segunda-feira, agosto 31, 2009

TURISMO DE SOL E PRAIA

( imagem publicada no Jornal de Leiria de 27/8/2009)

Para qualquer pessoa, do séc. XXI, ser turista é um atributo possível dos novos modos de viver. Um turista é uma personagem que imaginamos relativamente disfarçada, com roupas multicolores, sapatilhas para andar e uma câmara de fotos ao pescoço. O clássico turista, chega aos lugares em pequenos grupos ou em grupos massivos que descem dos autocarros. Há quem os compare às aves de rapina, querem ver tudo, tocar tudo, comprar tudo…e desaparecem de imediato. A palavra turista é um neologismo atribuível a Stendhal, para designar os viajantes “românticos”, que após as guerras napoleónicas se lançaram a percorrer o mundo, deixando alguns deles, belas reportagens dos lugares que visitavam. Antes de mais nada, os turistas são, seres humanos que dedicam uma parte das suas vidas a deslocarem-se para um lugar, com a esperança de que essa viagem e essa visita seja uma experiência gratificante. A maior parte, para não dizer todos, investiram dinheiro e tempo para decidir a onde queriam ir, para realizar o que em muitos casos era um sonho dourado.
Na actualidade, as modernas maneiras de entender o turismo têm igualmente outras tantas maneiras para concebê-lo. A partir dos anos 50, o turismo relacionado com o descanso, gerou um laser de Sol e Praia, que não pretendia mais do que romper com a rotina laboral. Do mesmo modo que a televisão significa o inicio de uma forma de viver, o automóvel representa uma nova maneira de nos relacionar, uma mudança radical na forma de perceber o espaço e o tempo. O acesso massivo ao automóvel e o desenvolvimento dos meios de transporte tornou possível uma percentagem elevada de pessoas em viajar a diário a cidades e a sair de férias. O turismo, nos seus múltiplos sentidos, e, mais concretamente o turismo de férias, é outra das características da nova cidadania que a cultura pós moderna universalizou através das práticas do ócio. Simbolicamente falando, a televisão é o grande turismo gozado na tranquilidade de um lugar. O “turismo” é a televisão em movimento e a proliferação do consumo ocular que se manifesta no Zapping, no circular no shopping da cidade, nos fins-de-semana no carro…, é a necessidade de ver, sobretudo, aquilo que é conhecido pela vista em fotos, filmes, programas de televisão e internet.
Nos nossos dias bastam cinco minutos e pouco mais de 600 euros na conta bancário, para planear umas férias em Punta Cana ( Republica Dominicana) ou no México, pela internet. Qualquer “um” pode gozar uma semana em ilhas ou praias paradisíacas da Republica Dominicana às Seychelles ou Antilhas. O preço inclui oito noites em hotel, voo, deslocações e seguros de viagem… O resto paga-se à parte!
Um estrangeiro, com dúvidas para onde ir no verão, pode escolher um pacote com estas características a um preço nada superior àquele que gasta para vir a Portugal. A comparação pode mostrar de forma clara o problema que enfrenta o turismo Português.

A perda de competitividade a um modelo ultrapassado, pela existência de destinos com preços exequíveis em ofertas mais tentadoras e seguras, é evidente sobretudo quando ainda pode ser ensombrado, por eventuais acidentes como o ocorrido recentemente numa praia do Algarve.
O tempo das vacas gordas, quando o número de estrangeiros aumentava sem parar, não foi aproveitado para sentar as bases de um modelo sustentável a médio e longo prazo.
Em vez disso, deu-se a devastação sistemática ou sustentada do nosso litoral com tropelias urbanística num grave e enorme saque, para o património natural e paisagístico, e permitiu a uma só geração consumir recursos que deveriam de durar séculos. Apenas o optimismo antropológico dos nossos governantes, para não designar outra coisa, tem sido insensível.
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Videos e apresentação em slideshow de alguns dos 15 pontos de alerta que podem originar catastrófes no Distrito de Leiria. As imagens são dos concelhos da Nazaré e Alcobaça (Vale Furado e Agua de Medeiros).


Nazaré: Sítio local perigoso I from António Delgado on Vimeo.







ALCOBAÇA: AGUA DE MEDEIROS from António Delgado on Vimeo.

4 comentários:

Cila disse...

Olá António!
Abordaste um tema pertinente e que chama a atenção dos responsáveis pelo assunto.
Bjo

Ema Pires disse...

Sobre o turismo pode-se fazer uma tese. Mas o que ma chama particularmente a atenção é porque é que de repente as pessoas se vestem de “turistas”, da maneira mais grotesca possível. Homens e mulheres barrigudos(as) com essas saias calção, ou calções saia, absolutamente ridículos alguns e algumas, novos e velhos, não há idade para ser caricato. Será que uma maioria de pessoas perde no verão todo sentido estético? Será que para não passar calor é necessário vestir-se de um modo totalmente ridículo? É mesmo um atentado contra o bom gosto.

Unknown disse...

A Ema refere-se ao mau gosto das indumentárias de verão. Penso como ela. Eu interpreto essas indumentárias ridículas como «fardas de férias», sinais distintivos de que se está em férias, para os outros saberem que estão em férias. São gostos de gente que tem de mostrar o seu gosto ao modo do gosto dos outros. O gosto deles mede-se pelo gosto dos outros. Chama-se a isso «massificação dos gostos», supressão das personalidades individuaisn e dos gostos.

O António refere-se à destruição do património natural em poucos anos. Os políticos que deixam fazer tudo quanto as pessoas quiserem (construções, etc)só entendem a Coisa Pública como meio de eles ganharem eleições. Então, o construtor e o proprietário que manda construir «têm sempre razão», na esperança de o voto cair Os políticos é que destroem o património natural.

Pior do que destruir pelo uso e pela incúria o património natural (falésias, areais, etc.), pior, é o que fizeram certas Câmaras do Algarve depois do problema na Praia Maria (?): pegaram em buldózeres e derrubaram as falésias ou rochas instáveis, para evitar mais acidentes. Ora, isso é que se chama destruição criminosa. A Natureza está bem como está. Quem não quiser correr riscos não se aproxime dos locais de perigo. O que deviam fazer as câmaras era:
Assim como há locais proibidos para estacionar, assim deviam essas falésias ou rochas instáveis estar proibidas ao acesso das pessoas, sob pena de pesadas multas, como no trânsito. Isso sim, seria prevenir os perigos deixando a Natureza como está, ou como vai estando, sem a corromperem nem destruirem

zé lérias (?) disse...

um abraço e continuação de bom trabalho.