domingo, janeiro 06, 2008

LUIS PACHECO (PEQUENA HOMENAGEM)



"Regresso à caminheta e venho a saber depois que o lugar de Assento é estrada abaixo, para ao pé da igreja. Voltamos todos para Braga. Apontei o nome da miúda e o resto. Almoçarada em Gualtar com o Forte e o King-Kong, o motorista, que paga tudo e está simpatiquíssimo comigo e com o Mundo. Frango com arroz, à minhota, uma delicia. Vinho verde, à minhota, uma delicia. Como bundaradas porque adora arroz de cabidela e vinho verde e minhotas: “ Deolinda da Costa Rodrigues, 14, anos no lugar de Assento, cá me ficas, mas este arroz marcha à frente! “. Bebo mais que um Arcebispo, com o Bom – Jesus em cenário. Deixo de pensar na morte, essa magana. Estou um tanto pesado e alegrote. Voltamos a Braga. Cafés. Decido ficar. O forte dá-me cinco escudos, que é quanto lhe resta. Um bom Libertino não precisa de dinheiro. Decido ficar e fazer uma tarde de luxúria mental em Braga, para esconjurar o cheiro e incenso e mofo de padre que empestam estas ruas. (...)

Mas passam por mim duas miúdas: uma, grande cu descaído, badalhoca de cara, trouxa de carne a dar às pernas - é a que me tenta; outra, muito compostinha no trajar, casaco preto, saia branca ou creme, muito viva, muito espevitada. Atiro pontaria na badalhoca, a ver se avanço depressa o negócio, jogando no ganaha – perde da beleza física e no calculo das probabilidades dos complexos das feias. Vou-as seguindo, de rabo alçado como um garanhão, e a gorduchona já me topou. Olha para trás, por vezes. Já comunicou à parceira. A andar, a andar, chegamos a uma espécie de logradouro público, com certo ar antiquado e bancos largos de pedra, onde finda a linha dos eléctricos para o estádio (vejo o nome, estádio 28 de Maio, oh a Politica !, ah! ah!, isto só em Braga). Mas agora o grupo das meninas complicou-se: entrou por ali uma velha gorda, e inútil, e naturalmente sabichona e danada por invejar o prazer dos outros como é próprio das velhas; com ela, e tão empatas como ela, duas garotinhas, broncas e também inúteis para as questões do sexo."

Luis Pacheco: O Libertino passeia por Braga , a Idolátrica, o seu Explendor. Edições Colibri pp. 20,21,22