"Regresso à caminheta e venho a saber depois que o lugar de Assento é estrada abaixo, para ao pé da igreja. Voltamos todos para Braga. Apontei o nome da miúda e o resto. Almoçarada em Gualtar com o Forte e o King-Kong, o motorista, que paga tudo e está simpatiquíssimo comigo e com o Mundo. Frango com arroz, à minhota, uma delicia. Vinho verde, à minhota, uma delicia. Como bundaradas porque adora arroz de cabidela e vinho verde e minhotas: “ Deolinda da Costa Rodrigues, 14, anos no lugar de Assento, cá me ficas, mas este arroz marcha à frente! “. Bebo mais que um Arcebispo, com o Bom – Jesus em cenário. Deixo de pensar na morte, essa magana. Estou um tanto pesado e alegrote. Voltamos a Braga. Cafés. Decido ficar. O forte dá-me cinco escudos, que é quanto lhe resta. Um bom Libertino não precisa de dinheiro. Decido ficar e fazer uma tarde de luxúria mental em Braga, para esconjurar o cheiro e incenso e mofo de padre que empestam estas ruas. (...)
Mas passam por mim duas miúdas: uma, grande cu descaído, badalhoca de cara, trouxa de carne a dar às pernas - é a que me tenta; outra, muito compostinha no trajar, casaco preto, saia branca ou creme, muito viva, muito espevitada. Atiro pontaria na badalhoca, a ver se avanço depressa o negócio, jogando no ganaha – perde da beleza física e no calculo das probabilidades dos complexos das feias. Vou-as seguindo, de rabo alçado como um garanhão, e a gorduchona já me topou. Olha para trás, por vezes. Já comunicou à parceira. A andar, a andar, chegamos a uma espécie de logradouro público, com certo ar antiquado e bancos largos de pedra, onde finda a linha dos eléctricos para o estádio (vejo o nome, estádio 28 de Maio, oh a Politica !, ah! ah!, isto só em Braga). Mas agora o grupo das meninas complicou-se: entrou por ali uma velha gorda, e inútil, e naturalmente sabichona e danada por invejar o prazer dos outros como é próprio das velhas; com ela, e tão empatas como ela, duas garotinhas, broncas e também inúteis para as questões do sexo."
Mas passam por mim duas miúdas: uma, grande cu descaído, badalhoca de cara, trouxa de carne a dar às pernas - é a que me tenta; outra, muito compostinha no trajar, casaco preto, saia branca ou creme, muito viva, muito espevitada. Atiro pontaria na badalhoca, a ver se avanço depressa o negócio, jogando no ganaha – perde da beleza física e no calculo das probabilidades dos complexos das feias. Vou-as seguindo, de rabo alçado como um garanhão, e a gorduchona já me topou. Olha para trás, por vezes. Já comunicou à parceira. A andar, a andar, chegamos a uma espécie de logradouro público, com certo ar antiquado e bancos largos de pedra, onde finda a linha dos eléctricos para o estádio (vejo o nome, estádio 28 de Maio, oh a Politica !, ah! ah!, isto só em Braga). Mas agora o grupo das meninas complicou-se: entrou por ali uma velha gorda, e inútil, e naturalmente sabichona e danada por invejar o prazer dos outros como é próprio das velhas; com ela, e tão empatas como ela, duas garotinhas, broncas e também inúteis para as questões do sexo."
Luis Pacheco: O Libertino passeia por Braga , a Idolátrica, o seu Explendor. Edições Colibri pp. 20,21,22
22 comentários:
Boa António!
Mais dia menos dia e antes de levarem com as caixas do peixe,levam com o Luiz.
E depois... pó!
Caro JLQ
O extracto pertence à primeira obra dele que li em 1984, numa edição que o Francisco Relógio ( o pintor) me emprestou. E desde logo fiquei fã. Cativo-me a naturalidade como descrevia a realidade. Tenho quase toda a sua bibliografia e a semana passada, ao fazer mudanças, para a minha outra casa separei os livros dele para reler.
Um abraço.
Mí querido amigo gracias por tus saludos, la verdad te doy las gracias por tenerte cerca, que estas fiestas hayan sido muy lindas y te deseo un 2008 como te lo mereces lleno de amor, y siempre con esa lucha tan generoso para todos y no cambies nunca, un feliz día de Reyes
Mil disculpas si no te he contestado antes, pero estoy enferma y eso me ha tenido alejada de todo
Pero voy lentamente saludando a cada amigo a medida que puedo y te dejo un gran abrazo
Que sea un 2008 de mil cosas bellas, feliz 2008
Te dejo todo mi cariño y que estés muy bien
Mil besitos y cuídate
Besos y sueños
Uma boa e oportuna homenagem ao falecido. A simplicidade da linguagem sem a ordinarice que muitos usam em temas do género, e com uma abrangência da descrição, tocando na gastronomia, na psicologia e na sociologia (a política e os padres).
