Recentemente numa exposição do pintor Nadir Afonso com a sua esposa, Drª. Manuela Eanes.
A maioria dos que me lêem, sabem da minha relação de proximidade com o General Ramalho Eanes que foi o primeiro Presidente da Republica eleito democraticamente depois do 25 de Abril. Conheço-o de antes disso, em virtude de ter sido, também, oficial do Exército, ensinado na mesma Escola de Ensino Superior Militar em que ele foi.
A primeira a vez que ouvi falar do seu nome foi numa circunstância que nada tem a ver, ou terá, com o seu envolvimento nos acontecimentos relacionados com o 25 de Abril de 74 ou, com a contenção político-militar do 25 de Novembro do ano seguinte. Havia, já no final da década de 60, uma relação difícil entre os mais jovens oficiais, como eu, e os capitães que davam instrução na Academia Militar (AM), que nos levou a assumir o risco de só cumprimentar (fazer continência) os capitães identificados com qualidades excepcionais, tanto no relacionamento humano como nas questões de natureza disciplinar. Um dia, quando me aproximada de um deles, que não conhecia, perguntei a um cadete, que estava por ali, quem era e como era o capitão que caminhava na minha direcção. Foi-me respondido que era o melhor instrutor da Academia. Alguns passos antes de me cruzar ele, iniciei o cumprimento da praxe a que ele respondeu com aprumo e cortesia. Fiquei a saber que era o Capitão Eanes.
Depois vieram outros episódios uns mais conhecidos da opinião pública, outros menos. De entre os que menos se conhecerão, estará a posição que tornou em 1973 redigindo e assinando, um onde contestava a submissão das, forças armadas à politica de então, por não representar nessa época, a vontade da expressão popular.
Esta semana foi noticiado pelos jornais que Eanes tinha recusado o recebimento de retroactivos da reforma a que teria direito e que só agora passa a receber, por ter sido corrigida uma anomalia criada por uma lei de 1984. E em mais de um milhão de euros!
No mundo em que vivemos e em que quase todas as coisas se fazem em função do dinheiro, num país onde há reformas públicas escandalosas e obscenas, a atitude de Eanes é um exemplo cívico e ético que deve constituir incentivo para que o governo continue a corrigir as deformações sociais com que o país ainda vive. Outra das recusas foi a promoção a marechal, posição a que ascenderam os anteriores generais que foram Presidentes da República, como Spínola e Costa Gomes. Por estas e outras razoes; Ramalho Eanes continua a ser a minha referencia ética e politica, para além do reconhecimento que tenho pelos que desempenham funções públicas e o fazem, principalmente, em nome do país e do povo que os elegeu. As recusas de Eanes exemplos virtuosos para todos. Especialmente para os que dizem servir, primeiro, o país. José Ribeiro Vieira. In Jornal de Leiria . 18 Setembro de 2008
Dois texto sobre uma figura ímpar da nossa democracia. Não deixo de me congratular com a actitude do nosso ex- presidente da Républica sr. General Ramalho Eanes e muito bem expressa nos dois artigos de opinião que publico. O primeiro é de autoria de Batista Bastos, foi publicado no DN . O segundo assinado pelo engº. José Ribeiro Vieira e foi publicado no Jornal de Leiria . Exemplos como os do sr. General Ramalho Eanes são verdadeiros confortos para quem acredita, como eu acredito, no ARGUMENTO DA HONRA. Ramalho Eanes abandonou a politica pela porta grande e é nessa dimensão que vive e será recordado na história do nosso país, como uma vez mais o seu comportamento atestou. Não é comum verem-se homens da sua dimensão, sobretudo nos dias de hoje quando a norma é, entre os politicos, práticas opostas à postura do Sr. General.
