Muito se tem falado em campos de golf para o concelho de Alcobaça, sobretudo nas zonas litorais perto do mar, sem nunca se ter definido uma ambição estratégica para a região, quer local ou translocal, e saber afinal que papel representam eles nessa mesma estragégia. Alguém já referiu e bem que “identificar o que é ambição adequada é critico no caso de Alcobaça. A sua configuração actual - o tipo de actividades, o tipo de população, o nível de rendimento é o resultado de condições que correm o risco de existir”. Se há um par de décadas esta visão era real na actualidade mantém-se, e é previsível que continue, com as mesmas vicissitudes de outrora , mas agora mais agravadas: continua a não haver sentido e procura de modernização para o concelho para que se torne competitivo e atractivo para os de fora e mesmo para os de dentro. Conceitos como previsão, modernidade e ambição formam parte de um amplo leque de realidades que continuam desconhecidas . Digo mesmo que não se vislumbra fazerem parte do léxico de quem orienta os destinos do concelho. Cada dia que passa as actividades agrícolas e empresariais definham como dão conta os jornais e não é difícil associar entre outras coisas, os altos impostos municipais praticados no concelho que quase obrigam empresas e pessoas a emigrarem para os concelhos limítrofes onde possivelmente será mais animadora a ideia de prosperarem.
Recentemente uma onda de histeria parece ter tocado grande parte dos autarcas portugueses com as designadas Resorts, PIN e Campos de Golf. Destes, o último é, sem exagero, aquele em que é rara qualquer autarquia, não querer dois ou três. Será com Campos de Golf e Resorts que se cria riqueza, postos de trabalho, bem-estar para as populações em concelhos carenciados? ou estas ideias são aliciantes apenas para autarcas sem imaginação; visão estratégica para as suas terras e que alinham nas modas de circunstância até porque o ordenamento do território bem como os PDM são o que são: muito plásticos.
Minuciosamente analisados na grande parte dos denominados “ Campos de Golfo”, o que sobressai são apenas projectos de urbanização no " meio do campo", introduzindo-se na valorização que se podia fazer de um projecto, um elemento mais, que dá muito que pensar. Porque ao fim de contas, o campo de golfo acaba por converter-se num projecto que explora e destrói recursos de todos para gerar benefícios privados.
Além disso, esta fórmula importada tem sido descartada noutros países devido a problemas que geraram, tais como os de carácter ambiental, recursos hídricos, empregos de baixa qualificação e poucas escpectativas, e o mais grave: a corrupção urbanística. Falta de respeito por PDM's e zonas REN. Comissões de vendas , luvas, informação privilegiada, onde funcionários autárquicos, edis, em associação com empresas familiares ou de amigos tiram benefícios. Obscuras proveniencias de capitais de off shores sediadas em paraísos fiscais onde o rasto e a origem dos dinheiros são dificéis de seguir.
http://www.youtube.com/watch?v=S4-TM_l1tuk
http://www.lavozdelanzarote.com/spip.php?article12738
A ESSÊNCIA da postagem de hoje é um editorial da Revista PEDRA E CAL assinado por Vítor Cóias cuja pertinência considero devida.
"Os “ Resorts”: Um mau negócio (para o País)
Aliviada a febre construtora dos anos 90, tudo indicava que a estratégia passaria a ser gerir, o melhor possível, um parque habitacional sobredimensionado e remediar, aqui e além, os excessos de um crescimento urbano desordenado. O programa Polis inscrevia-se nessa linha. Surgiram, assim, os arranjos nos centros históricos, os embelezamentos de frentes de rua, as novas rotundas e vias rápidas, mais as pracetas ajardinadas e os respectivos fontanários. Gastaram-se mais uns tantos milhões de euros comunitários que poderiam ter tido aplicação mais nobre e rentável, mas, “do mal o menos’: tínhamos as nossas cidades a cara mais ou menos lavada’ e poderíamos, agora, começar de novo, com os planos directores municipais revistos e com novos planos de ordenamento do território.
Infelizmente, não e assim. Eis que surge a ideia dos projectos PIN (Potencial Interesse Nacional e que alguém no ministério da economia acha que tal inclui ocupar as melhores zonas da reserva ecológica, da reserva agrícola, dos parques naturais e da orla costeira, com os chamados “resorts” e as urbanizações de turismo residencial”.
Estamos novamente perante um exemplo de uma boa ideia que é aproveitada de modo perverso: no sistema PIN fala-se na produção de bens e serviços transaccionáveis de carácter inovador, na interacção e cooperação com entidades do sistema cientifico e tecnológico, na criação de emprego qualificado, na eficiência energética, no favorecimento de fontes de energia renováveis e na defesa do ambiente, mas depois atribui-se a chancela PIN a projectos imobiliários que nada têm a ver com isto.
Estamos, agora, a assistir a um desastre bem mais grave do que a expansão urbana em mancha de óleo. A betonização do solo -já não estende só as suas metástases a partir dos núcleos urbanos- ataca agora de forma generalizada, insidiosa, salpicando aqui e ali as zonas protegidas, progredindo ao longo da orla costeira, derrubando montados e urbanizando dunas. Já não se constroem só apartamentos, mas sim moradias unifamiliares de grande área, com elevados consumos de água e energia, integradas em vastas infra-estruturas com pesados custos ambientais de manutenção. Trata-se de uma forma de habitar com substancial acréscimo da ‘”pegada ecológica”[1] que usa e abusa da principal riqueza do país - o seu património natural - e gera empregos de baixa qualificação, logo pouco remunerados e sem possibilidade de corresponder as expectativas dos nossos jovens.
