terça-feira, fevereiro 26, 2008

CIDADANIA E DEMOCRACIA

Sócrates


O enorme avanço nas técnicas das comunicações do último século tem sido alucinante, com efeito trouxe cidadãos mais informados sobre o singular mas imprecisos e notadamente ansiosos quando tem de incorporar essa mesma informação em benefício da colectividade. A particularidade deste facto transformou os partidos políticos em pujantes máquinas eleitorais e não em organismos para a transmissão das necessidades e ambições do povo. Esses blocos de cidadãos, como se reconhecem os partidos, medem-se , na actualidade, em termos de propaganda e é para ela que se destina a maior parte do valor de uma campanha na qual a imprensa em vez de cumprir um papel de protagonista como deveria cumpre um papel subalterno.

Conhecemos mais dos candidatos e a sua personalidade do que as suas ideias ou a forma como pretendem implementa-las. Talvez porque escutamos mais e falamos menos. Vivemos em aparência de forma mais colectiva mas curiosamente mais sós.

Por este caminho vemos que a política está cada vez mais distante do cidadão e mais próxima dos grupos de interesse que dela lucram e só conseguem governos arredados dos interesses colectivos. Em consequência a cidadania que assumimos é raquítica e a democracia que se lhe oferece é de baixa qualidade . Como reflexo temos maiores níveis de descontentamento em relação aos políticos e partidos políticos. A propaganda e o uso massivo dos meios para lançar slogans ou frases politicas - apenas para fazer a diferença verbal - tem esvaziado o conteúdo ideológico dos partidos e o debate necessário no interior dos meios de comunicação. Para a imprensa parece ser mais fácil seguir o caminho e o ritmo marcados pela propaganda do que analisar se por detrás dessas frases de ocasião se esconde ou não um projecto e um candidato fiáveis para a cidadania. Entendo que a imprensa serviria melhor o público alegando os efeitos desmobilizantes das publicidades negativas do que aderir à incerteza do conteúdo das mesmas.

Aristóteles e Platão: detalhe da pintura de Rafael, A escola de Atenas.

É por estas ideias que urge reabilitar a política e a democracia. Parece-me necessário reinventar a forma e a importância da urbanidade democrática frente ao mercado político ou às identidades fortes que excluem ou obscurecem o livre exercício da discussão pública. A política não deveria ser um mero subsistema da sociedade, mas a sede das autênticas decisões colectivas. A ideia de que as instituições democráticas não gozam de um dispositivo automático que garanta a sua renovação mantém-se; por isso devem ser alimentadas por um impulso cívico sempre renovado.É preciso recuperar a dimensão das virtudes “cívicas”, implicar os cidadãos de forma crescente na gestão do público e potenciar o exercício dos seus direitos e obrigações, para isso requer-se que os cidadãos possam confiar na classe politica e nas virtudes do sistema sem drama nem quebra. Mas isto talvez exija, em primeiro lugar, que os partidos, sejam permeáveis às autenticas necessidades sociais, que sejam abertos, transparentes e responsáveis assim como os seus dirigentes; em segundo lugar, que se estabeleça um autentico espaço público de debate democrático e um estilo de governar sem arrogância nem sectarismo ou confrontações de tipo Abel versus Caim. A cidadania reclama uma democracia de qualidade.

Neste ponto saliento a ligação da democracia a Liberdade e a Igualdade. Verdadeiramente, só se pode apostar na democracia e nos valores cívicos levando a sério estes princípios. Tratar-se-á de fazer com que a Igualdade e a Liberdade se reconheçam não apenas pelo modo formal mas numa prática efectiva. Porque é no âmbito da cidadania democrática que estes princípios são, em definitivo os únicos em que os seres humanos aparecem explicitamente como iguais.

Escola de Atenas: Pintura Mural de Rafael

12 comentários:

Anónimo disse...

Amigo, mais um daqueles artigo que nos põe a reflectir. Sim, reclamamos uma Democracia de Qualidade e em Liberdade. Pena tenho que muitos dos políticos de hoje tenham posto de lado as máximas pelas quais se fez Abril.
Estamos cá, (Blogosfera e não só...) para os recordar... Lutando, discutindo, pela Liberdade e Igualdade!
Um Abraço e Boa Semana

Luís Galego disse...

E por estas ideias que é urgente reabilitar a politica e a democracia.

É por isto que posts desta natureza fazem toda a diferença...

