segunda-feira, março 16, 2009

ESTEREÓTIPOS



Uma professora de idiomas explicava que os substantivos em Francês têm género (o qual é muito difícil de compreender para os ingleses) e que, para eles, casa (maison) nesse idioma é feminino, e lápis (crayon) é masculino. Um aluno pergunta “de que género é o computador?”. A professora não soube responder porque não tinha estudado a palavra e não podia encontrar o género no seu dicionário Francês – Inglês. Para “divertir-se”, dividiu a turma em dois grupos (rapazes /raparigas), e pediu-lhes que decidissem se computador devia de ser masculino ou feminino. Ambos grupos eram obrigados a dar quatro razões para a sua escolha. O grupo de rapazes decidiu que computer tinha de ser do género feminino porque: 1º. Ninguém, senão o seu criador, compreende a sua lógica interna. 2º. a linguagem que usam para comunicar-se entre uma e outra computers é incompreensível para qualquer uma que não elas. 3º. Inclusive os mais pequenos erros são armazenados muito tempo para uma possível recordação posterior. 4º. Logo que te comprometas com uma, encontras-te gastando a metade do salário em acessórios para ela. Para as raparigas os computers são visto como masculinos porque: 1º. Para conseguir a sua atenção, primeiro têm de acendê-los (to turn them on) 2º. Têm muita informação (data), mas nenhuma pista (clueless). 3º. supostamente, eles devem ajudar-te a resolver os teus problemas, mas a maior parte do tempo são eles o problema. 4º. Assim que te comprometas com um, dás-te conta que se tivesses esperado um pouquinho mais, tinhas conseguido um modelo melhor e mais evoluído.
Isto ouvi-o numa tertúlia entre amigos e relatei-o a uma colega que ensina géneros, o que foi uma péssima ideia. Enquanto narrava a primeira parte, dando-lhe os argumentos dos rapazes, com alguma ira, disse-me que aquelas opiniões procediam de um machismo intolerável. Pensei que a faria sentir melhor com as respostas das raparigas, mas não, aborreceu-se ainda mais, e assegurou que ambos grupos inventariaram estereótipos que ferem e perpetuam uma noção errónea dos géneros... foi-se embora!
Que fazer no dia seguinte nestas circunstâncias? Enviar uma flor à colega? De modo nenhum, porque este tipo de conduta não é bem vista nos meios académicos e até pode ser classificada de machista. Desdizer a piada ouvida a terceiros ou tratar de explica-la sociologicamente? Limitei-me a escrever este artigo para dizer o seguinte: Coincido com a minha colega em desdenhar os estereótipos, que creio serem intenções patéticas de os enclausurar e fixar, que vão de um extremo ao outro, sobre o que é ser homem ou mulher porque lhes tira espaço, vida e liberdade que cada ser tem para se fazer e refazer. Várias décadas bastaram para que o movimento feminista produzira uma irreversível mudança no mundo e uma esplêndida reiteração da liberdade humana em todas as suas possibilidades. No entanto, as revoluções têm um defeito tiram o sentido de humor, uma rigidez que pode ser traumática, sobretudo para a juventude e em especial para os rapazes. Parece que nesta geração, eles não sabem como ser homens. Há dias, dizia-me uma brilhante académica que na América onde se urdem estas mudanças, a conduta masculina tradicional de enviar rosas, escrever cartas, suspirar e todas as formas de galanteio clássico estão quase proibidas e são consideradas como machismo. Os rapazes devem abster-se do idílio e propor directamente: “I want to have sex with you” e a rapariga para não parecer antiquada nem dominada pelos pais deve de aceitar a proposta.
Neste cenário o amor romântico está morto ou condenado a fantasia sexual de origem patriarcal. Nestas circunstância o sexo é uma actividade física sem mais dignidade e mistério que a natação, o golfe ou o basquetebol. Adiantando o sexo ao amor, o amor nunca chega.
Não creio que a “droga” tão generalizada, possa suplantar esse poço sem fundo porque é muito difícil levar a vida sem amor. Sobre a minha colega espero que não me considere patriarcal nem ultrapassado pelo que digo mas creio seriamente que, para agraciar a vida pela maravilha, deve-se deixar nela um espaço suficiente para o mistério e o romance e para a explicação poética do mundo! António Delgado in Jornal de Leiria, 12 Março de 2009

10 comentários:

Menina do Rio disse...

