quinta-feira, abril 16, 2009

ROSTOS NA PENUMBRA


Uma breve análise sobre os partidos políticos, demonstra terem pouca visão de futuro. Os interesses que afiguram são difusos, representam-se a si mesmos e entre eles não diferem em substância as formas “clientelares” da relação com os cidadãos. É aquilo que se designa por “crise de representatividade”. Cada dia os partidos representam menos a sociedade. Que fazer, cruzamos os braços? Preocupamo-nos com saídas individuais? Lançamo-nos numa corrida alienada contra a participação política, desprestigiando-a? Talvez o segredo esteja no tipo de cidadania existente ou na que se possa promover.
Ela é por vezes, uma face oculta da sociedade que pode estar pintada de esperança ou ser a expressão dura do veneno que injecta desalento à esquerda e à direita. A cidadania é a principal fonte de mudança social que é necessário ser-se capaz de associar, juntar ou agregar. A possibilidade de mudança numa sociedade depende da forma como os cidadãos se relacionam com a política e o nível de participação que são capazes de sustentar. A existência de maiores ou menores probabilidades para desenvolver organizações partidárias de maior compromisso com a democracia e o bem-estar colectivo, depende do tipo de cidadania que cada um exerce. Vejamos quatro tipos.
1º “O imóvel apático”: não lhe interessa nenhuma espécie de participação, lembra-se da política para a maldizer e culpa-a dos males sociais e erros dos governos. Isto justifica a sua abstenção e a cómoda indiferença social. Os erros das instituições são pretexto para legitimar a preguiça, porque a inacção cívica é uma cómoda posição política.
2º “ O desiludido militante”: maneja as modernas tecnologias e tem razoável formação académica, mas deste conforto esparge vírus de desalento e fracasso. Um ou outro participa em organizações sociais, mas diz abominar a política e as virtudes na sociedade existem, segundo ele, nas organizações que controla e nas quais milita. Quem não está sujeito ao seu comando ou não se submeta aos seus desígnios é satanizado. Adopta uma visão autoritária da sociedade na mesma proporção que tem incapacidade para participar ou agregar-se em grupos. Crê que as suas ideias são a panaceia que salva o mundo. Há outros que não participam em nada, vivem da intriga e da mentira contra quem deseja actuar. São profissionais da desmoralização e especialistas em escamotear qualquer iniciativa ou sabotá-la. Para eles, todo obstáculo é a evidência objectiva de que qualquer esforço carece de sentido. São sumamente irresponsáveis, não lhes importa as consequências das suas palavras ao julgar as acções de outros. Recreiam-se na negatividade e jactam-se quando logram frustrar alguém. Regozijam com o fracasso das iniciativas dos outros porque justifica a sua passividade. Junto ao “ imóvel apático” contribuem para manter o clientelismo político e a corrupção.
3º “A cidadania activista”: move-se de forma clientelar e pelo benefício individual imediato. Representa o lema “venha a nós o vosso reino”. Estimula a desigualdade e a exclusão, e não considera a política uma actividade nobre ou que deva ser exercida por gente de bem. Os postos públicos são património exclusivo dos eleitos. Possuem o cartão do partido de maiores possibilidades eleitorais: cobiçar empregos e nomeações políticas é o objectivo. A política é fonte primogénita de privilégios e a melhor via para obter poder e compensações exclusivamente privadas.
4º. “A cidadania activa não clientelar”: Tenta estabelecer regras claras, precisas e iguais para todos. Une as pessoas de igual sentimento e (grupos) que defendem os mesmos interesses. Sabem que as regras do jogo quando são claras e aceites pela maioria e usadas como o principal critério para o tratamento equitativo são mais sustentáveis no tempo e serão de maior beneficio para si e sua descendência. É uma cidadania actuante, crítica, às vezes ácida, incómoda, insuportável. Reconhece a sociedade como um processo de construção colectivo e vê nos privilégios individuais uma selva perigosa. Nenhum destes tipos de cidadania existe em estado puro, por vezes, encontramos misturas estranhas e combinações inexplicáveis. O importante (creio) seria promover um modelo da “cidadania activa não clientelar”, por ser a que representa melhor a seiva criadora da sociedade e pode estimular mudanças e possibilitar a redefinição do pacto social que nos dá vida. É o tipo de cidadania que se necessita de forma maioritária e é a que deveria ganhar a aderência das nossas mentes almas e corações.

4 comentários:

Alexa disse...

Antónia Delgado
Realment vivemos numa selva urbana em que vale tudo. tem toda a razão o seu texto e está muito bem escrito
Concordo consigo que a única saída seria "a cidadania activa não clientelar". Era essa cidadania que nós deviamos ter nas nossas almas e corações.
Bem-hajas

um beijo

ANTONIO DELGADO disse...

Estimada Alex...é apenas uma ideia .

Um abraço

Pastora disse...

Obrigada pela análise.
Mergulhados neste mar de mentiras da política, não é fácil aos cidadãos interessarem-se por participar politicamente. O uso da mentira rebaixa-os como homens. Entre o trabalho e a família não lhes sobra muito tempo para reflectirem.
Cada vez é mais difícil encontrar pontos de apoio seguros para exercer a faculdade da razão. E esta perversão da mentira generalizada corrói o direito, a justiça e a moral.
Resta-nos uma esperança - a sociedade encontra sempre respostas para os seus problemas - bom seria que fosse com o sacrifício mínimo.

Pastora

ANTONIO DELGADO disse...

Viva Pastora,

são ideias pelo que vou vendo na vida e pela actuação de algumas pessoas.

um abraço