meter-se dentro da dita clausura para serem seguros de Justiça; e como não podia ser, que vivessem, nem dormissem dentro das oficinas regulares, foi consequência necessária os tais criminosos fizessem suas casinhas onde se recolhiam”.

Com o passar dos anos, outros tipos de pessoas também fizeram as suas casas em redor do mosteiro e dentro da cerca. Isto representava uma certa “profanação” daquele espaço e motivou o protesto de um abade junto do rei D. Manuel, porque a perturbação e inquietação dos religiosos era muita. No entanto, aquela povoação sempre fora coutto para (...) homisiados de muitos casos, que a ela acolhião e porque ali com tamanho crescimento mais do que sohia se vinhão ahí mais pessoas viver e acolher por respeito do ser coutto do que cumpria para a honestidade e socego da dita, e além desto os moradores do dito lugar e couto recebião muita fadiga, e opressão dos que aly se acolhiam e lhe destruyão seus bens, e fazendas do dito mosteiro”.

Pela descrição, o panorama devia de ser de verdadeiro temor e em certos momentos como dos bairros de Portugal que os noticiários nos mostram. Estes factos que se passaram no séc. XVI motivaram o abade geral de então Frei Jorge de Melo a fazer um requerimento ao rei D. Manuel, protestando pela situação, para que esta comunidade fosse viver para um novo lugar que se chamaria Vila de S. Bernardo. O lugar esteve para ser na Vestiaria, uma povoação cheia de memórias também interessantes que a seu tempo alguma história comentarei. Pensamos que a "urbanização" dos homiziados nunca se mudou de Alcobaça, daquela zona privilegiada em frente do mosteiro...presumo.


Em 1 de Setembro de 1583, D. João III mandou publicar um alvará que determinava o seguinte:

Le. I. Da mudança do couto de Alcobaça para Alfeizerão.

Mandou el rei Dõ João.III que sancta gloria aja, aa petição do Cardeal Infante Dõ Affonso seu irmão, que o couto de alcobaça se mudasse para a villa de Alfeizirão, que he do dito moesteiro, e valesse a todolos maleficios tirando estes: Heresia, traição, aleive, sodomia, morte de proposito. Per hu alvará de. II de Septembro de. 1538. Fol.143. do livro.2
Duarte Nunes de Leão. Leis Extravagantes e repertório das ordenações. Em Lisboa per António Gonçalvez. Anno de M. D. LXIX. Pág. 178 (verso).