Como fenómeno, a guerra pontua, desde os primórdios a história da humanidade. A marca da nossa temporalidade e muitas das nossas datas costumam fazer referência a ela “antes da guerra”, “durante a guerra”, “depois da guerra”, “ no período entre guerras”. Também na linguagem corrente é muito comum a utilização do termo guerra para designar ideias de sentido metafórico, que tanta a linguagem publicitária, como a politica, entre outras, utilizam para definir ideias como : “guerra à sujidade” para publicitar detergentes ou, “guerra ao desemprego, à pobreza e guerra à corrupção ”, como discurso politico.
As aderências culturais ao fenómeno da guerra leva a procurar as suas bases em estruturas, processos e práticas sociais muito comuns ao nosso redor e aparentemente inofensivas. Desde o entretenimento à moda ou à publicidade podemos encontrar abundantes exemplos de como o tema bélico invade o território do civil. Está no cinema, nos videojogos, nos anúncios de recrutamento de trabalhadores, na roupa com padrões de camuflagem, mas igualmente debaixo de uniformes menos óbvios, como são os desportivos. As competições desportivas acabam por ser, como certas festas, meios para ritualizar confrontos de colectivos que deveriam ser inofensivos, mas que na verdade adquirem carácter violento. Roger Callois vinculou mesmo o sentido ébrio da guerra com a exaltação da festa (L’homme et le sacré).
As guerras têm muitas causas possíveis e é impossível enumerar todas. No entanto, cabe salientar as diferenças entre conflitos civis e militares e entre estados e, ter presente um facto comum qualquer que seja a natureza de uma guerra: sem inimigos elas não existem!
Esta ideia leva-nos a outra que é a construção do outro como inimigo. Muitas vezes é nos meios de comunicação que se vai tecendo a trama cultural que desloca a noção de necessidade e legitimidade da guerra para o meio social. As opções de conduta disponível incorporam dentro de si a imagem do inimigo como aquele que há que submeter e destruir.
Apesar do termo guerra ter uma ampla variedade de acepções, elas estão sempre unidos ao sentido ontológico da guerra. Fazer uma reflexão exaustiva desta realidade, não é fácil e muito menos no espaço de um blog. Procurarei alinhavar pontos iniciados com a postagem anterior e reflectir de como a imagem da guerra é servida e observada numa cultura predominantemente visual, como a que nos cabe viver e, como ela é configurada no espaço público. É nele onde muitas vezes se encenam e fabricam os inimigos mas, também são denunciados os seus horrores. Ou como é feita a sua sociabilização e memorização com monumentos em actos públicos e solenes e, nalguns casos, com paradas militares. É com estas cenografias que se ajuda a configurar a memória colectiva de um grupo ou de uma cultura em torno de um ideal comum no qual a simbolização e a sacralização do espaço e, neste caso concreto, o urbano se reveste de um papel importante.
4 comentários:
Caro António,
Um dos lados negativos da humanidade é o culto da guerra. Ela, como diz, necessita do inimigo que nasce de um ambiente de desconfiança, de medo, de falta de contactos leais.
Dizia alguém que o ser humano age condicionado por dois factores opostos, o amor e o medo.
Falta-nos uma estrutura internacional, em substituição da ONU que se tem mostrado incapaz de assegurar a paz, que consiga desenvolver a confiança entre os estados e evitar a violência bélica.
Um abraço
João
Caro amigo António Delgado
Que acrescentar àquilo que o meu amigo expôs com tanta maestria e empenho?
Teorias e justificações para a Guerra não são difíceis de encontrar, mas seria muito útil ao Homem que tivesse em conta que o resultado duma Guerra nunca é definitivo. Nunca se ganha uma Guerra. O resultado é sempre provisório. Mais tarde ou mais cedo as motivações, que se mantêm latentes às vezes durante séculos, justificam novas guerras. Este ciclo infernal parece infinito.
Até quando? Em relação ao Homem, decerto que até à sua auto-destruição!
Depois não gostamos que nos chamem "burros", com mil perdões aos puros animais, eles próprios.
Um abraço
António
«L'union fait la force». La violencia es quebrantada por la unión, y ahora el poder de estos unidos constituye el derecho en oposición a la violencia del único. Vemos que el derecho es el poder de una comunidad. Sigue siendo una violencia pronta a dirigirse contra cualquier individuo que le haga frente; trabaja con los mismos medios, persigue los mismos fines; la diferencia sólo reside, real y efectivamente, en que ya no es la violencia de un individuo la que se impone, sino la de la comunidad.
Extraído da carta de Freud a Einstein em 1932
Onde já se viu paz antes da guerra?
www.gamebegin.com.br
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