O ARGUMENTO DE HONRA
A ética republicana iluminava as virtudes do carácter e a grandeza dos princípios. As revoluções, idealmente, não são, apenas, alterações económicas e substituições de regimes. Transportam a ideia feliz de modificar as mentalidades. Essa mistura de sonho e ingenuidade nunca se resolveu. A esperança no nascimento do "homem novo" não é exclusiva dos bolcheviques. O homem das revoluções jamais abandonou o ideal de alterar o curso da História e de modelar os seus semelhantes à imagem estremecida das suas aspirações.É uma ambição desmedida? Melhor do que ninguém, respondeu Sebastião da Gama: "Pelo sonho é que vamos/comovidos e mudos./Chegamos? Não chegamos?/Partimos. Vamos. Somos." A ética republicana combatia a sociedade do dinheiro, da superstição religiosa, da submissão, e pedia aos cidadãos que fossem instrumentos de liberdade. As "raízes vivas", de que falou Basílio Teles.Fomos perdendo, sem sobressalto nem indignação, a matriz ética da República. De vez em quando, releio as páginas que narram os desassossegados dezasseis anos que durou o novo regime, obstinadamente defendido por muitos a quem se impunha a consciência do compromisso. Esses, entre o aplauso e o assobio, percorreram o caminho que vai do silêncio à perseguição, do exílio ao assassínio político. Morreram pobres. São os heróis de uma história que se dissipou, porque o fascismo impediu nos fosse contada, nas exactas dimensões das suas luzes e das suas sombras.Relembrei estes episódios ao tomar conhecimento, pelo semanário Sol, de que Ramalho Eanes prescindira dos retroactivos a que tinha direito, relativos à reforma como general, nunca por ele recebidos. A importância ascende a um milhão e trezentos mil euros. É um assunto cujos contornos conformam uma pequena vindicta política. Em 1984, foi criada uma lei "impedindo que o vencimento de um presidente da República fosse acumulado com quaisquer pensões de reforma ou de sobrevivência que aufiram do Estado." O chefe do Governo era Soares; o chefe do Estado, Ramalho Eanes, que, naturalmente, promulgou a lei. O absurdo era escandaloso. Qualquer outro funcionário poderia somar reformas. Menos Eanes. Catorze anos depois, a discrepância foi corrigida. Propuseram ao ex- -presidente o recebimento dos retroactivos. Recusou. Eu não esperaria outra coisa deste homem, cujo carácter e probidade sobrelevam a calamidade moral que por aí se tornou comum. Ele reabilita a tradição de integridade de que, geralmente, a I República foi exemplo. Num país onde certas pensões de reforma são pornográficas, e os vencimentos de gestores" atingem o grau da afronta; onde súbitos enriquecimentos configuram uma afronta e a ganância criou o seu próprio vocabulário - a recusa de Eanes orgulha aqueles que ainda acreditam no argumento da honra. Pode consultar igualmente este artigo de Batista Bastos no blog do MIRADOURO
AS RECUSAS DE EANES
A maioria dos que me lêem, sabem da minha relação de proximidade com o General Ramalho Eanes que foi o primeiro Presidente da Republica eleito democraticamente depois do 25 de Abril. Conheço-o de antes disso, em virtude de ter sido, também, oficial do Exército, ensinado na mesma Escola de Ensino Superior Militar em que ele foi.
A primeira a vez que ouvi falar do seu nome foi numa circunstância que nada tem a ver, ou terá, com o seu envolvimento nos acontecimentos relacionados com o 25 de Abril de 74 ou, com a contenção político-militar do 25 de Novembro do ano seguinte. Havia, já no final da década de 60, uma relação difícil entre os mais jovens oficiais, como eu, e os capitães que davam instrução na Academia Militar (AM), que nos levou a assumir o risco de só cumprimentar (fazer continência) os capitães identificados com qualidades excepcionais, tanto no relacionamento humano como nas questões de natureza disciplinar. Um dia, quando me aproximada de um deles, que não conhecia, perguntei a um cadete, que estava por ali, quem era e como era o capitão que caminhava na minha direcção. Foi-me respondido que era o melhor instrutor da Academia. Alguns passos antes de me cruzar ele, iniciei o cumprimento da praxe a que ele respondeu com aprumo e cortesia. Fiquei a saber que era o Capitão Eanes.
Depois vieram outros episódios uns mais conhecidos da opinião pública, outros menos. De entre os que menos se conhecerão, estará a posição que tornou em 1973 redigindo e assinando, um onde contestava a submissão das, forças armadas à politica de então, por não representar nessa época, a vontade da expressão popular.
Esta semana foi noticiado pelos jornais que Eanes tinha recusado o recebimento de retroactivos da reforma a que teria direito e que só agora passa a receber, por ter sido corrigida uma anomalia criada por uma lei de 1984. E em mais de um milhão de euros!
