sexta-feira, maio 30, 2008

ARTIGO DE MÁRIO CRESPO. DN 26/5/2008



Por que não nacionalizar?

Mário Crespo, JornalistaSe o mercado não consegue disciplinar os preços, os lucros nem o selvático prendar dos recursos empresariais com os vencimentos multimilionários dos executivos, então por que não nacionalizar os petróleos e tentar outros modelos? Quem proferiu este revolucionário comentário foi Maxine Waters, Democrata da Califórnia, durante o inquérito conduzido pelo Congresso, em Washington, às cinco maiores petrolíferas americanas. Face à escalada socialmente suicidária dos preços dos combustíveis, o órgão legislativo americano convocou os presidentes para saber que lucros tinham tido e que rendimentos é que pessoalmente cada um deles auferia. Os números revelados deixaram os senadores da Comissão de Energia e Comércio boquiabertos. Desde os 40 mil milhões de dólares de lucro da Exxon no ano passado, ao milhão de euros mensais do ordenado base do chefe Executivo da Conoco-Phillips, às cifras igualmente astronómicas da Chevron, da Shell e da BP América. Esta constatação do falhanço calamitoso do mecanismo comercial, quando encarada no caso português, ainda é mais gritante. Digam o que disserem, o que se está a passar aqui nada tem a ver com as leis de oferta e procura e tem tudo a ver com a ausência de mercado onde esses princípios pudessem funcionar.Se na América há cinco grandes empresas que ainda forçam o mercado a ter preços diferentes, em Portugal há uma única que compra, refina, distribui e vende. É altura de fazer a pergunta de Maxine Waters, traduzindo-a para português corrente- Se o país nada ganhou com a privatização da Galp e se estamos a ser destruídos como nação pela desalmada política de preços que a única refinadora nacional pratica, porquê insistir neste modelo? Enunciemos a mesma pergunta noutros termos - Quem é que tem vindo sistematicamente a ganhar nestes nove anos de privatização da Galp, que alienaram um bem que já foi exclusivamente público? Os espanhóis da Iberdrola, os italianos da ENI e os parceiros da Amorim Energia certamente que sim. O consumidor português garantidamente que não. Perdeu ontem, perde hoje e vai perder mais amanhã. Mas levemos a questão mais longe houve algum ganho de eficiência ou produtividade real que se reflectisse no bem-estar nacional com esta alienação da petrolífera? A resposta é angustiantemente negativa. A dívida pública ainda lá está, maior do que nunca, e o preço dos combustíveis em Portugal é, de facto, o pior da Europa. Nesta fase já não interessa questionar se o que estamos a pagar em excesso na bomba se deve ao que os executivos da Galp ganham, ou se compram mal o petróleo que refinam ou se estão a distribuir dividendos a prestamistas que exigem aos executivos o seu constante "quinhão de carne" à custa do que já falta em casa de muitos portugueses. Nesta fase, é um desígnio nacional exigir ao Governo que as centenas de milhões de lucros declarados pela Galp Energia entrem na formação de preços ao consumidor. Se o modelo falhou, por que não nacionalizar como sugeriu a congressista Waters? Aqui nacionalizar não seria uma atitude ideológica.Seria, antes, um recurso de sobrevivência, porque é um absurdo viver nesta ilusão de que temos um mercado aberto com um único fornecedor. Se o Governo de Sócrates insiste agora num purismo incongruente para o Serviço Nacional Saúde, correndo com os existentes players privados e bloqueando a entrada de novos agentes, por que é que mantém este anacronismo bizarro na distribuição de um bem que é tão essencial como o pão ou a água? Como alguém já disse, o melhor negócio do Mundo é uma petrolífera bem gerida, o segundo melhor é uma petrolífera mal gerida. Na verdade, o negócio dos petróleos em Portugal, pelas cotações, continua a ser bom. Só que o país está exangue. Há fome em Portugal e vai haver mais. O negócio, esse, vai de vento em popa para o Conselho de Administração da Galp, para os accionistas, para Hugo Chávez e José Eduardo dos Santos. Mas para mais ninguém. A maioria de nós vive demasiado longe da fronteira espanhola para se poder ir lá abastecer.

Este artigo dá-nos mais força para fazermos o boicote à GALP!
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Junto ao problema dos combustíveis está a crise financeira internacional sobre a qual a UE parece associar os salários dos altos executivos e as indeminizações milionários. Estes temas foram discutidos na imprensa europeia, faz um dias mas parece que em Portugal se desviou a atenção sobre o assunto. Faço um link para o Jornal EL PAIS ,do dia 11 de Maio, para que possam ver o que a UE pensa do assunto.

16 comentários:

Lúcia Duarte disse...

oportuna esta postagem.
Vá pessoal, em 3 dias podemos mostrar que temos força!

Beezzblogger disse...