Realmente escrever bem não é para os que querem, é para quem sabe.
Abraço
Interessante, não conhecia mas está interessante...
Merecida homenagem ao crítico e polémico homem que lutou pela pena e sem 'papas na língua'
Um Abraço
Amigo A. João Soares,
Luís Pacheco foi uma verdadeira descoberta em 1983. Já era um escritor de culto para uma pequena elite de iniciados que conhecia muito bem a obra dele. Ela foi-me mostrada por um amigo no início dos anos 80 na “movida” do Bairro Alto”. Em Luís Pacheco a escrita e a narrativa são muito claras, a palavra prende o leitor pela naturalidade descritiva quer de sentimentos sensações e vivencias quer de pela tecnocracia no uso do verbo. Talvez devido à unidade entre a vida e da obra de LP que se confundem. Da sua obre ele dizia mesmo “ eu não sou um criativo eu descrevo aquilo que me acontece”. O que não é pouco em termos literários. Talvez por isso, a sua escrita seja totalmente fora de movimentos literários ou modismos de cartel impostos pelas confrarias literárias e seus críticos. Com uma literatura por vezes desconcertante, elegante, mordaz, arrepiante, comovedora mas sempre sensível à liberdade de sentimentos e razão. Transforma a vulgaridade em momentos de rara beleza estética que é difícil de encontrar em qualquer outro escritor. Por isso concordo com a observação do amigo João: a escrita do LP tem a " simplicidade da linguagem sem a ordinarice que muitos usam em temas do género" tornando-a por isso imprescindível para quem gosta de boa literatura. Um Abraço
Amigo Ludo, sim é verdade daqueles cuja vida...ACONTECE e têm o raro previlégio ou dom senão a coragem de fazer dela aquilo que queram sem se vergarem.
Um abraço fraterno
Querida Freyja
GRacia por tu visita hoy mismo te llamaré por la tarde...
Um beso cariñoso y un abrazo fraterno. Que el 2008 traiga lo mejor para todos/as nosotros/as.
António.
Merecida homenagem.
Parabéns.
Caro Tiago Cardoso,
Se for do seu interesse recommendo a leitura de Luis Pacheco. Suponho que agora há obras suas no mercado. Coisa rara faz uns tempos.
Um abraço
Ant´nio Delgado
A linguagem simples, até brejeira, não é necessariamente ordinária, e transmite uma realidade mais perceptível e próxima do nosso quotidiano. Sempre fui mais atraído por este estilo do que por textos mais elaborados, mas como em tudo, é apenas um gosto pessoal que não impede a leitura de outros autores segundo os humores deste (às vezes, menos do que gostaria) leitor.
Cumps
Para além de um excelente autor que ficará para sempre na história da nossa literatura, foi também um homem de antes quebrar que torcer.
Boa homenagem.
Aproveito para deixar-te mais um abraço.
Amigo David
é mais que merecida...
um abraço.
António
Caro Guardião,
O poder da escrita do LP é para mim, muito gráfico mas igualmente evocador e aliado do sentir imediato. Há escritos que são bastante fortes mas não deixam de estar contextualizados. É dos poucos escritores de língua portuguesa que não me aborrece ler. Escreve como quem respira e transmite ideias como surgem sem o filtro de uma tecnocracia da palavra. É autentico e sem artificio. Pena tenho que a sua escrita se banalize pela publicidade dos fazedores de modas literárias ou por quem nunca ouviu falar dele e de forma instantânea, como os pudins tornam-se, especialistas... Problemas que a morte de certos escritores de culto aportam.
Um abraço
António
Amigo Zé Lérias,
subscrevo totalmente o que afirma.
Abraço
Antonio
Nunca tinha lido nada do autor, mas o texto é uma delícia.
Lê-se e chora-se por mais.
Abraço.
Será que ao menos depois da morte passará a ser mais conhecido? Tenho pena de só ter conhecido um pouco da obra um ano antes da sua morte.
Um abraço.
Nilson Bacelli
nem lhe digo o resto...
Um abraço.
Caro Papagueno nunca é tarde e de certeza LP será daqueles escritores que nunca serão propriedade do tempo.
Entrevista de Luis Pacheco ao Semanário Sol:
http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Cultura/Interior.aspx?content_id=75059
Estimada Mara,
Obrigado pela informaçao.
Cordialmente
Antonio Delgado
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