A. João Soares disse...

Um óptimo post, como é costume.
Os partidos vivem para ganhar as próximas eleições e, entretanto, vão actuando como centros de emprego para os familiares, amigos e familiares dos amigos. E váo fazendo a sua propaganda para enganar os eleitores.
Como dizia alguém, os políticos não são todos maus, pois alguns são péssimos.
Para a política se reestruturar bastaria que os partidos resolvessem convencer-se de que a sua missão é melhorar a vida dos cidadãos e, para isso, devem colocar acima de tudo os interesses colectivos dos portugueses.
Um dos pontos que é simples mas de grande alcance seria a aprovação de uma lista dos cargos a prover por confiança política. Seria uma relação pequena, porque a grande maioria dos cargos públicos deve ser provida por concurso público, a fim de admitir os mais competentes para o cargo.
Seria necessário o consenso dos partidos, mas isso iria contra os interesses dos meninos dos clãs.
É difícil decidir neste campo, tal como no da corrupção, em que eles todos estão interessados.
Abraço

Beezzblogger disse...

A maioria do povo, anda mal informado apesar da informação que refere. Note-se a informação que os poderes políticos e elites, filtram, ao deixarem passar só aquilo que lhes interessa. Os exemplos proliferam por aí, mas os mais informados, nós, os que se interessam por estas questões, que pesquisam, fazem leitura atenta do país, esses é impossível serem enganados, só se realmente o quiserem.

Mas concordo com o amigo A João Soares, dificilmente este país avançará, sem uma profunda reflexão de como se chegar às reais necessidades das massas.

Abraços do beezz e Parabéns pelo Post.

Siry Pérez disse...

Los politicos portugueses se parecen a los venezolanos, viven en un mundo virtual, cada vez parecen distanciarse mas de la realidad ciudadana.
COmo siempre excelente post.

Menina do Rio disse...

É o que eu digo: Não se faz governo; faz-se política. O dinheiro usado nas campanhas poderia ser empregado em benefício de quem lhes dá o voto. Acho que isso é em todo lugar. E o pior é que quem financia as campanhas são os mesmos que sonegam tributos. Deve ser alguma tipo de acordo. E ainda chamamos Democracia...?

Um beijo

papagueno disse...

Não dá para renovar a nossa "democracia"? Não seria possível correr com estes políticos e arranjar outros? Em todos estes anos não será óbvio que este sistema de rotativismo entre PS e PSD está totalmente esgotado?
Um abraço.

Blas Jesús Sánchez González disse...

Normalmente, la democracia está manipulada muchas veces por las mentiras de la prensa. La realidad dista mucho de las noticias. Esta mediaticidad es la que está atentando contra el valor que nuestras democracias se merecen. Saludos.

Zé Povinho disse...

Um excelente artigo com a tónica na maior participação cívica dos cidadãos na vida política. Claro que concordo, e somos muitos os que o vamos fazendo, talvez de uma forma pouco concertada, mas interveniente. O problema reside neste momento num poder que tem muita força, mas cuja independência deixa muito a desejar - a comunicação social. Há apenas dois patrões do 4º poder, o poder económico e o poder político. A resultante deste facto é que se torna relativamente fácil abafar um problema que suscita grande contestação, fazendo surgir de imediato mais uns quantos que desviem as atenções do essencial. Os políticos já o perceberam e usam o método com mais mestria do que a que demonstram na governança, e o poder económico também o faz controlando os jornalistas com a facilidade que lhes é dada com os contratos de trabalho, maioritariamente precários.
Muito mais havia para dizer, mas já ocupei muito espaço.
Abraço do Zé

Jorge Casal disse...

António. Como comentário à tua postagem, aproveito e subscrevo o texto, de Manuel António Pina publicado no Jornal de Notícias (27/2/08) que me foi enviado por Francisco Monteiro, por e-mail:

Manuel António Pina
"Usando uma expressão pessoana, o "caso mental português" parece ser, por um lado, não apenas o provincianismo, mas o provincianismo colorido do mais provinciano cosmopolitismo; e, por outro, algum defeito bioquímico nos neurotransmissores, principalmente estudos e estatísticas, que tanto pode dar, às segundas, quartas e sextas, para a alucinação e o delírio como, às terças, quintas e sábados, para o desalento, ou, o que não é incomum, para tudo isso (e muito mais) ao mesmo tempo. De facto, visto dos jornais, o país oscila diariamente, há uma semana, entre o cor-de-rosa e o negro. Excessos de dopamina como o "estou satisfeito com o que vejo hoje no país; quando começámos ninguém pensaria que chegaríamos tão longe" de Vital Moreira no Fórum Novas Fronteiras alternam com a "crise social de contornos difíceis de prever" da SEDES; 8 milhões de lucros por dia da Banca com os maiores índices de pobreza infantil e de desigualdade social da UE; milhares de postos de trabalho criados pelo Governo nos últimos três anos com milhares de desempregados criados pelo Governo nos últimos três anos. Espécie de "dois em um" bipolar de Mr. Hide e Dr. Jekyll, dir-se-ia que o problema do país não é político, é psiquiátrico. E não se vê que possa curar-se com eleições.

Jornal de Notícias, 27/2/2008"

Jorge Casal

J.J.J. disse...

Excelente!

WJC TELEMARKETING disse...

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