No mundo em que vivemos e em que quase todas as coisas se fazem em função do dinheiro, num país onde há reformas públicas escandalosas e obscenas, a atitude de Eanes é um exemplo cívico e ético que deve constituir incentivo para que o governo continue a corrigir as deformações sociais com que o país ainda vive. Outra das recusas foi a promoção a marechal, posição a que ascenderam os anteriores generais que foram Presidentes da República, como Spínola e Costa Gomes. Por estas e outras razoes; Ramalho Eanes continua a ser a minha referencia ética e politica, para além do reconhecimento que tenho pelos que desempenham funções públicas e o fazem, principalmente, em nome do país e do povo que os elegeu. As recusas de Eanes exemplos virtuosos para todos. Especialmente para os que dizem servir, primeiro, o país. José Ribeiro Vieira. In Jornal de Leiria . 18 Setembro de 2008
15 comentários:
Um homem de honra, sem dúvida. incorruptível. Alheio às intrigas dos corredores e dos bastidores. Foi eleito sem partido, nem clãs mas unicamente pelas suas próprias qualidades pessoais. Para serviço do País como era o lema dos republicanos. Será o último dos políticos republicanos? Apanhassem os eleitos PS, PSD, CDS e os falsos independentes que temos hoje o direito a essa massa de retroactivos e a possibilidade de uma subidinha honorífica, uma medalha...
Sin duda Filomeno 2006, que si.
Una abrazo
António
Viva Jorge Casal,
Deveria de ser assim que todos deveriam de ser eleitos sem partido e com base das suas qualidades e virtudes. O ex-presidente Eanes , é, possivelmente dos ultimos republicanos como muito bem observas.
Um abraço
António
Este homem se se recandidatasse não faria a figura do Soares! Infelizmente, Eanes, é apenas um caso!
Hola FILOMENO2006,
El General publicó vários libros, sobre politica e discursos pero no lo se si alguno era tan concreto como el que preguntas. Ya lo miraré y te enviaré sus publicaciones. El hizo un doctorado en la universidad de Navarra sobre politica en Portugal. Tambien intentaré verlo e darte las referencias.
Un cordial saludo.
Estimado Pata Negra,
Não tenho a menor dúvida e como alguém disse para trás " será o ultimo dos politicos républicanos".
Farei um link do seu espaço no meu.
Um abraço
António
Tenho que confessar que Ramalho Eanes nunca foi a minha escolha, mas este gesto foi sem dúvida de grande dignidade. Também posso dizer, porque me cruzei com ele por diversas ocasiões, enquanto Presidente da República, que foi o único, juntamente com a esposa, que sempre cumprimentou todos os que o serviram, independentemente da posição ou estatuto, facto que não vi nenhum outro repetir.
Abraço do Zé
A figura pouco risonho do General Ramalho Eanes, associada à austeridade militar poderiam provocar algumas reticencias, nas pessoas. Pessoalmente sempre vi no general Eanes uma verdadeira figura de Estado como penso que deve de serm. Honestas, integras, com alto dever de missão e respeito por quem governam. Esta sua actitude só veio a provar a sua dignidade. Contactei apenas tres ou quatro vezes com ele e sempre me pareceu muito correcto e cordial tal como o amigo Zé afirma.
Uma abraço
António Delgado
Não será de espantar esta excepcionl atitude do General Ramalho Eanes para quem, como eu, participou activamente das suas campanhas eleitorais para as Presidenciais.
Estou a ver-me, sozinho, 27 anos, a conduzir uma carrinha, microfone na mão, a percorrer as várias freguesias do concelho de Leiria. Um célebre dia, até pretenderam cercar a carrinha e não me deixar avançar, que eram os comunistas que vinham aí, há que dar cabo deles, etc. Lá me desenrrasquei.
Emocionantes recordações. Trabalho proveitoso para todos nós, congratulo-me.
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Com que então aí em Alcobaça, os sapinhos da Câmara não gostam de ouvir a oposição? Julgam-se os Césares da terra? Absolutistas?
Loucos que eles são! Se calhar até se dizem democratas, não?
Um grande abraço e a minha solidariedade.
António Nunes
António Delgado
Em época de crise de valores em que a palavra é letra morta e os nossos políticos, na sua esmagadora maioria, perderam a vergonha quase por completo, lembrar Eanes é lembrar o homem da ética e da palavra, aquela estrutura que se mantém erecta venham os ventos que vierem.
É gratificante encontrá-lo aqui.
Abraço
Resto de boa semana bj
Amigo António.
Deste senhor General, muitoa havia a dizer. De facto, nos tempos que correm, o General Eanes, dá o exemplo. O exemplo, do home, do cidadão e da rectidão. Essa rectidão tão apregoada e recalcada nos meios militares. Congratulo-me, por ter ainda no meu país, homens como o General. Comunista, ou não, de carácter intocável de certeza.
Abraços cordiais.
Carlos Rocha
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