Eu já conhecia esse texto sob a ótica de ambos e é de certa forma divertido, mas são apenas comparações simbólicas, nada que leva a desencadear a 3ª guerra mundial (desta vez - dos sexos). Nunca deixaremos de ser macho e fêmea (homem/mulher) e ignoro completamente qualquer definição na América (do Norte)sobre comportamento. ( eles estão a meio caminho para "Admiravel mundo novo" sem os efeitos da "SOMA" ). Machismo é usar a força bruta ou o fato de ser mais alto, mais forte, para subjulgar o chamado sexo frágil que só é frágil do ponto de vista físico. O amor não é machismo, cativar é um gesto de delicadeza e palavras doces e galanteios são essenciais, como flores, poemas, ceder a passagem, abrir uma porta, fazer uma reverencia. Somos animais, mas ainda não nos tornamos bichos!

Um beijo pra ti querido

david santos disse...

Olá, António!
Por cá andamos. Se os ingleses dizem tem que ser verdade.
Abraços.

Espero vir a ter condições para passar mais vezes.
Até sempre.

A. João Soares disse...

Caro António,
Pela cabeça de gente racional, homens ou mulheres, não pode passar a ideia de discriminação entre pessoas dos dois sexos, ao ponto de se falar em guerra de sexos. Não são iguais, mas completam-se mutuamente, na constituição de família, na procriação, na educação dos descendentes e nas tarefas da vida real. Sendo diferentes nas capacidades físicas de inteligência e de emotividade, devem assumir essa diferença na forma adequada de distribuição de tarefas, com respeito mútuo e visando sempre um objectivo centrado numa vida mais feliz e harmónica dos seres vivos.
Não pode haver escravatura nem tirania de um sobre o outro, mas colaboração e harmonia num verdadeiro trabalho de equipa. Todos devemos unir esforços para construir um mundo melhor
Um abraço
João Soares

SILÊNCIO CULPADO disse...

António
Este texto sobre o género do computador tem imensa piada e é assim que devemos lê-lo, como um texto com piada.
Também não me parece que conotar as mulheres e os homens com certos atributos, que são mais ou menos específicos de cada género, seja algo de censurável.
Censurável será, em meu entender, estabelecer aderências de atributos inferiorizantes ao sexo feminino o que não é propriamente o caso. Assim, acho que são tão condenáveis os estereótipos ligados ao género como a absessão doentia por parte de certas mulheres em combater uma simples piada.
Finalmente e em relação ao amor romântico, acho que nunca se deve abrir mão dele. É lindo ainda que dure pouco e ajuda-nos a conquistar um lado da vida que, sem o conhecermos, ficará sempre desconhecido.
Abraço

Pastora disse...

Pois é Silêncio Culpado ! Que mal dispostas andam as pessoas que nem são capazes de rir com uma boa piada! E o humor é justamente uma das formas mais eficientes de lutar contra aquilo que é errado, como sejam os estereótipos sobre os géneros.
Biologicamente e sobretudo por condicionamento social dificílimo de remover, os dois sexos são normalmente diferentes e têm comportamentos diferentes. Continuamos apesar de tudo a viver num mundo de dominação masculina e isso faz com que algumas mulheres reajam com irritação por não se ver ainda o fim do túnel.
Quanto ao amor, Sócrates diz que ele é uma loucura, dádiva dos deuses concedida aos homens,mais bela do que a sabedoria porque surge da graça divina. Quem nunca a sentiu nem calcula o que perdeu !

Pastora da Estrela

José Lopes disse...

Eu costumo dizer que "ainda bem que homens e mulheres são diferentes", porque nem consigo imaginar um mundo em que não existissem as tais diferenças entre os dois sexos. Antiquado? Talvez, mas eu também já não vou para "novo".
Cumps

Blas Jesús Sánchez González disse...

En castellano, no nos complicamos. Si le llamamos ordenador, será masculino. Pero si le llamamos computadora, será femenino.

En català, ordinador és femení i computadora s'utilitza poc.

Mais, en français, je ne sais pas le genre (je suis encore à la première année). Est-ce que est masculin? L'ordinateur? Un ordinateur. C'est masculin.

Pero a las mujeres no hay quien las entienda, por mucho silogismo que utilices en programación.

Blas Jesús Sánchez González disse...

Volia dir que ordinador és masculí.

Militante independente disse...

Off topic: No jornal "Região da Nazaré" escrevem que iria fazer a moderação da tertúlia na biblioteca sobre a arte contemporânea, mas quem a fez foi o Dr. Jorge Lopes na sua falta. O Professor Carepa também não apareceu por lá (tinha umas coisas para falar com ele!). Que aconteceu para que as pessoas que deram o pontapé de saída nas conversas na biblioteca faltassem?

SILÊNCIO CULPADO disse...

António

Um bom domingo de Páscoa.


Abraço