Ora não podia estar mais de acordo com o Dr. Mário Crespo, pessoa que denota grande isenção e idoneidade. Mas ando tudo enganado, só falam na carga fiscal que o governo cobra, aliado a isso, deviam falar realmente na VERDADE como o Dr. Mário Crespo.

Eu, infelizmente uso GALP Frota, pois tenho carro de empresa, mas no meu particular, nem uma gota destas 3 grandes lá entra à muito tempo...

Mas numa acção concertada, não abastecerei nos dias que determinarem na GALP, tentarei boicotar, dentro dos possíveis esta corja de sangue sugas.

Abraços do Beezz

francisco t paiva disse...

Além dos exílios dourados da malta de são bento, há que sustentar as máfias da OPEP, dos EUA, do Irão, da Venezuela, da Rússia, de Angola, entre outros comparsas, cujas "excentricidades" filantrópicas pagamos diariamente.

Depois, há a malta das autoestradas, dos viadutos, das concessões, do Imposto Automóvel,...

A. João Soares disse...

Normalmente sugiro muita reflexão ates de serem tomadas medidas de longo alcance. Mas, agora, neste caso, é preciso fazer qualquer coisa bem visível, porque nada pode piorar, tal é o estado miserável a que isto já chegou.
Estou agora a ouvir que a GALP vai reduzir um cêntimo nos preços de gasolina e gasóleo. Já será efeito da prova de força dos clientes em 1, 2 e 3? Se não for, a atitude dos clientes terá resultados, pelo menos mostra que o povo é capaz de tomar uma atitude concertada.
O povo tem de se unir.
E seria bom que as pessoas combinassem as boleias para não andar uma única pessoa num carro. Entre a casa e o emprego podia haver combinações úteis para ambas as partes.
Abraços
A. João Soares

C Valente disse...

A Galp era nacionalizada, mas tão apetitosa, para tantos politicos e não só, Foi privatizada, a selvejaria
Saudações amigas

Ema Pires disse...

Nao podemos esquecer que tudo isto também o devemos ao "sr." Bush e à sua guerra do Petróleo no Iraque.

A. João Soares disse...

Caro António,
Volto para o felicitar por ter aqui colocado o link do El País.
Não resisti à tentação de o inserir no Do Miradouro, por se coadunar com o conceito de «tachos douraos», (semelhante no título ao «apito dourado») e de pensões milionárias» que tenho vindo a referir. No post referi que fui inspirado pelo link deste blog.
Muito obrigado pela qualidade dos seus posts.
Um abraço
A. João Soares

Zé Povinho disse...

O artigo deve ter escandalizado muita gente, mas o que é verdade é que os pressupostos de muitas privatizações, o da sã concorrência e da baixa de preços aos consumidores dos serviços e produtos, não se verificou, pelo contrário, e a margem de intervenção e fiscalização do Estado já demonstrou ser insuficiente e pouco eficaz.
O poder económico domina o poder político e a promiscuidade entre os dois é mais do que evidente.
Bom domingo
Abraço do Zé

Pastora disse...

Obrigada de novo, por denunciar. Algo temos que fazer e muito podemos conseguir denunciando. Vou difundir o artigo do link por email.

Um abraço

Mile

francisco t paiva disse...

ver
http://vila-do-paul.blogspot.com/2008/05/correio-do-leitor.html

José Lopes disse...

Quem acreditou que as privatizações iriam criar um mercado justo, com preços mais baratos, e que se regulava a si próprio, deve estar desiludido. O liberalismo selvagem, de que os EUA são a grande bandeira, têm uma (várias agora) lei anti trust por alguma razão, e mesmo assim sempre tiveram grandes dificuldades nessa matéria.
Menos estado, melhor estado, apregoavam, mas nunca nos disseram para quem ia ser melhor...
Cumps

Menina do Rio disse...

Essencial como pão e água?
Taí uma boa sugestão; carros movidos a água...Uma turbina no lugar do motor.

Deixo-te um beijo terno deste lado de cá do mar
Tem uma ótima semana

SILÊNCIO CULPADO disse...

António Delgado
Eu bem adiro às iniciativas mas o portuga gosta de apanhar nas lonas.
O boicote saiu fiasco.

Abraço

Lúcia Duarte disse...

sinceramente nao acho que o boicote tenha sido um fiasco. isso é o que dá jeito passar como mensagem na comunicação social.
só quem não conhece os jogos politicos é que não percebe a manipulação.
por exemplo, aqui em alcobaça deu resultado.
tive o cuidado de fazer várias passagens nas bombas e onde vi mais gente foi na cooperativa agricola.
e tambémfoi "oportuno" passar esta mensagem no 2º dia do boicote

francisco t paiva disse...

Para entender as razões de fundo da Golp, ver
http://sol.sapo.pt/blogs/miguelportas/archive/2008/05/31/300-_1820_paus_1920_.aspx#722659

C Valente disse...

Eu não foi meter gasoleo nestes dias , e quando for vou a uma marca branca supermercado Jumbo
Saudações amigas