Como a maior parte dos empreendimentos está em mãos estrangeiras, os lucros das operações imobiliárias serão inexoravelmente exportados.
Se o nosso clima é convidativo e o nosso país hospitaleiro, em lugar de “resorts”, incentivem-se os parques empresariais; em vez de reformados ricos e ociosos, atraiam-se empresas avançadas e os seus quadros jovens e activos."
[1] “Pegada ecológica”: metáfora usada para representar a quantidade de superfície de terra e água que uma população humana hipoteticamente precisaria para suprir os recursos necessários para suportar e absorver os resíduos, usando a tecnologia corrente.
6 comentários:
E assim se vive o progresso!
Adorei a musica...
Deixo-te um beijo e desejos de um ótimo começo de semana
Caro António,
as referências à "modernidade" e à "modernização" são eficazes neste texto. Afastam logo aqueles que em muitos dos pontos que refere lhe poderiam até dar razão. É o meu caso, Sou como você desfavorável às atrocidades urbanísticas que refere, mas também sou desfavorável à ideia de "progresso", "planeamento social" e "modernização" que as produziu. Talvez um dia o António possa reconhecer isto, já que agora bem compreendo que não deve. Um abraço para si,
Valdemar
Caro António
Mais um bom trabalho, que merece parabéns.
A vida não pára e é preciso modernizar, não para tornar diferente, mas para tornar melhor, em benefício da população. Para modernizar sensatamente é preciso identificar seriamente a situação actual, o ponto de partida, passando pelas actividades, a população, os rendimentos, etc. E, depois, com um adequado grau de ambição realista e viável, estabelecer objectivos dentro de uma previsão de evolução bem planeada, seguido de decisão, e acção controlada, para não perder de vista a finalidade, o objectivo pretendido.
É preciso fugir à ostentação não produtiva de bem-estar social, à imitação dos outros e à má competição pela vã visibilidade.
Não se deve perder a noção das realidades vigentes e há que procurar, a cada momento, rentabilizá-las em benefício da população.
Isto são ideias que saltam ao correr da pena a estas horas matutinas. Mas que julgo merecerem ponderação.
Um abraço
João
Lúcido e oportuno, António. Como sabes, também penso que o território deste país está a saque. Agora, quanto à "riqueza", já sabemos: a corrupção na esfera das autarquias aproveita a alguém, mas há pior. Diz Medina Carreira no Público de 13/08 "A grande burocracia está cristalizada, como de confirma com a existência perversa dos PIN, necessários só para quem o Governo entende contemplar; a grande corrupção está para ficar e mesmo para crescer". É que isto cria emprego.
Quanto ao controlo pelos políticos, diz a voz avisada de MC: "Os que têm surgido vêm apenas para ganhar eleições, promover-se e repartir vantagens pelos amigos e pelos arrivistas de sempre. Usam sem escrúpulos sofismas que só retardam a compreensão das coisas e dificultam a aplicação das decisões essenciais. Montam circos atraentes para impressionar, acenam com facilidades que não existem e prometem um amanhã que nunca chegará. Servem-se e servem outros. É quase tudo."
Os "resorts" são apenas a gota de água num país esfrangalhado e sem coluna vertebral.
Os interesses privados prevalecem sobre o interesse público, e ninguém duvida que há quem lucre com isso. O que ainda há de natureza neste país reserva-se para uns quantos. Os Pin's não contemplam projectos agrícolas, pesqueiros ou outros que nos deixem menos dependentes de terceiros, e a qualidade de vida dos portugueses piora, os rendimentos diminuem para que os "favorecidos" enriqueçam cada vez mais.
O nosso governo diz-se socialista e o anterior dizia-se social democrata, nós só acreditamos se quisermos.
Cumps
este é mais um dos problemas para o qual temos vindo a alertar há muito tempo.
tenho tido o cuidado de assistir a sessões de esclarecimento sobre o te, lido artigos publicados em sites e jornais e tenho percebido que, com a criação destes campos, vamos, mais uma vez, comprometer a fauna e flora pelo período minimo de 150 anos, tal a qualidade dos quimicos introduzidos nos terrenos.
Por outro lado, temos o problema da água. Está previsto e publicad em diversas estatisticas, que a água vai ser um grave problema no futuro.
vai ser escassa e contaminada.
é hoje que temos de actuar para contrariarmos esta situação. è hoje que temos de medir muito bem nossas atitudes para que os nossos netos não venham a pagar a factura dos nossos actos. lá vem a máxima popular "pelos erros dos nossos avós pagamos nós".
A teimosia em implementar campos de golfe não passa de resolvers interesses do grande capital.
o pouquissimo desenvolvimento que possa trazer à zonas de implantação do projecto não são suficientes para nos fazer esquecer o que estamos a destruir.
está na hora do povo começar a perceber que as medidas popularuchas encontradas pelos nossos autarcas para "desenvolver", não servem as nossas necessidades.
pensar em campos de golfe quando grande parte da população ainda nem saneamento básico tem...
Isto não é desenvolver (a não ser os bolsos de alguns) é destruir!
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